
Num momento em que a Europa se debate com a redefinição da sua autonomia estratégica e militar, a Indra posiciona-se como um dos raros players capazes de oferecer uma abordagem verdadeiramente holística. “Somos uma empresa essencial para a defesa europeia”, afirma Ángel Escribano, presidente executivo da Indra Group. Pode soar a chavão institucional — mas os sistemas apresentados em Paris dão-lhe razão.
O stand da Indra é uma espécie de laboratório avançado onde convergem sensores, radares, satélites, telescópios e sistemas de comando e controlo que em conjunto prometem uma coisa só: superioridade multidomínio. Uma buzzword cada vez mais recorrente em geopolítica e defesa, mas que aqui ganha expressão concreta.
Na sala imersiva que a empresa montou na exposição estática, é possível experimentar virtualmente o funcionamento de sistemas como o COAAAS, que orquestra a defesa antiaérea com precisão milimétrica, ou o AIRDEF, um dos centros de comando mais sofisticados da Europa. Mas é no ECYSAP, o sistema de consciência situacional cibernética, que a narrativa se torna verdadeiramente contemporânea: o ciberespaço é hoje um teatro de operações como qualquer outro, e a Indra quer comandá-lo.
Radars on wheels, satélites com músculos
Entre os destaques do hardware está o MTR-10, um radar tático multifunções montado num camião de alta mobilidade. Parece algo saído de um videojogo militar futurista — e em certa medida é. Capaz de identificar ameaças aéreas e de superfície, responder a ataques de artilharia e operar em rede, o MTR-10 é um lembrete de que o campo de batalha moderno é fluido, móvel e cada vez mais algorítmico.
Mas não é só no radar que a Indra quer ditar as regras. O Mini4EO, o novo satélite de observação terrestre, vem equipado com múltiplos sensores e assume-se como um ativo valioso para monitorizar fronteiras, zonas remotas ou atividades ilegais. É, nas palavras do próprio grupo, um “satélite táctico”. A Indra está claramente a fazer uma aposta em sistemas de constelação leve, ágeis, rápidos de lançar e fáceis de escalar.
A ambição espacial ganhou ainda mais tração com a criação da Indra Space, nova subsidiária que pretende posicionar-se como um dos pilares da indústria espacial europeia. Aqui, o foco não está apenas na construção de satélites — mas no domínio completo da cadeia de valor: desde a operação a partir de terra até à criação de infraestruturas de comunicações ultrasseguras e sistemas de vigilância orbital.
Não é por acaso que a empresa lidera o desenvolvimento de radares de deteção de objetos no espaço, já entregues à Força Aérea de Espanha e em produção para a Luftwaffe. Estes sistemas, quando combinados com telescópios de última geração, conseguem acompanhar órbitas altas e proteger ativos espaciais de detritos, colisões ou… ataques hostis.
Da terra ao espaço, e de volta aos veículos blindados
Curiosamente, a expansão da Indra não se limita ao ar ou ao espaço. Está também em curso a criação da Indra Land Vehicles, uma nova empresa dedicada à produção de veículos militares e carros de combate. Ou seja, o grupo está a tornar-se uma potência transversal na defesa: terra, ar, espaço e ciberespaço, com uma abordagem sistémica rara no ecossistema europeu.
E há mais: a empresa lidera, ao lado da Airbus e Dassault, o desenvolvimento do Sistema de Combate Aéreo do Futuro (NGWS/FCAS), uma iniciativa que pretende reescrever os padrões da aviação de combate nos próximos 20 anos. O presente da Indra já parece o futuro de muitos — mas o seu futuro pode moldar a própria geopolítica da Europa.
Numa era de tensões crescentes, conflitos híbridos e novas ameaças orbitais, a Indra posiciona-se como fornecedora de soberania tecnológica. E isso muda o jogo. A empresa não vende apenas radares ou satélites — oferece confiança operacional em domínios onde essa confiança está cada vez mais ameaçada.
O Paris Air Show serviu como montra, sim — mas também como palco estratégico. E, desta vez, o protagonismo foi hispânico. A Indra mostrou que não basta ver o futuro: é preciso desenhá-lo.