
A IBM anunciou esta semana um ambicioso projeto que poderá marcar o ponto de viragem definitivo na computação quântica: a construção do IBM Quantum Starling, o primeiro computador quântico do mundo de grande escala e tolerante a falhas, com conclusão prevista para 2029. A infraestrutura será instalada num novo centro de dados IBM Quantum em Poughkeepsie, Nova Iorque, e promete realizar até 20.000 vezes mais operações do que os sistemas quânticos atuais.
Este anúncio coloca a tecnológica norte-americana na vanguarda da corrida quântica global, ao apresentar um caminho claro, tecnicamente viável e modular para alcançar uma computação quântica prática, escalável e aplicável a desafios reais em áreas como química, descoberta de materiais, otimização industrial e desenvolvimento farmacêutico.
“A IBM está a traçar a próxima fronteira da computação quântica”, afirmou Arvind Krishna, CEO da IBM, sublinhando que a nova arquitetura alia avanços em matemática, física e engenharia com um objetivo prático: construir sistemas capazes de executar algoritmos complexos sem falhas, superando os limites atuais das tecnologias de correção de erros.
Da teoria à prática: uma arquitetura com qubits lógicos e códigos qLDPC
No centro do plano está o conceito de qubit lógico — uma unidade computacional quântica formada por vários qubits físicos que trabalham em conjunto para detetar e corrigir erros. Estes qubits lógicos serão gerados com base em códigos quânticos de verificação de baixa densidade (qLDPC), uma tecnologia que reduz significativamente o número de qubits físicos necessários para obter tolerância a falhas, diminuindo a sobrecarga de hardware em cerca de 90%.
A IBM afirma que o Starling, ao atingir os 200 qubits lógicos, poderá executar 100 milhões de operações quânticas, constituindo a base tecnológica para o futuro IBM Quantum Blue Jay, projetado para ultrapassar 2.000 qubits lógicos e mil milhões de operações.
Até agora, nenhuma empresa ou instituição tinha apresentado um roadmap viável para atingir esta escala sem depender de requisitos técnicos considerados impraticáveis. Os avanços revelados esta semana — documentados em dois artigos técnicos — definem com clareza como a IBM pretende resolver os principais obstáculos à execução confiável e eficiente de algoritmos quânticos em larga escala.
Perspetivas para o mercado
O impacto esperado é significativo. Um computador quântico tolerante a falhas poderá executar tarefas que hoje são impraticáveis mesmo nos supercomputadores mais avançados, abrindo novas oportunidades para as indústrias de energia, logística, finanças, biotecnologia e muitas outras.
Ao anunciar um caminho concreto para a superação das atuais limitações tecnológicas, a IBM não apenas reforça a sua posição de liderança no setor, como acelera a maturidade da computação quântica enquanto ferramenta económica e científica de próxima geração.
O investimento na construção do centro de dados e no desenvolvimento da arquitetura modular reforça ainda a aposta da empresa em transformar a investigação fundamental em capacidades computacionais tangíveis — uma abordagem que poderá colocar a computação quântica no centro da transformação digital da próxima década.