
Tesouro desta região minhota, o vinho Alvarinho é o combustível para a festa que reúne anualmente mais de 100 mil pessoas nas margens do rio Minho. De 3 a 6 de julho, a Feira do Alvarinho de Monção acrescenta ao icónico vinho local, representado por 39 stands de produtores locais, a cozinha popular, servida em tasquinhas, mas também passeios com o rio Minho como companhia, lendas de resistência que remontam ao século XIV, um palácio de conto de fadas e música contemporânea a animar aquela que é descrita como a “maior wine party de Portugal”.
Aromático, com nuances de fruta tropical e leve, o Alvarinho bebe-se bem sozinho mas conquista renovadas facetas quando acompanha a rica gastronomia local. E em Monção a receita emblemática não podia ser mais brejeira: à Foda à moda de Monção, que consiste num carneiro assado lentamente em forno a lenha, acrescentam-se outros pratos regionais populares, como o Bacalhau à Monção, o Costeletão à Solar de São Pedro e o Cabrito Regional. Estão à prova em 21 tasquinhas, que também servem doçaria regional, como as típicas Roscas de Monção.
A animação musical é garantida durante os quatro dias do evento, com destaque para artistas como Rui Veloso, que sobe ao palco dia 3, e Daniela Mercury, que atua a 6 de julho, ambos pelas 21h30. Bailaricos com música popular e um espaço dedicado às crianças, o Alvarinho Kids, animado por música, dança, oficinas, jogos temáticos, atividades e muitas brincadeiras são outros destaques da programação.
A partir do evento, que decorre entre 3 e 6 de julho, no anfiteatro natural do Parque das Caldas, junto ao rio Minho, parta à descoberta das lendas, tradições e pontos de paragem obrigatória da vila minhota e raiana.
Muralhas panorâmicas e lendas guerreiras
Monumento Nacional desde 1910, as muralhas de Monção situam-se na orla ribeirinha do rio Minho, erguendo-se do outro lado, já na Galiza, o Forte de Salvaterra. Siga o perímetro desfrutando da panorâmica sobre o rio e sobre a zona ribeirinha. Erguida em 1306, por Dom Dinis, a fortificação nasceu da prolongada guerra com Castela, que justificaram a construção de um castelo com uma torre de menagem e uma cerca amuralhada em redor da vila. Mais tarde, durante as Guerras da Restauração, a cerca medieval e o castelo deram lugar a uma fortificação do tipo Vauban. Atualmente, pouco resta do primitivo castelo, sendo apenas visível um troço, junto ao passeio dos Néris. Faça uma viagem no tempo em 4 D pela Rota dos castros, numa das casamatas da Porta do Rosal, um dos principais acessos ao núcleo amuralhado da vila de Monção, ao período castrejo. Através de novas tecnologias, parte-se à descoberta dos povoados existentes em Monção e outros municípios do Alto Minho.
Passe pelas conservadas Porta de Salvaterra e a Porta do Rosal e, no mesmo contexto histórico, admire, no Largo do Loreto, a estátua de Dainade, e o brasão de Deu-la-Deu Martins, perguntando pela história da heroína local. Esculpida por João Cutileiro, outra escultura representa a lendária figura de Deu-la-Deu Martins, heroína local, debruçada sobre o Rio Minho protegendo o seu povo.
Esposa do capitão-mor Vasco Gomes de Abreu, teve engenho e coragem para defender o povo e assegurar um lugar na história. Durante as Guerras Fernandinas, num cerco de Castela à vila de Monção, a fome instalava-se. Quando já escasseava o pão para os soldados, a heroína decidiu mandar amassar e cozer pão, atirando-o para fora das muralhas ao encontro do inimigo e assim fingindo abundância de alimento na vila. Iludidos e cansados, os inimigos acabaram por levantar o cerco.
Vinho, memória e poesia
Localizado na Casa do Curro, o Museu do Alvarinho proporciona uma viagem pelo mundo do Vinho Alvarinho, disponibilizando provas e informação interativa sobre a origem, evolução e empresas dedicadas à produção deste néctar. Já no Museu Monção & Memórias, situado na rua da Independência, conta-se a história da gente e do território ao longo dos séculos. Destaca-se a “Monção no Feminino”, uma área onde é sublinhado o papel da mulher na criação e desenvolvimento do município.
