
A Colt, a Nokia e a Honeywell anunciaram esta segunda-feira uma parceria estratégica com vista a testar soluções de criptografia quântica seguras via satélite, antecipando o risco crescente que a computação quântica representa para os atuais métodos de proteção de dados. A colaboração visa desenvolver infraestruturas resilientes que protejam as redes digitais contra ameaças emergentes — num cenário em que os sistemas criptográficos tradicionais poderão tornar-se obsoletos.
Com a chegada iminente de computadores quânticos capazes de quebrar algoritmos de encriptação convencionais, empresas com responsabilidades sobre grandes volumes de dados sensíveis — como bancos, instituições de saúde, farmacêuticas e governos — enfrentam um desafio sem precedentes em matéria de cibersegurança. O novo projeto procura mitigar esse risco através da utilização de tecnologias de distribuição de chaves quânticas (QKD), com recurso a satélites em órbita terrestre baixa e redes submarinas.
“A paixão e determinação partilhadas pela Colt, pela Honeywell e pela Nokia em ultrapassar os limites da tecnologia para proteger os nossos clientes foi determinante para esta colaboração”, afirmou em comunicado Buddy Bayer, Chief Operating Officer da Colt. “Estamos a trabalhar hoje nas ameaças que só se materializarão amanhã.”
Os métodos atuais de encriptação assentam em cálculos matemáticos complexos, difíceis de resolver por computadores clássicos. Porém, os avanços na computação quântica prometem acelerar exponencialmente esse processo, abrindo caminho a possíveis quebras de segurança massivas em redes que hoje consideramos seguras.
A QKD apresenta-se como uma resposta viável. Contudo, a sua aplicação em ambientes terrestres está limitada a distâncias na ordem dos 100 quilómetros, devido a restrições físicas inerentes à transmissão quântica. É aqui que entram os satélites: ao levarem estas comunicações para o espaço, a Colt, a Nokia e a Honeywell esperam desbloquear comunicações seguras à escala global, incluindo comunicações transatlânticas.
“A computação quântica representa uma promessa transformadora, mas também uma ameaça concreta à segurança das redes”, sublinhou em comunicado James Watt, Vice-Presidente da Nokia responsável pelas redes óticas. “Esta colaboração mostra como as tecnologias espaciais podem ser aliadas cruciais na proteção de dados sensíveis.”
A iniciativa surge na sequência do projeto piloto anunciado pela Colt em março, centrado em redes terrestres resistentes a ataques quânticos. O novo esforço amplia agora esse alcance, posicionando-se como uma das primeiras iniciativas empresariais a integrar criptografia quântica em arquitetura de rede baseada no espaço.
A Honeywell, com décadas de experiência no setor aeroespacial, é um dos pilares da operação. A empresa tem participado em projetos de vanguarda como as missões QEYSSat e QKDSat — programas canadenses e europeus focados na distribuição de chaves quânticas a partir do espaço.
“Esta colaboração representa um passo decisivo na proteção do futuro dos dados críticos”, afirmou em comunicado, Lisa Napolitano, Vice-Presidente e responsável pelo segmento espacial da Honeywell Aerospace Technologies. “Estamos a desenhar soluções que não apenas aumentam a resiliência dos sistemas atuais, mas que garantem segurança a longo prazo para infraestruturas críticas.”
Antes do arranque dos testes, as três empresas elaboraram um white paper conjunto — intitulado The Journey to Quantum-Safe Networking — onde delineiam os riscos e as oportunidades que se desenham na era da criptografia quântica. O documento está disponível publicamente e visa fornecer um enquadramento técnico e estratégico para empresas que pretendam preparar-se para o impacto da tecnologia quântica nas suas operações.
A aposta da Colt, da Nokia e da Honeywell sinaliza um novo capítulo na evolução das redes globais, onde a segurança já não é apenas uma questão de encriptação forte, mas sim de resiliência face a um novo tipo de ameaça. A computação quântica traz consigo uma promessa de transformação — mas também um aviso: quem não se preparar, arrisca-se a ser deixado para trás.