Mario Vargas Llosa morreu no domingo, aos 89 anos, em sua casa, em Lima, onde vivia desde 2022, informaram os filhos nas redes sociais.

A Dom Quixote, chancela do grupo editorial Leya, que publicou grande parte da obra de Vargas Llosa e foi a principal divulgadora em Portugal do nome e do trabalho do escritor, lamentou, em comunicado, o seu desaparecimento, considerando que Vargas Llosa deixa "vários livros que permanecerão para sempre na História da literatura universal" e na memória de todos os seus leitores.

Foi a Dom Quixote que revelou obras como "Conversa n'A Catedral", "A Tia Júlia e o Escrevedor", "As Travessuras da Menina Má", "Os Contos da Peste", "A Festa do Chibo", "A Guerra do Fim do Mundo", "O Falador", "Quem Matou Palomino Molero?" e "História de Mayta", sem esquecer "Duas Solidões", que documenta o diálogo entre García Márquez e Vargas Llosa sobre literatura latino-americana, ocorrido em Lima, em 1967, com testemunhos, entrevistas e um ensaio do escritor peruano sobre o autor colombiano.

São livros que "fazem parte da nossa memória coletiva, porque nos ajudaram, de forma decisiva, a conhecer outros mundos e outras realidades que, sem eles, ficariam ainda mais distantes", destaca a editora.

Classificando-o como um "escritor universal", a Dom Quixote sublinha como, "a partir da complexa realidade peruana", Vargas Llosa "fez parte do chamado 'boom' latino-americano, junto com outros grandes escritores como o colombiano Gabriel García Márquez, o argentino Julio Cortázar e os mexicanos Carlos Fuentes e Juan Rulfo".

Em 2010, a academia sueca atribuiu-lhe o Prémio Nobel da Literatura, um reconhecimento justo, mas que -- na opinião da Dom Quixote -- pecou por tardio.

Foi a partir dessa data que a Quetzal, chancela do grupo Bertrand Circulo, começou a publicar os livros de Mario Vargas Llosa, autor que recorda como "um dos nomes fundamentais do romance e da vida intelectual contemporânea", numa nota de pesar.

"Autor de livros marcantes e influentes do nosso tempo, distribuídos por romance e ensaio, reportagem e conto, Mario Vargas Llosa tornou-se, desde 'A Conversa n'A Catedral' até ao seu derradeiro romance 'Dedico-lhe o Meu Silêncio' (publicado em 2024), uma figura incontornável para os leitores de hoje -- e para os autores que escreveram depois dele".

Além do seu último romance, fazem parte do catálogo da Quetzal os títulos "García Márquez - História de um Deicídio", "Conversas em Princeton", "Tempos Duros", "O Apelo da Tribo", "A Civilização do Espetáculo", "Cinco Esquinas", "O Herói Discreto", "O Sonho do Celta".

A editora lembra que Vargas Llosa se destacou não apenas como autor de romances, "mas também de ensaios tão importantes como 'A Civilização do Espectáculo' ou 'O Apelo da Tribo', que testemunham o compromisso do escritor com o seu tempo e com os combates pelas ideias em que acreditou".

Mario Vargas Llosa fica como o "último representante de uma geração de gigantes da América Latina", um escritor "comprometido com os valores da liberdade, da beleza e da busca incessante de amor, compaixão e verdade", valores que, juntamente com a "luta contra todas as formas de ditadura, de arbitrariedade e de injustiça, constituem o fio condutor da sua obra".

Sobre o seu último romance, "Dedico-lhe o Meu Silêncio", a Quetzal descreve-o como "um derradeiro testemunho significativamente dedicado à música e à busca da beleza", acrescentando que "o seu legado permanecerá para além da vida e da morte" e que, ainda este ano, publicará "O Olhar Imóvel", um ensaio literário de 2022.

Também a Dom Quixote garante que continuará a publicar a obra do escritor peruano, lançando no próximo mês de setembro uma nova edição de "As Travessuras da Menina Má", que já estava anunciada, integrada nas comemorações dos 60 anos da editora.

Em comunicado, hoje divulgado, a Universidade NOVA junta-se ao pesar pela morte de Vargas Llosa, recordando a "honra" que teve de lhe atribuir o título de Doutor Honoris Causa em 2014, enaltecendo-o como um "romancista de referência no panorama literário ibero-americano e mundial", que "marcou de forma incontornável a literatura e o pensamento contemporâneo".

"Autor de uma vasta e influente obra que atravessa géneros e fronteiras -- como escritor, mas também político, jornalista, ensaísta e professor universitário -- Vargas Llosa foi um dos principais escritores de sua geração oferecendo-nos uma visão crítica, informada e sempre provocadora da realidade", escreve a NOVA, recordando a sua passagem pela Universidade e "o legado intelectual que deixa às gerações futuras".

Tendo como principal tema literário a luta pela liberdade individual, na realidade opressiva do Peru, Mario Vargas Llosa iniciou-se na escrita influenciado pelo existencialismo de Jean-Paul Sartre, e a sua fama foi logo projetada com o seu segundo romance, "A cidade e os cães", editado em 1963, a que se somaram outros sucessos como "A Casa Verde" (1966), o monumental "Conversa n'A Catedral" (1969), "A Tia Júlia e o Escrevedor" (1977), A Guerra do Fim do Mundo (1981), "Lituma nos Andes" (1993) e "A Festa do Chibo" (2000).

"A Casa Verde", uma das suas obras de inspiração autobiográfica, revela influências de William Faulkner, e narra a vida das personagens de um bordel, conhecido precisamente como A Casa Verde.

A presença de Vargas Llosa no mercado livreiro português passou também por outras editoras como as Publicações Europa-América ("A Cidade dos Cães") e a Quasi ("Diário do Iraque", "Israel Palestina"). "O Barco das Crianças", para leitores mais novos, foi publicado pela Presença, com tradução do poeta Vasco Gato.

Mario Vargas Llosa nasceu em 1936, em Arequipa, no Peru.

Professor universitário, académico e político, é uma personalidade intelectual de grande vulto e um dos mais importantes escritores da América Latina e do mundo.

Foi galardoado com muitos dos mais destacados prémios literários internacionais, entre eles o Prémio PEN/Nabokov, o Prémio Cervantes, o Prémio Príncipe das Astúrias das Letras e o Prémio Grinzane Cavour, além do Prémio Nobel da Literatura.

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