Depois de elevada ao estatuto de biorregião, Idanha-a-Nova será uma das capitais mundiais do bem-estar. Consciente da importância que cada vez mais se dá ao wellness e após duas edições a experimentar a adesão a um encontro guiado pela vontade de reafirmação da comunhão com a natureza, é o que pretende a organização do Being Gathering, que arranca já no dia 17 de junho. Dirigido a um público especialmente preocupado com a saúde e o bem-estar, e que alinha a sensibilidade por estes assuntos com a proteção do ambiente, a terceira edição do evento prolonga-se até dia 23, materializando-se numa fusão dos conceitos wellness, natureza, arte, cultura e música, "em torno de uma experiência de incentivo ao crescimento pessoal através da partilha colectiva".

O SAPO falou com Artur Mendes, um dos codiretores do Boom Festival e do Being Gathering (Codirector Boom Festival / Being Gathering), que explica o conceito distintivo que fará de Idanha-a-Nova a capital mundial do bem-estar, reunindo na Herdade da Granja (mais conhecida como Boomland) um formato mais calmo e menos público do que o festival que ali já tem raízes. Nesta edição, Generosidade é o tema do Being Gathering.

Como é que Idanha se vai transformar numa capital mundial do bem-estar?
Diria que esse é um caminho que já começou há algum tempo, não vai acontecer de repente. Desde que nos implementámos em Idanha, em 2002, que apresentamos eventos onde a componente do bem-estar, do cuidado e de práticas holísticas é central. Se o fazemos para eventos, queremos que isso seja uma prática diária, em instalações que funcionem todo o ano. É um trabalho que temos vindo a fazer porque temos ligação permanente a Idanha. Trabalhamos na Herdade da Granja o ano inteiro: plantamos, reciclamos e desde 2004 que desenvolvemos projetos para nos tornarmos autossustentáveis. Temos duas estações de tratamento de água numa zona de seca estrutural, a qual utilizamos na regeneração ambiental. Numa só palavra: cuidamos da terra.

E não o fazem sozinhos...
É verdade, envolvemos a comunidade neste processo. A Herdade da Granja, onde vai decorrer o Being Gathering e onde também acontece o Boom, tem uma lógica de ano inteiro. Isto é, os festivais concentram numa semana aquilo que defendemos como modo de vida o ano inteiro. O cuidado com a alimentação, o cuidado com o ambiente, a reciclagem, o bem-estar físico e mental. A procura de um estilo de vida mais saudável e inspirar outros a fazerem o mesmo. Queremos continuar a atrair um público que se preocupa com o bem-estar e com a saúde.

As primeiras edições aconteceram em 2015 e 2017. Porque esperaram seis anos para voltar ao Being Gathering?
Houve uma pandemia pelo meio que condicionou tudo. Mas o nosso objetivo nesta edição é consolidar a existência do Being Gathering, reafirmando-o como uma referência mundial em iniciativas da mesma natureza.

Como é que prepararam o recinto para receber mais uma edição do evento?
Temos uma grande experiência e uma equipa fantástica que está há meses a trabalhar nesta edição. Além disso, temos pessoas que estão permanentemente na Herdade da Granja e essa é uma grande vantagem que temos em relação a outros eventos. Não montamos, desmontamos e só voltamos no próximo evento. Não, nós estamos o ano inteiro, cuidamos da herdade, reflorestamos, até uma estação de tratamento de águas residuais construímos. O Being Gathering é uma oportunidade para usufruir do magnífico espaço onde decorre o Boom, mas num formato mais calmo e com menos público, portanto, em total conexão com a natureza.

Como é que se passa um dia típico no Being Gathering? O que mais tem atraído as pessoas?
Os dias no Being Gathering são criativos. É por isso que a nossa programação é tão vasta, com tantas possibilidades, em horas diferentes, com mais de 170 facilitadores, 18 artistas, 78 terapeutas e 27 talks. Tudo isto numa semana, da próxima segunda-feira até domingo. Tem também, como já referi, atividades para os mais novos, o que permite e estimula momentos de partilha em família, em total sintonia.

E de que forma é que esta semana pretende responder às crescentes necessidades de viver melhor que sentem na população?
A fusão dos conceitos de wellness, natureza, arte, cultura e música estão unidos em torno de uma experiência que incentiva o crescimento pessoal através da partilha coletiva. Ou seja, meditação, conversas e debates, yoga e música são os pontos cardeais do Being Gathering. Tudo com facilitadores experientes em cada uma das áreas. Estar aqui é também a oportunidade de passar uma semana ou um par de dias nesta esplêndida herdade e nesta magnífica barragem do interior de Portugal. É uma experiência única, verdadeiramente singular. O mundo melhorou em muitos aspetos, mas também piorou noutros. A violência e a agressividade subiram de tom. Depois da covid, deu-se um regresso muito estranho à realidade. Foi por isso que escolhemos o tema Generosidade para esta edição. A generosidade e o altruísmo contribuem para vivermos todos melhor.

Quantas nacionalidades costumam juntar-se no Boom e agora o que esperam nesta terceira edição do Being Gathering?
Ao Boom vêm pessoas do mundo inteiro, e não estou a exagerar. No ano passado, vieram pessoas de 169 países e territórios. Da Austrália, França, Alemanha, Israel, Sri Lanka, Uzbequistão, Togo, Argentina, Japão e até da Coreia do Norte. O Being Gathering tem outro propósito e outra escala, ainda assim, já temos confirmada a presença de mais de 70 nacionalidades. Pessoas entre os três (temos mais de 200 crianças registadas) e os 74 anos. Porque há atividades para todas as idades: Breathwork, Dança, Fitness, Kids, Artes Marciais, Meditação, Música, Imersão na Natureza, Nutrição, Rituais, Talks, Terapias; yoga.

E que expectativas têm para esta semana?
Esperamos que as pessoas aproveitem estes dias e este momento, que começa na segunda-feira, para se restabelecerem, para descansarem e se divertirem; para se ligarem mais aos outros e à natureza. Há um lado de transformação pessoal, embora seja só um passo e dependa naturalmente de cada pessoa encontrar o seu caminho. Há muita gente que vai para Bali ou Goa ou para outros sítios na Índia à procura de experiências assim. Nós trabalhamos ao longo do ano inteiro nesta semana, tentamos oferecer a melhor experiência possível, mas em Idanha, no interior de Portugal, o que é extraordinário e a  verdade é que muitas pessoas voltam. Penso que esta região tem características únicas e uma atmosfera muito especial, genuína, viva que não está gasta, está preservada e assim continuará a ser. Obviamente, nós respeitamos e cuidamos deste enquadramento natural todos os dias do ano.

Como estão as vendas de bilhetes?
Esperamos alguns milhares de pessoas, mas nada parecido com o que acontece com o Boom, onde são 40 mil. O Being Gathering nem 10% desse número vai ter. Este é um festival intimista. O conceito é outro, a experiência é muito diferente, não tem a música como centralidade, embora sejamos nós os organizadores, o que significa que há uma ligação à terra, à sustentabilidade e ao bem-estar físico e mental que atravessa os dois eventos. Estamos muito entusiasmados. Ainda há bilhetes mas a ideia, como acontece com o Boom, não é encher e esgotar. Podíamos trazer o dobro das pessoas, mas o conceito não é esse, a nossa preocupação não é essa. Estamos, sim, concentrados em oferecer uma experiência recompensadora.