Alandroal, Avis, Mértola, Monsaraz, Moura-Alqueva, Odemira, Ponte de Sor e Sines formam a rede de Estações Náuticas certificadas do Alentejo, um projeto em desenvolvimento há oito anos que tem vindo a ganhar expressão como alternativa de turismo sustentável, ativo e de contacto com a natureza. Através da valorização das praias fluviais, da náutica de recreio, da hotelaria e da identidade local, estes oito destinos propõem-se a ser muito mais do que pontos de passagem: querem ser refúgios climáticos e motores de desenvolvimento económico local.

«Temos procurado, especialmente nos últimos dois anos, valorizar mais este produto do ponto de vista promocional», afirmou José Manuel Santos, presidente da Entidade Regional de Turismo do Alentejo e Ribatejo, lembrando que esta aposta tem por base uma lógica de alargamento da oferta turística e de combate à sazonalidade. «As estações náuticas permitem-nos trabalhar um turismo não de três meses, mas de cinco ou sete meses», referiu.

A iniciativa partiu do Fórum Oceano e do Turismo de Portugal, com um conceito que nasceu em França e que se desenvolveu sobretudo em zonas balneares e interiores da Europa. No Alentejo, o projeto foi adaptado à realidade do território, envolvendo autarquias, associações e operadores turísticos. «Os municípios foram os grandes obreiros desta rede», sublinhou José Manuel Santos, destacando o papel central das autarquias enquanto investidores nas infraestruturas que suportam a atividade turística e náutica.

Turismo à volta da água

No Alentejo, a água tornou-se pretexto para descobrir a terra. Se a vertente náutica — passeios de barco, canoagem, remo, paddle, pesca desportiva — é o elemento central, há uma lógica mais abrangente que liga estas estações a outras áreas de atratividade: o enoturismo, o património cultural, a gastronomia, as caminhadas ou o astroturismo. «A estação náutica não se limita ao que se passa na água», referiu José Santos. «Vive também do entorno do produto».

A prova disso são os números. Em Avis, a albufeira do Maranhão é o epicentro de uma rede de turismo rural e atividades aquáticas que registou em 2024 cerca de 20 mil dormidas, com um crescimento de 8%. Em Monsaraz, o concelho alcançou as 80 mil dormidas e registou um crescimento de 10% no último ano. Moura, com o Centro Náutico do Alqueva e quatro polos distintos, atingiu quase 40 mil dormidas. Montargil, a estação náutica mais recente, está a beneficiar do investimento municipal e da presença do Grupo Aqualuz AP Hotels, que gere uma unidade de cinco estrelas.

Refúgios climáticos e produtos todo o ano

«Estamos a trabalhar para modernizar a oferta e valorizar ainda mais as Estações Náuticas do Alentejo», garantiu o presidente da Entidade Regional de Turismo, acrescentando que, a curto e médio prazo, poderão juntar-se à rede mais três estações: Mourão, Alcácer do Sal e Cuba (Albergaria dos Fusos).

A promoção internacional tem apostado na ideia das estações náuticas enquanto “refúgios climáticos”. Com temperaturas mais amenas junto às zonas de água, o Alentejo propõe-se como alternativa às grandes ondas de calor que afetam a Península Ibérica. «Há spots frescos onde podemos usufruir da água, da natureza e dos serviços turísticos de qualidade», reforçou José Santos.

A par da lógica de produto turístico prolongado no tempo — desde março a outubro — há também uma estratégia de desmistificação da imagem de um Alentejo apenas seco e quente. «Temos aqui um turismo ativo e de experiências que pode ser vivido fora da época alta», afirmou o responsável, recordando que «a observação de estrelas, por exemplo, não é exclusiva do Alqueva, pode crescer para outras latitudes».

Um projeto com futuro

«Estamos numa fase de amadurecimento da rede», garantiu José Manuel Santos. «Aquilo que há 30 anos seria visto como futurologia, é hoje uma realidade estruturada que está a contribuir para o desenvolvimento do turismo e da economia do território».

A rede de Estações Náuticas do Alentejo afirma-se, assim, como uma resposta integrada aos desafios da interioridade, da sustentabilidade e da valorização do património hídrico e cultural. Uma nova forma de viver o Alentejo — com os pés na água.