Ainda no coração da vila, um Painel de Azulejos de João Verde recorda o poeta natural da terra e autor de "A Galiza mai`lo Minho", que aborda o "namoro" entre os habitantes da raia e a dificuldade de "casamento", devido ao sistema político vigente nos dois países. Em frente, situa-se o busto do escritor e, nas imediações, o Miradouro dos Néris. Passe ainda pela Igreja Matriz, templo românico do século XIII onde pode visitar as capelas em memória de Deu-la-Deu Martinsve de Dom Vasco Marinho, secretário e confessor do Papa Leão X.
Um palácio de conto de fadas
Mandado erigir em 1806 por Luís Pereira Velho de Moscoso, fidalgo de Monção, o edifício, em estilo neoclássico, demorou 28 anos a construir e foi terminado pelo filho, Simão, que não deixou descendência. Só no final do século XIX, com a construção da estrada nacional, o Palácio da Brejoeira (tel. 251666129) ganha a entrada atual. Adquirido por Pedro Araújo, diretor da Câmara de Comércio do Porto, em 1901, conhece nessa época as maiores transformações. Anos mais tarde, uma jovem apaixona-se pela exuberância do edifício, e, quando completa 18 anos, o pai oferece-lho. Hermínia Paes não só habitou esta imensa casa, rodeada de denso bosque, vinhas e jardins, como tomou as rédeas da propriedade e fez desta o berço de um emblemático vinho verde.
A primeira colheita do Palácio da Brejoeira, da casta Alvarinho, data de 1976. O momento da prova é, aliás, um dos favoritos dos visitantes, “surpreendidos pela suavidade” do néctar, explica Angélica Teixeira, que aqui trabalha como guia desde 2010. Outro motivo de espanto é o teatrinho que existe no piso térreo. “Ninguém está à espera de encontrar algo assim tão longe das grandes cidades”, refere. Na Sala do Rei, atente ao retrato de D. João VI, que parece seguir-nos com o olhar... e com o pé. Aqui reuniram-se, em 1950, Salazar e Franco.
Miradouros, passeios e cascatas
Nos arredores de Monção exploram-se passadiços e caminhos rodeados de água e paisagem verde, com paragens contemplativas em miradouros panorâmicos.
Recomenda-se visita ao Miradouro da Senhora da Pedra, em Troviscoso, ao Miradouro do Coto de Crasto, em Cambeses, ou ao Alto da Cotorinha, antiga eira comunitária com uma panorâmica magnifica sobre a freguesia de Lara. Na tranquilidade de Santo António de Vale de Poldros, apreciam-se as vistas a partir do ponto mais alto do concelho. Também nas alturas descobre-se a panorâmica oferecida pela Penha da Rainha ou a verdejante Serra da Anta, onde é possível apreciar cavalos e o gado em plena liberdade.
Conduzindo à cascata, o PR6 MNC – Trilho da Cascata do Fojo acompanha o ribeiro de Lara até alcançar a refrescante cascata. Para um acesso mais direto, a partir da localidade de Forno, aceda aos Passadiços da Cascata do Fojo, com rampas, plataformas e escadas, com extensão aproximada de 350 metros.
Para relaxar, escolha uma das diversas zonas de lazer que convidam a banhos refrescantes. A Zona de Lazer de Pinheiros é a única classificada como praia fluvial. Junto a este espaço verde, passa um pequeno ribeiro, poderá usufruir de várias infraestruturas de apoio, como campo de futebol, balneários, parque infantil e um espaço para piqueniques com mesas e bancos.
Relaxamento ainda mais profundo está ao alcance de uma curta viagem até às Termas de Monção (Tel. 251648367) Dotadas de Piscina dinâmica, jacuzzi, piscina com camas de borbulhas, área de contrastes e vapor, como
banho turco, terma romana ou camas biotérmicas, as águas termais estão especialmente indicadas para o tratamento de patologias respiratórias e osteoarticulares. As águas hipertermias, que brotam a cerca de 50 graus, hipossalinas, sulfúricas, sódicas, litinadas, fluoretadas e com pH de 7.4, possuem também propriedades anti-inflamatórias.
Do Caminho dos Mortos à Cova da Moura
Em conjunto com a Ecopista do Rio Minho, percurso verde com mais de 20 km entre Monção e Valença, onde é possível caminhar ou pedalar em sintonia com a natureza, pode optar por diversos trilhos pedestres, em diferentes locais e com variados níveis de dificuldade. Habitualmente, os percursos seguem áreas ribeirinhas e zonas de montanha. O passeio tanto pode ser acompanhado por um curso de água, ladeado por pedra, moinhos ou mamoas.
