
Apelidada de “princesa do Tâmega”, Amarante descobre-se calcorreando as ruas típicas e as margens do Tâmega. Bucólica, respira história e património, oferecendo locais únicos e monumentos imponentes. Imagem de marca local, a magnificente ponte de S. Gonçalo, liga as duas margens da cidade. De um lado, descobre-se a Igreja e o Convento de São Gonçalo, pertencentes à Rota do Românico, que merecem visita para descobrir a história do homem que havia de ser considerado santo e também um capítulo da vida local que é de resistência às Invasões Francesas. O frade dominicano evangelizador ter-se-á deixado seduzir pela terra. Impulsionou a reconstrução da antiga ponte medieval que, a par da fama do santo, levou a forte afluência de peregrinos ao território e ao nascimento de diversos mosteiros e conventos. Em homenagem ao frade, no século XVI, D. João III autoriza a construção da Igreja do Convento de São Gonçalo de Amarante, no local da capela primitiva, onde terá sido sepultado. As marcas de bala de canhão, ainda visíveis na fachada do convento, marcam um episódio ocorrido em 1809, durante as segundas invasões francesas, quando a resistência da população impediu, durante 14 dias, as tropas de Napoleão Bonaparte, de atravessar a ponte de S. Gonçalo.
Do sagrado ao profano
Nas imediações, as imagens do profano dominam nas bancas das vendedoras locais, que comercializam brejeiros doces em forma fálica associados a promessas de amor e casamento, com uma origem que se perde no tempo. A fé em São Gonçalo era muita e associava-se à possibilidade de casar as mulheres mais velhas: para pedirem um marido, bastaria puxar três vezes a corda da cintura da estátua que se encontra no interior do convento. Assim terão nascido estes doces de forma brejeira.
Antes ou depois de visitar o Mercado Municipal, que funciona junto ao rio à quarta-feira e ao sábado de manhã, e de calcorrear as ruas típicas, como a “Rua da Cadeia”, passando pela Igreja de São Pedro, aproveite uma das esplanadas para relaxar e contemplar a paisagem. Em alternativa, faça um passeio a pé nas margens do rio, do Parque de Merendas de Amarante até à Praia Fluvial Aurora, ou na margem oposta, caminhando pelo Trilho das Azenhas. No horizonte, o espelho de água e as guigas, as tradicionais e coloridas embarcações que navegam nas águas calmas do Tâmega.
Pode ainda escolher as Amarante Pure Termas e SPA, localizadas na margem direita do rio, que disponibilizam serviços de saúde, bem-estar e relaxamento, sendo reconhecidas as indicações terapêuticas para doenças do aparelho respiratório, reumáticas e músculo-esqueléticas.
Entrar num quadro de Amadeo
A panorâmica bucólica inspirou diversos artistas, sobretudo da pintura e da literatura, de que são exemplo Amadeo de Souza-Cardoso, Teixeira de Pascoaes ou Agustina Bessa-Luís. Considerado um génio do modernismo português, Amadeo de Souza-Cardoso dá nome e obra ao Museu Municipal. Em pleno centro da vila, o museu reúne vasto espólio do artista nascido em Manhufe, que privou em Paris com grandes nomes da pintura europeia e mundial e também alberga exposições dedicadas a artistas locais. No workshop de pintura “A Tela, Eu e Amadeo”, inspirado em Amadeo de Souza-Cardoso, pode conhecer a sua casa de família – nomeadamente a famosa cozinha, retratada em quadro –, em Manhufe, e as terras que a rodeiam. Depois, é desafiado a dar azo ao talento pintando a sua própria tela nos jardins ou, por opção, noutros locais, como o hotel onde está hospedado ou as margens do Tâmega. Também é possível participar na caminhada “Lugares de inspiração de Amadeo”, um percurso de quase sete quilómetros (ida e volta) pelos trilhos que inspiraram o pintor. Organizar experiências de imersão artística é o mote da Stay to Talk, empresa de animação turística sediada em Vila Meã, no concelho de Amarante, que trabalha o turismo cultural, sustentável, criativo e literário com o objetivo de “contribuir para o desenvolvimento local, a inclusão e a coesão social desenvolvendo atividades culturais que emergem de um trabalho de investigação com os locais”. Dentro do leque de atividades, há outras inspiradas em artistas da região, como Teixeira de Pascoaes ou Agustina Bessa-Luís, mas também ateliês de artesanato, onde se aprende a trabalhar o barro negro, e de gastronomia, com foco na produção do hidromel.
