
A conclusão é do mais recente estudo da IDC, “Quality at Scale: Excellence in an App Centric World, 2025–2026 Edition”, promovido pela consultora tecnológica Noesis. O documento expõe um retrato preocupante, mas não surpreendente: grande parte das empresas continua presa a práticas obsoletas, com défices estruturais que comprometem a agilidade, a inovação e a capacidade de adaptação num ambiente empresarial em permanente mutação.
A análise baseia-se nas respostas de mais de 700 organizações da região EMEA e revela um panorama de maturidade tecnológica desigual. Um terço das empresas admite estar consideravelmente atrasado na adoção de práticas de engenharia modernas, enquanto a maioria ainda opera com um conjunto de problemas familiares: backlog acumulado, dívida técnica elevada e escassez de talento especializado.
Estes entraves têm consequências diretas: 64% das organizações demoram até três semanas para executar alterações simples nos processos de negócio. E se a tecnologia deveria ser motor de inovação, os números sugerem o contrário: apenas 37% do tempo das equipas de desenvolvimento é efetivamente dedicado à criação de novas funcionalidades. O restante é absorvido por tarefas repetitivas, integração de ferramentas e correção de erros — um ciclo que reduz a capacidade de resposta e trava o progresso.
Apesar do cenário de atraso generalizado, há sinais de que a mudança é possível — e benéfica. A Canon Europe surge como exemplo paradigmático de transformação bem-sucedida. A empresa consolidou o seu ecossistema de aplicações e implementou um sistema de gestão de qualidade, alcançando ganhos expressivos na fiabilidade dos dados e na redução da dívida técnica. Mais importante: cultivou uma cultura interna orientada para a qualidade, demonstrando que a mudança é tão organizacional quanto tecnológica.
Também em Portugal, uma instituição financeira de referência modernizou a sua abordagem ao desenvolvimento aplicacional através de platform engineering, criando uma infraestrutura modular e escalável. O resultado? Aplicações críticas entregues com maior previsibilidade, em menos tempo e com menor risco.
Ainda assim, os dados revelam que os casos de sucesso são exceção, não regra. Apenas 9% das empresas inquiridas afirmam ter capacidades unificadas de engenharia de aplicações — um sinal claro de que os silos funcionais e a falta de integração continuam a travar a eficiência.
A IDC identifica três pilares fundamentais para ultrapassar este bloqueio: integração de práticas DevOps, automação contínua e platform engineering. Mas a sua adoção está longe de ser massiva. 63% das organizações continuam com baixos níveis de automação nos seus pipelines, e menos de 40% aplicam práticas de Continuous Delivery de forma consistente. O custo desta estagnação é pago diariamente: mais complexidade, mais erros, menos inovação.
É aqui que a Inteligência Artificial Generativa se afirma como uma alavanca crítica. De acordo com o estudo, a maioria das organizações já iniciou ou planeia iniciar a integração de GenAI em áreas-chave como testes, documentação técnica, automação de pipelines e modernização de código. A promessa da IA não está apenas na automação: está na incorporação nativa da qualidade em todas as etapas do ciclo de desenvolvimento.
“A automação e a Inteligência Artificial são, hoje, mais do que nunca, elementos essenciais para acelerar a transformação digital, pois não só impulsionam a produtividade, como também garantem a integração da qualidade em todas as etapas da entrega de software”, afirma Eduardo Amaral, Senior Director de Quality Management, DevOps & Automation da Noesis.
As prioridades para o próximo ano são claras: integração de ferramentas, orquestração de lançamentos, observabilidade, segurança incorporada e automação de testes. O objetivo? Libertar as equipas do peso das tarefas repetitivas, acelerar os ciclos de desenvolvimento e, acima de tudo, criar uma base tecnológica sólida que permita competir globalmente.
A pergunta que se impõe não é se as empresas devem agir — mas se o conseguirão fazer a tempo. Numa economia guiada pelo digital, a qualidade do software deixou de ser uma vantagem competitiva. É, cada vez mais, uma condição de sobrevivência.