
"A minha esperança é que toda a gente aqui use a sua energia para defender a democracia, porque foi uma coisa muito complicada de criar", afirmou na segunda-feira à noite a realizadora, que em 2020 foi nomeada para os Óscares pelo documentário anterior, 'Democracia em Vertigem'.
O novo filme, 'Apocalipse nos Trópicos', explora a forma como o cristianismo evangélico ganhou influência política no Brasil e foi fundamental para a ascensão de Jair Bolsonaro a presidente.
Inclui entrevistas com o atual Presidente, Lula da Silva, com pastores, congressistas e eleitores, e mais notoriamente com Silas Malafaia, amigo pessoal do ex-presidente e pastor evangélico que lidera a Assembleia de Deus Vitória em Cristo.
"O poder divino anda de mão dada com homens ricos que querem destruir o estado por razões pessoais", apontou a realizadora. "Não querem regulação, não querem pagar impostos", continuou. De todas as vezes que a democracia foi derrubada desde a Grécia Antiga, acrescentou, "foi porque os ultra ricos não queriam pagar impostos".
A imposição de uma taxa aduaneira de 50% que o Presidente norte-americano, Donald Trump, anunciou para o Brasil, em retaliação ao processo judicial que Jair Bolsonaro enfrenta, foi um dos tópicos abordados.
"A relação entre Trump e Bolsonaro é de longa data", notou a realizadora, lembrando que Eduardo Bolsonaro, filho do ex-presidente, abandonou o cargo no Congresso e foi viver para os Estados Unidos de forma a fazer pressão a favor do pai.
"Agora vemos os resultados deste lóbi", disse Pedra Costa. "Pensávamos que Trump era um amigo imaginário, mas claramente a amizade é concreta e tem muitas razões, que são parte daquilo que o filme documenta."
A realizadora falou dos paralelos entre os dois países, que parecem ter-se tornado "espelhos" um do outro em termos políticos, incluindo as tentativas de assassínio contra Bolsonaro e Trump e assaltos aos corredores do poder, o Capitólio nos EUA e o Congresso em Brasília.
"Estes governos autoritários gostam uns dos outros, espalham-se como uma pandemia e são muito mais unidos que os governos progressistas pelo mundo fora", indicou.
O evento em Los Angeles também teve a presença da produtora Alessandra Orofino, que afirmou estar preocupada com o que pode acontecer nas eleições presidenciais do próximo ano e os ataques que Petra Costa possa sofrer.
"É preciso muita coragem para se expor desta maneira", considerou. "E há poucas coisas de que pessoas em posições autoritárias receiem mais que um bom artista. Porque os artistas contam as histórias que nos moldam," disse.
Orofino apontou que a relação atual com os Estados Unidos não vai ajudar na situação. "Devemos estar preparados não apenas para um espaço de informação que está muito poluído porque depende de empresas americanas que estão alinhadas com Trump", advertiu. "Mas também para interferência direta desta administração, como já está a acontecer", concluiu.
'Apocalipse nos Trópicos' tem produção da Busca Vida Filmes, Plan B Entertainment (produtora de Brad Pitt), Impact Partners e Play/Action Pictures.