Doces tentações
Com a mente aberta, atravesse a ponte de São Gonçalo rumo a uma casa secular de doces tentações. Aberta desde 1930, a Confeitaria da Ponte é a mais antiga casa de fabrico de doces regionais de Amarante. Com vista sobre o Tâmega, inspirou-se na famosa Ponte de S. Gonçalo, símbolo da resistência às Invasões Francesas. Aqui estes pecados estão sempre disponíveis e ainda pode aprender os segredos das receitas num workshop sob marcação. A abundância de ovos oferecidos pelos locais às freiras do Convento de Santa Clara, erguido em Amarante no século XIII, motivou a criação de uma panóplia de pecados em forma de doçaria tradicional. A base de ovos, açúcar e amêndoa é comum às cinco principais receitas herdadas das Clarissas que passaram do convento para as casas senhoriais, antes de chegarem às confeitarias: “Lérias”, “Papos de anjo”, “Brisas do Tâmega”, “Barquinhos” e “Foguetes” são especialidade local.
Universo do Vinho Verde
De 20 a 22 de junho, o UVVA – Universo do Vinho Verde Amarante, instala-se nos claustros do Convento de São Gonçalo. A experiência que alia enologia, gastronomia e cultura, presta, nesta 8.ª edição, tributo a Teixeira de Pascoaes e ao legado enquanto poeta, escritor e filósofo português oriundo de Amarante.
A programação propõe uma viagem pelos saberes e sabores do vinho e da gastronomia, num encontro que conjuga tradição e animação. Estão previstos showcookings interativos com chefs que apresentam as melhores harmonizações enogastronómicas Conversas Sobre o Vinho com especialistas.
Antes da abertura oficial, o UVVA convida o público (maiores de 18 anos) a vivenciar o evento por dentro, com uma experiência imersiva que combina vinho e literatura. No dia 19 de junho, às 18h30, terá lugar uma visita guiada à Quinta AB-Valley Wines, enriquecida com leituras da obra de Teixeira de Pascoaes. As inscrições são limitadas a 15 participantes e estão disponíveis em forms.cm-amarante.pt.
O acesso ao UVVA – Universo do Vinho Verde Amarante custa €5 e inclui a oferta de copo oficial, porta-copos e um voucher de €2,5 para descontar na compra de vinho. Para os três dias do evento existe um bilhete de €10. O UVVA abre as portas na sexta-feira, 20 de junho, às 18h00, e encerra às 2h00, mantendo o horário no sábado. No último dia, domingo, 22, o inicia às 17h00 e encerra às 22h00.
Promovido pelo Município de Amarante, através da InvestAmarante, o UVVA é organizado pela Essência Company e tem como parceiros a Associação de Turismo do Porto e Norte, a Dolmen – Desenvolvimento Local e Regional, e o Círculo António Lago Cerqueira.
Diversão e aventura na água, pela serra ou na linha do Tâmega
O passeio prolonga-se para lá da cidade, em caminhadas com história. A Ecopista da Linha do Tâmega segue parte do curso do rio mas também passa por cima dos trilhos outrora reservados ao comboio que percorria a linha do Tâmega. O percurso, de 39 km, começa em Amarante e segue até Cabeceiras de Basto, para terminar na antiga estação de comboios de Arco de Baúlhe, onde atualmente vive o Museu das Terras de Basto. No caminho conte com natureza, património e cultura, e bastante espaço para pedalar - ou caminhar se assim o preferir.
O Parque Aquático de Amarante é conhecido por ser o maior parque aquático de montanha da Península Ibérica. Integra um complexo turístico maior, o Tâmega Clube, que inclui também casas de turismo rural, um ginásio e uma casa de eventos. Em funcionamento há mais de duas décadas oferece diversas opções de lazer e entretenimento, incluindo uma piscina de ondas e diversas atrações.
