A Santa Casa da Misericórdia de Benavente vai cessar, a partir de 31 de julho de 2025, a prestação de serviços médicos no Serviço de Atendimento Permanente (SAP) do Centro de Saúde de Benavente, uma função que tem vindo a assegurar há vários anos em parceria com o Serviço Nacional de Saúde (SNS). A decisão de terminar a colaboração foi tomada de forma unilateral pela Unidade Local de Saúde (ULS) do Estuário do Tejo, o que deixou a direção da Misericórdia surpreendida e preocupada com o futuro dos cuidados de saúde no concelho.

A informação foi avançada ao NS pelo Provedor da instituição, Domingos Santos, durante a Feira da Saúde, onde fez questão de sublinhar a longa tradição da Misericórdia na prestação de cuidados de saúde à população. “Há muitos anos que somos parceiros do SNS, assegurando médicos 24 horas por dia, sete dias por semana, e colocando auxiliares de ação médica em serviço durante as noites, fins de semana e feriados. Sempre estivemos presentes, sempre fomos parte da solução”, afirmou.

Segundo Domingos Santos, este afastamento acontece “por razões que nos ultrapassam” e rompe com uma parceria sólida e contínua. “Servimos para complementar a resposta pública, sobretudo numa altura em que a carência de profissionais de saúde é evidente. E agora, sem qualquer diálogo, fomos excluídos”, lamentou.

A decisão surge num momento particularmente sensível para o concelho de Benavente, que enfrenta há anos uma escassez de médicos de família. “A não existência de médicos de família e o facto de muitos se terem aposentado levou à criação do projeto Bata Branca, que é mais uma forma da Misericórdia dar resposta à população”, explicou o provedor.

O projeto Bata Branca, em vigor até 31 de dezembro de 2025, permite, através de um protocolo com a ULS do Estuário do Tejo, que a Misericórdia continue a garantir a presença de médicos no Centro de Saúde de Benavente e no Polo de Santo Estêvão. Esta resposta só foi possível graças ao envolvimento da Câmara Municipal de Benavente, que assumiu parte dos encargos financeiros, permitindo a contratação de profissionais a valores superiores aos praticados pelo SNS. “A Câmara tem cumprido religiosamente o compromisso assumido, permitindo-nos oferecer um serviço que de outra forma não existiria”, destacou.

Apesar desta continuidade no projeto Bata Branca, a saída do SAP representa, segundo Domingos Santos, um retrocesso preocupante. “Vamos cumprir o protocolo até ao último dia, mas lamento profundamente que, a partir de agosto, a Misericórdia deixe de estar envolvida num serviço fundamental como o Atendimento Permanente. Não sabemos como será assegurado esse serviço, apenas que passará a ser gerido diretamente pela ULS”, referiu.

O provedor garantiu que a instituição manterá o seu compromisso com a comunidade e continuará a responder sempre que for chamada a intervir. “A Misericórdia de Benavente esteve sempre na linha da frente da resposta social e da saúde. Foi, é e continuará a ser parte da solução. Mas não podemos deixar de manifestar a nossa preocupação com a forma como este processo foi conduzido e com o impacto que poderá ter na qualidade dos cuidados prestados à população.”

O NS contactou a ULS do Estuário do Tejo, para a obtenção dos esclarecimentos sobre a nova gestão do SAP do Centro de Saúde de Benavente, não tendo até à publicação da notícia recebido qualquer declaração da entidade.