Se tem crianças, com certeza já ouviu falar da ilustradora Rocio Bonilla. A catalã é a autora de alguns dos maiores sucessos da literatura infantil da última década e meia.

Entre os seus livros mais icónicos (e premiados) estão 'De que cor é um beijinho', 'O que é o Amor, Minimoni?', 'A Montanha de Livros Mais Alta do Mundo' e a coleção 'Bebémoni'.

Recentemente, a ilustradora esteve em Lisboa, onde marcou presença na Feira do Livro. O Notícias ao Minuto aproveitou esta visita para fazer-lhe algumas perguntas sobre os novos livros - 'Uma História de Monstros', 'Bebémoni - Hora do Banho' e 'Bebémoni - Estou Zangada!', editados em Portugal pela Jacarandá - mas não só.

Durante a entrevista, Rocio Bonillla, que tem cerca de 50 livros infantis publicados, traduzidos em mais de 20 idiomas, falou ainda da importância da leitura, dos desafios do mundo da escrita, do contributo dos três filhos para as suas obras e do perigo dos ecrãs.

'Uma História de Monstros' é um dos seus livros mais recentes. O que essa história nos conta?

É a história de dois irmãos gémeos que adoram fazer bolos e costumam ir ao mercado todas as semanas para comprar os ingredientes. No entanto, um dia, descobrem que o mercado guarda um segredo assustador! E precisam investigar para descobrir o que é. É um livro para divertir e gostar de ler. É um pouco assustador, um pouco misterioso, mas também muito humorístico. As minhas personagens são, como sempre, crianças curiosas, ávidas por aprender, que nos convidam a explorar, investigar e ser criativos para encontrar soluções para os problemas. E tudo isso no meio de bolos deliciosos!

Só porque são pequenos não significa que sejam tontos; muito pelo contrário, são um público extremamente exigente

Lançou também recentemente duas novas histórias para bebés protagonizados pela Bebémoni. Como é que essa personagem tão incrível e de sucesso pode ajudar as crianças na hora do banho e quando estão zangadas?

Acho que a Bebémoni, assim como a Minimoni, é uma personagem de sucesso porque as crianças se identificam claramente com ela. Ela é divertida, inteligente e partilha essa lógica única. É por isso que ela se conecta com os leitores mais jovens.

Disse recentemente que uma boa literatura infantil é aquela que não deixa as crianças indiferentes. Que truques utiliza para chegar aos corações dos mais pequenos e falar-lhes de uma forma leve de temas tão importantes como a amizade, o amor, o tédio, bullying e tantas outras emoções?

Acredito completamente que se deve oferecer desafios aos leitores. Só porque são pequenos não significa que sejam tontos; muito pelo contrário, são um público extremamente exigente. Quando me sento para planear um novo livro, tento fazê-lo da perspetiva da pequena Rocío, vendo a vida pelos olhos de uma criança novamente. Preciso rir, divertir-se e emocionar-me. E a criatividade está ligada à brincadeira. Acho que esse é o truque para me ligar a eles, porque o livro, em última análise, oferece um jogo ao leitor, que decide aceitar o desafio se este lhe interessar.

De que forma é que a sua experiência como mãe influencia os seus livros?

Muito, é uma inspiração constante! Eu sempre disse que a realidade supera a ficção [risos].

Lutar contra o tempo de ecrã é muito difícil. No caso do meu pequeno Enric, por exemplo, a banda desenhada aos quadradinhos tem ajudado muito. Este género literário foi subestimado durante muito tempo, mas é igualmente valioso

Já disse que seus filhos são seus maiores fãs, mas também seus maiores críticos. Porquê? Há algum episódio em particular que gostaria de recordar?

Costumo mostrar-lhes o meu trabalho em andamento e cada um tem uma resposta diferente. Blanca, a minha filha do meio, escreve muito bem e traz uma perspetiva complementar. As ilustrações gosto de mostrar ao Enric, o meu filho mais novo. Observar o seu olhar a viajar e esperar a sua reação. Se ele sorrir, estou no caminho certo. Por outro lado, Júlia, a minha mais velha, é quem me impõe limites. Como sou muito perfecionista e às vezes passo dias a retocar uma ilustração, quando lhe pergunto: 'O que achas? Gostas?', ela responde: 'Mãe, há uma altura em que tens de saber dizer basta'. Nesse momento, ela é que parece a mãe! [risos]

Numa era tão digital, nem sempre é fácil levar as crianças a lerem. Que truques usa com os seus filhos?

Essa é uma pergunta complicada... Acho que, antes de mais nada, as crianças devem ver o amor pela leitura em casa. No meu caso, ambos os pais são leitores ávidos, e ainda assim tem sido diferente com cada um dos meus filhos. Lutar contra o tempo de ecrã é muito difícil. No caso do meu pequeno Enric, por exemplo, a banda desenhada aos quadradinhos tem ajudado muito. Este género literário foi subestimado durante muito tempo, mas é igualmente valioso.

Na sua opinão, o que é que os livros oferecem que os ecrãs não?

Os ecrãs dão conteúdo fabricado. Os livros convidam-nos a criar o próprio conteúdo, a imaginar um universo, a ser crítico, a refletir, a voar. Concordo que é muito atraente e tentador ter diversão sem esforço algum, mas, para já, não há nenhum ecrã que nos ofereça a experiência que um livro ilustrado nos dá.

Como é o seu processo criativo? Que mudanças foi sofrendo este processo ao longo dos anos?

Com o tempo, adquirimos experiência, tanto teórica como técnica. O que fazíamos em quatro dias, começámos a fazer em dois. Não podemos é ficar estagnados no que já sabemos fazer, mas desafiar, tentar fazer o que ainda não dominamos. Isto faz com que se aproveite esses quatro dias com a mesma intensidade, mas com um progresso qualitativo.

A Minimoni, inspirada na sua sobrinha, é uma das suas personagens mais carismáticas. Mas há ainda o Lucas, a Greta, a Bebémoni e agora a Telma e o seu irmão gémeo. Tem um carinho especial por algum deles?

Por todos eles de forma igual! Para mim, todos são especiais, como as crianças... Não consigo escolher entre eles!

E já está a pensar no próximo livro? O que nos pode contar sobre ele?

De momento, estou realmente focada na coleção Lucas Kent & Greta Rouge. Acabei de ilustrar o segundo capítulo, que será publicado em Espanha no outono, e já estou a escrever o terceiro e quarto. Há algumas aventuras muito divertidas por vir, tenho certeza de que vão adorar!