
O Norte do país regista a mais elevada taxa de pobreza entre os trabalhadores, segundo dados recentes do Observatório Nacional de Luta contra a Pobreza. Apesar de a Península de Setúbal liderar a nível nacional nos indicadores globais de pobreza monetária (21,8%), é nas regiões do Norte que o fenómeno da pobreza laboral assume contornos mais preocupantes, afetando milhares de portugueses que, mesmo com trabalho, vivem abaixo do limiar de pobreza.
Elizabeth Santos, investigadora do Observatório, aponta para zonas como Trás-os-Montes, Douro, Alto Tâmega e Barroso, onde os dados recolhidos através do Instituto Nacional de Estatística (INE) e do Inquérito às Condições de Vida e Rendimento (ICOR) revelam uma vulnerabilidade social crescente. Estas regiões, com menor densidade populacional e acesso limitado a oportunidades económicas, enfrentam uma realidade onde o emprego não é sinónimo de dignidade nem de sustento suficiente.
Segundo a análise, a pobreza entre trabalhadores no Norte ultrapassa o peso da pobreza registada em regiões como Setúbal, onde o fenómeno é mais associado ao desemprego estrutural ou à precariedade urbana. Neste retrato nacional, as Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira continuam a apresentar os valores mais elevados de pobreza geral, com 28,4% e 22,9% respetivamente, mas a dignidade dos trabalhadores ativos está mais ameaçada nas regiões do interior norte do continente.
A investigadora alerta para a urgência de políticas públicas mais ajustadas às especificidades territoriais e denuncia a ausência de medidas eficazes que combatam a pobreza laboral, sobretudo em regiões onde a economia é frágil e o envelhecimento da população agrava os desafios.
“Trabalhar não protege contra a pobreza”, afirma Elizabeth Santos, sublinhando a necessidade de um novo olhar sobre os indicadores de bem-estar, que ultrapasse as médias nacionais e considere a realidade desigual dos territórios. A taxa de pobreza monetária de 21,8% em Setúbal é o ponto de referência mais elevado no continente, mas regiões inteiras no Norte já estão em linha para ultrapassar esse limiar.
Este cenário, sustentado em dados oficiais e estudos recentes, lança um alerta nacional sobre a eficácia do atual modelo económico e social, ao mesmo tempo que expõe as fragilidades da coesão territorial.