A propagação sistemática de desinformação por parte da direita radical nas redes sociais representa uma ameaça direta à confiança democrática e ao pluralismo político em Portugal. A conclusão consta do relatório final de um projeto de investigação do MediaLab-ISCTE, desenvolvido em parceria com a Comissão Nacional de Eleições (CNE) e a Agência Lusa, que analisou o impacto da desinformação durante a campanha para as eleições legislativas de 18 de maio.

O estudo baseou-se na análise de conteúdos difundidos nas plataformas Facebook, Instagram, X (ex-Twitter), TikTok e YouTube, recorrendo a ferramentas digitais especializadas. Os investigadores identificaram um padrão organizado de desinformação, centrado em temas como imigração, corrupção, segurança e islamização, amplamente disseminados por atores alinhados com a direita radical.

Segundo o relatório, essas narrativas procuram deslegitimar o sistema democrático, apresentando os imigrantes como uma ameaça manipulada, as instituições como capturadas, e os partidos tradicionais — nomeadamente PS, PSD e CDS — como parte de uma encenação fraudulenta da democracia. Esta estratégia de comunicação constrói um discurso polarizado, onde apenas forças ditas “fora do sistema” são apresentadas como legítimas e detentoras da “verdade”.

“A repetição e circulação destes conteúdos durante o período eleitoral promove uma visão binária da política e incentiva à radicalização das opiniões, enfraquecendo o espaço público e minando os pilares da convivência democrática”, lê-se no documento.

Os investigadores destacam ainda que a eficácia deste tipo de desinformação reside na sua combinação de simplificação, emoção e teor conspirativo, o que a torna altamente apelativa e partilhável, em especial entre públicos mais vulneráveis à manipulação mediática.

Coordenado pelo sociólogo Gustavo Cardoso, o projeto contou com uma equipa composta por José Moreno, Inês Narciso, Paulo Couraceiro e João Santos, do MediaLab, e pretendeu aferir os efeitos da desinformação nas escolhas eleitorais e na perceção pública das instituições democráticas.

O relatório conclui que estas campanhas informativas não são apenas episódios isolados, mas sim componentes de uma estratégia que procura fragilizar o debate democrático, introduzindo desconfiança, divisionismo e apatia política junto da opinião pública.

Numa altura em que a confiança nas instituições enfrenta desafios sem precedentes, este estudo lança um alerta sério às autoridades, aos meios de comunicação e à sociedade civil sobre a necessidade urgente de reforçar a literacia mediática, garantir a transparência informativa e proteger o processo democrático de tentativas de manipulação com motivações políticas.