A ecopista foi a primeira, em Portugal, a aproveitar linhas férreas desativadas e, em 2009 foi classificada como a quarta melhor da Europa. Vinhedos, campos de cultivo e diversas panorâmicas do rio, das embarcações tradicionais, da labuta dos pescadores, da margem galega e de algumas pesqueiras - pequenas construções de pedra antiga utilizadas sobretudo para a captura da lampreia, enquadram o percurso.
Há ainda diversos caminhos para apreciar sem pressas. Junto à vila, os passadiços "A Galiza mail'o Minho" localizam-se mesmo junto ao Parque de Lazer das Caldas, onde decorre o Festival do Alvarinho. Também nas proximidades e com cerca de 1 km pode percorrer a Ecovia "Parque das Caldas - Landre". Mais afastado, o PR2 MNC – Trilho Caminho dos Mortos que deve o nome ao facto de parte do caminho ser o principal acesso utilizado para os funerais, antes de ser construída a estrada principal. No percurso existem vestígios das primeiras civilizações que assentaram nesta região, no 4º milénio A.C., nomeadamente a Mamôa do Cotinho, monumento funerário coletivo e local de culto.
Circular, o Trilho da Cova da Moura (PR3 MNC) começa e termina no Santuário dos Milagres, concluído em 1602 e localizado em Cambeses. Já o Trilho da Carvalheira de Abedim (PR1 MNC), é marcado por várias linhas de água, parte da bacia hidrográfica do rio Gadanha.
Descobrir a origem do Alvarinho
Para descobrir casta, especificidades e terroir peculiar onde nasce e cresce este vinho emblemático de Monção, há diversas quintas e adegas abertas a provas e visitas. Inaugurada em 1968, a Adega Cooperativa Regional de Monção (Tel. 251656120) recebe visitas e provas. Queijos e fumeiro, passeios e provas integram a oferta de enoturismo da Provam (Tel. 917804196) enquanto na Quinta de Santiago (Tel. 917557883) o destaque vai para o passeio entre vinhas e a partilha de histórias da família produtora de Alvarinho de Monção.
Na Quinta da Torre de Anselmo Mendes (Tel. 258022140), há espaço para visita guiada, degustações e provas de vinhos a partir da adega de onde, no século XVI, saiam vinhos para Inglaterra e Norte da Europa.
Comer em Monção
Doce popular, as Roscas de Monção nunca andam sozinhas. Depois de unidos ingredientes como farinha, água, açafrão, canela, anis, sal e açúcar, moldadas em círculo, cozidas em forno a lenha e cobertas com calda de açúcar, vendem-se em grupos de 6 ou 12. Conheça a arte ancestral das poucas doceiras locais que preservam a receita secular, sempre presente em dias de festa, e prove pelo menos uma Rosca, um Rosquilho ou um Teimoso na mercearia especializada Saudáveis & Companhia (Tel. 964496362), que tem disponíveis as rocas d’A Rosqueira.
Para uma refeição mais elaborada, a sugestão recai sobre um clássico. Em terra de receitas regionais, o “Cordeiro à moda de Monção”, disponível às quintas-feiras, fins de semana e feriados, assim como o “Cozido à portuguesa”, são estrelas da companhia no Restaurante 7 à 7 (Tel. 251652577). Prove o “Lombelo à São Jorge com arroz de feijão e grelos”, preparado por encomenda, e as várias receitas de bacalhau. Nesta casa rústica, na zona histórica de Monção, a refeição deve começar com o queijo de cabra com redução de Alvarinho e terminar com o “Pudim caseiro” de laranja ou com a generosa “Rabanada à 7 à 7”.
Dormir em Monção
Instalado num palacete do século XVII tipicamente minhoto, o Solar de Serrade (Tel. 251654008) preserva o classicismo de outrora em cada recanto. Peças de mobiliário de época, louças, tapeçarias e uma coleção de azulejaria invulgar destacam-se na decoração dos seis quartos e duas suítes (ambas com lareira) e nas zonas comuns. Rodeado de vinhas, o solar conta ainda com capela e adega, onde é possível conhecer o processo de vinificação e provar as diferentes referências de vinho verde produzidas na quinta. Com vagar, vale a pena explorar os magníficos jardins românticos.