
A Universidade de Évora atribuiu, esta terça-feira, 20 de maio, o grau de Doutor Honoris Causa a José Roquette, empresário com ligação ao Alentejo e fundador da SEDES – Associação para o Desenvolvimento Económico e Social. A cerimónia decorreu na Sala dos Actos do Colégio do Espírito Santo.
A distinção foi proposta por um grupo de docentes da academia e aprovada pela Reitoria como reconhecimento do percurso cívico e empresarial de José Roquette, bem como da sua colaboração com a instituição e do impacto no desenvolvimento da região alentejana.
A Reitora da Universidade de Évora, Hermínia Vilar, destacou que este título resulta do reconhecimento «de um trajeto do percurso de investimento aqui no Alentejo, iniciado há muitos anos atrás», mas também de um compromisso com o país: «É também uma homenagem a um percurso cívico de intervenção cívica e que, no fundo, até pela ligação ao Alentejo, mais não fosse que merecia esta homenagem».
Referindo-se ao discurso proferido por José Roquette, Hermínia Vilar sublinhou que «nos fez uma revisão do mundo nas últimas décadas», destacando a clareza da visão geopolítica e o alerta deixado: «Sabemos que o equilíbrio mundial não é fácil, mas há uma responsabilidade de cada um de nós nessa construção». A Reitora afirmou ainda que «não é por acaso que os governos autocráticos começam por pôr em causa as instituições e as universidades», defendendo que estas devem ser protegidas e reforçadas.
Já José Roquette afirmou que o doutoramento representa «mais responsabilidade do que propriamente qualquer coisa do tipo de distinção», explicando que se sente «parte integrante de uma academia que tem uma história de muitos séculos e que ainda tem, sem qualquer dúvida, uma função e uma missão muito fundamental nos tempos tão complexos e difíceis como aqueles que temos que enfrentar».
Sublinhando a importância da Universidade de Évora para o desenvolvimento do território, Roquette lamentou que o interior do país continue a ser desvalorizado: «É fundamental que seja considerado em termos de um objetivo nacional para todos, não é só para os alentejanos». Defendeu, por isso, uma alteração da Constituição que permita «andar mais rapidamente na direção de uma autêntica descentralização que integre os portugueses todos num sentido mais objetivo de nação».
Questionado sobre se esperava esta distinção, respondeu que «não se pede, não se deseja, não se agradece», citando o escritor Guimarães Rosa, e acrescentando que a homenagem «não é estranha face à colaboração de muitos anos com a Universidade de Évora».
José Roquette alertou ainda para os desafios atuais, afirmando que «é necessário alguma resiliência em termos daqueles que de facto acreditam que a democracia é o regime político», e acrescentando que «não são as instituições por si só que garantem os princípios democráticos, mas sim as pessoas que nelas estão e que acreditam».
O empresário reiterou ainda a necessidade de reforçar o papel das universidades como bastiões da liberdade e do pensamento crítico: «As instituições de ensino superior têm de ser um espaço de defesa da democracia e da liberdade. É por isso que são sempre as primeiras a serem atacadas por regimes autocráticos».
Além da sua atividade empresarial, José Roquette presidiu ao Sporting Clube de Portugal em 1996, tendo promovido a criação da primeira Sociedade Anónima Desportiva (SAD) no país e idealizado o novo Estádio José Alvalade e a Academia de Alcochete. No Alentejo, destacou-se pela liderança da Herdade do Esporão e pela colaboração em projetos de investigação com a Universidade de Évora nas áreas da vitivinicultura, olival, azeite, gestão e economia. Foi também um dos principais apoiantes do projeto de Alqueva.
Atualmente, José Roquette é presidente da Assembleia Geral da SEDES e lidera o núcleo regional do Alentejo da mesma associação.