A segunda crónica A Processar por Catarina Rito traz-nos um ‘recap’ da semana da moda em Lisboa.

E assim aconteceu mais uma edição da ModaLisboa, intitulada “Capital”, nos dias 6 a 9 Março, entre o Pátio da Galé, CAM (Centro de Arte Moderna Gulbenkian) e MUDE. Começo por elogiar a organização, o trabalho de vários profissionais e voluntários que fazem o seu melhor para que tudo decorra como planeado. Vou focar-me nas coleções e em alguns momentos que considero importantes ou interessantes destacar.

Sexta-feira, 7 de Março

A edição começou no CAM, com o desfile de Constança Entrudo, cuja coleção é uma das belas surpresas desta edição. A designer é uma das melhores da sua geração, consistente, objectiva no percurso da marca e da mensagem que quer transmitir ao mundo e ao seu potencial cliente, é de facto merecedora de atenção e reconhecimento por parte do mesmo. E o dia, terminou com o primeiro regresso desta edição, a marca da dupla Alves/Gonçalves, carinhosamente conhecida por “Manéis”. Uma coleção que mostra, quer o talento quer o conceito, sabendo que as propostas apresentadas têm a diversidade de agradar a diferentes estilos, corpos e idades. Parabéns pelo regresso e Parabéns pela demonstração de talento, sabendo que o Manuel Alves já não está entre nós, mas o Manuel Gonçalves mantém vivo o projecto criado há mais de 30 anos.

Sábado, 8 de Março

O dia começou com a coleção de Carlos Gil, tendo a cor e o padrão estado entre os destaques para o próximo Outono-Inverno. A qualidade construtiva, de confecção, nunca deve ser c colocada em causa no trabalho deste designer, num estilo mais clássico e validamente elegante. Sugestões para diversos momentos das mulheres, tendo também sugestões para o consumidor masculino. A linha de acessórios – carteiras, lenços, calçado – esteve em destaque, mas o modelo chinelos com pêlo não foi a escolha acertada. O nome forte do calçado feminino, Luís Onofre, apresentou uma coleção que incluiu alguns dos seus sucessos num design revisitado, através de uma pequena viagem ao início deste século, com botas e botins rasos e de salto, em tons que se conjugam facilmente com diferentes estilos. Não faltaram algumas sugestões de verão, a pensar na mulher que vive ou viaja para climas mais quentes. Lidija Kolovrat é um nome forte da moda nacional, uma profissional que gosta de questionar, aprofundar, provocar, chamar a atenção a tudo o que nos rodeia e aos problemas que, neste caso, assolam as sociedades e a forma como tratam a natureza. Vestidos estruturados, transparências, tecidos fluidos que criam a ilusão de movimento, conforto, para corpos dinâmicos. Os 35 anos de Luís Buchinho são a validação de quem tem talento, de quem cria com sabedoria e não desilude todos os que conhecem e gostam de vestir esta marca. Os cortes estruturados primam na maioria das propostas, em tons que dialogam entre si. Falar de Ricardo Andrez é falar de uma irreverência que casa com o comercial, sem ofender a génese da marca. O percurso deste designer é sustentado pela exploração criativa de quem conhece o estilo streetwear num toque de conceptualidade irreverente. A fechar, o segundo dia de desfiles, um dos nomes que o publico conhece bem, Luís Carvalho. A coleção é validade por peças elegantes, a paleta de cores é perfeita para dias cinzentos do Outono-Inverno 25/26, com destaque para o jumpsuit lilás ou calças amarelas.

Domingo, 9 de Março

No último dia desta edição, o segundo regresso foi o de Nuno Baltazar. A cor preta esteve em destaque, assim como uma mensagem pró-apoio à Ucrânia. O designer não desiludiu e voltou a mostrar porque é um nome incomportável da moda portuguesa. O curto dialogou em sincronia com o comprido, o justo (slim) com o largo (oversize), os detalhes deram o toque acertado para um resultado elegante, mas contemporâneo. Uma das grandes coleções desta edição foi a de Valentim Quaresma, um artista completo que jogou com a roupa e o figurino, a presença quiçá banal de quem “desfila” na rua e o artista que se destaca num palco, aludindo ao fantástico, ao imaginário. A marca Duarte Hajime, de Ana Duarte, é consistente na exploração dos padrões, sempre a falar para quem gosta de vestir roupa que se diferencia, numa atitude despojada e, ao mesmo tempo, consciente da mensagem do estilo streetwear. A cultura nipónica está sempre patente e bem defendida, porque a Ana Duarte está muito consciente, a cada coleção, que o talento é um caminho que se contrói com rigor, qualidade e estratégia. O público feminino jovem é o target do trabalho de Gonçalo Peixoto, dando a cada coleção sugestões que muito apreciam, usando sem receio e pudor. A variedade de peças é criada para vestir em qualquer momento das suas vidas, com muita cor, brilho, decotes, mas também com sugestões mais sóbrias. E a noite terminou com o talentoso Dino Alves. Divertido, atento às tendências mas nunca subjugado às mesmas, provocador q.b., Dino Alves tem uma coleção diversificada nas propostas, criando um jogo de formas e cores.

De destacar o facto de muitos designers que estão na Moda Lisboa terem preocupações de sustentabilidade, recorrendo ao reaproveitamento de materiais e ao recurso de têxteis que não prejudicam o ambiente.

Texto: Catarina Rito; Fotos: Ugo Camera/ModaLisboa