Para explorar as imediações, inicie o dia com um passeio de jipe na Serra do Marão, visitando belíssimas manchas florestais e linhas de água revitalizantes que refrescam os dias de intenso calor dos que se atrevem a explorá-la. Neste percurso vai cruzar-se com paisagens que nos tiram o fôlego e nos fazem sentir insignificantes tal é a beleza e a vastidão de tudo o que nos rodeia. Termine este passeio orientado pela Inside Experiences com um piquenique em família. Outra possibilidade é a serra da Aboboreira que também abraça a cidade.
Mergulhos secretos
O relaxante som da água que constantemente cai a partir de uma pequena represa serve de banda sonora nesta zona de banhos resguardada pela vegetação. A Várzea fica próxima do centro de Amarante – cerca de 10 km – e revela-se uma escapadinha perfeita – e secreta – para refrescar um passeio a esta cidade plena de história, arte, tradições e beleza natural. Com cascatas paradisíacas e com as águas limpas do rio Ovelha, este local é de fácil acesso, permitindo a circulação de veículos até uma zona próxima. Ainda assim, mantém--se como um sítio para mergulhar longe das multidões – fica apenas o aviso para a baixa temperatura da água. Em plena serra do Marão, a menos de 10 km de distância, em Ansiães, a ribeira da Póvoa também merece descoberta. Integrada na Rede Natura 2000, é uma zona de beleza e biodiversidade ímpares, ideal para momentos de lazer ou para a prática de desportos ao ar livre.
Comer em Amarante
Da alta cozinha à tasquinha, Amarante é pródiga em locais para saborear. Além dos obrigatórios doces conventuais, recomenda-se o restaurante Largo do Paço. “Prepare-se para reavaliar tudo o que julgava saber sobre gastronomia e prazer à mesa”: o aviso na reabertura, em abril, marca a entrada do chef Francisco Quintas nos comandos da cozinha. Inserido na Casa da Calçada, em pleno centro histórico, tem sido casa para diversos chefs que por aqui passaram, como Ricardo Costa, Vítor Matos ou Tiago Bonito. Para uma abordagem tradicional, a Casa Ventura, localizada em Telões, é o local a escolher. Entre malgas de Vinho Verde tinto, típico da região, “Canja” e o “Frango de cabidela” são emblemas, mas há outros pratos obrigatórios, como a “Pescada abafada em azeite” e o “Arroz de legumes com ossobuco”. No restaurante Pena, instalado na quinta onde nasceu a mãe de Amadeo de Souza-Cardoso aposta nas memórias gastronómicas do artista. Em ambiente acolhedor e elegante chegam à mesa “Wellington, jus de vitela e couve-flor”, “Risotto de cogumelos e jus de cebola” e “Petit gâteau de abóbora com gelado de requeijão”. O legado de Amadeo é também celebrado no menu de degustação.
Dormir em Amarante
Ícone de Amarante também no que respeita à hotelaria, a Casa da Calçada reabriu em abril depois de dois anos de renovação profunda. Com 35 quartos, dos quais quatro são suítes, Spa debaixo da vinha com 500 m2 e dois restaurantes – além do fine dining Largo do Paço existe também o Canto Redondo – o edifício do XVI é uma varanda sobre o centro de Amarante.
Também no centro da cidade e numa casa com história debruçada sobre o rio encontra a Casa das Lérias um pequeno hotel com vista ímpar para o Tâmega, e espaços exteriores amplos e interiores modernos e acolhedores. Soma 23 quartos e uma cafetaria onde são servidos os mais típicos doces conventuais da região, já que foi nesta localização que renasceu a tradição dos doces amarantinos. Dedicado ao universo do Vinho Verde, o Monverde – Wine Experience Hotel conta com 46 quartos e suítes sóbrios, minimalistas e aconchegantes, distribuídos por diferentes edifícios, com destaque para as Wine Experience Suítes, com piscinas privativas, lareiras e enotecas. Além do Spa, com rituais ligados às propriedades da uva e da vinha, o hotel conta ainda com piscinas interior e exterior e privilegia a pedra, a madeira e a decoração em tons terra, que remetem para a envolvente verdejante.