
O restaurante Evaristo surgiu em 1986 localizado na praia com o mesmo nome em Sesmarias, no concelho algarvio de Albufeira. Posicionado sobre o areal, a situação constitui desde logo um forte atrativo para todos aqueles que adoram o mar. Em 1992, Luís Evaristo, de seu nome verdadeiro Luís Vilarinho, assumiu a liderança daquele que era o seu habitat natural desde os 16 anos e a fusão de identidades entre o lugar e o homem foi natural. Ao longo dos anos, o restaurante tornou-se ponto de encontro de famosos e uma referência para comer peixe fresco na grelha. Rapidamente conquistou os comensais que ali se deslocavam propositadamente pela simpatia, o serviço e naturalmente a oferta gastronómica que se firmou com vários clássicos, entre os quais as lulas, servidas com arroz de coentros, as ameijoas, o camarão tigre e a sangria.
Em 2011 o lugar foi vendido, mas Luís Evaristo manteve-se como a cara do restaurante, aquele que, desde sempre, todos esperam ali encontrar para conversar, para um acolhimento personalizado e que assegura que “tudo corre às mil maravilhas”.
Espaço com muitas vidas, já em 2019 fora parcialmente destruído por uma explosão de gás. Entretanto reconstruído, em 2023, um incêndio consumiu o Evaristo por completo. Agora, mais uma vez, este clássico famoso do Algarve que deixou muitas saudades, renasceu em julho de 2025. Foram estas recordações e vivências que, segundo Luís Evaristo “motivaram e impulsionaram aquele que é um projeto provisório, uma reconstrução parcialmente amovível do que era o restaurante Evaristo antigo porque como os apoios de praia são concursos públicos aguardamos o contrato de concessão definitiva e, isso sim, permitirá reconstruir o Evaristo na sua essência”.
Renovar a ementa mantendo a essência
O espaço conta com 100m2 e senta 60 pessoas, o que significa que tem um terço da capacidade anterior do restaurante. Ao nível da cozinha apresenta “condições um pouco similares à zona de quiosque que tinham antigamente, que era um quiosque sofisticado, mas atualmente com mais opções de pratos disponíveis”. Regressaram as famosas “Ameijoas à Bulhão Pato” (€23) e a “Lula à Evaristo” (€32), assinalada como “Special One” (prato especial) na ementa, mas com pequenas nuances face à icónica receita do passado. “A receita nova não fica atrás da antiga, utilizamos especiarias, pimentos e um toque de piripiri porque as lulas são feitas na chapa elétrica e não na grelha, deixámos de colocar os coentros e o alho”. Estas sugestões fazem parte da ementa de almoço e são complementadas por propostas frescas para esta fase do dia como a “Salada de vieiras e manga” (€19) e a “Burrata acompanhada de tomates bio (€16).
Já ao jantar surgem, em alternativa ao entrecosto de antigamente, a “Vazia marmoreada cortada às fatias com molho de trufa, espargos e batata doce” (€34), os “Raviólis de massa fresca com cogumelos silvestres, creme de nata e trufa” (€26) e ainda o “Tigre grelhado, arroz tai frito, gengibre” (€36).
“Aproveitamos este período para introduzimos algumas novidades para o futuro, mas a essência do Evaristo vai manter-se, ou seja, o peixe fresco, a montra, não há menu, mas, nesta fase, não é possível operar dessa maneira e por isso os pratos mais icónicos chegam novamente à mesa dentro daquilo que nesta fase conseguimos fazer”.
Por não poder operar com grelha atualmente acrescentaram propostas que seguem a premissa de base do Evaristo que “foi sempre a qualidade da matéria-prima”. “Quando se trabalha com peixe fresco na grelha não há adulterações nem invenções e vamos sempre trabalhar com a melhor matéria-prima para que o custo-benefício seja justo”.
Além dos pratos, a sangria branca é outro emblema do Evaristo que continua a refrescar neste verão. Todavia, a esplanada é marcada pelo champanhe Ruinart, a casa mais antiga deste tipo de vinho francês e na carta predominam as referências da Herdade da Malhadinha, de Albernoa, Alentejo. “A esplanada é uma bandeira da Ruinart no Algarve, na linha daquilo que encontramos do Mónaco em que as marcas luxury assinam este tipo de espaços, e, sendo uma chancela de prestígio com um posicionamento semelhante ao nosso, ficamos felizes por esta escolha”.
Fala do novo Evaristo como um “chiringuito”, termo que remete para um estabelecimento ao ar livre junto à praia, descontraído, mas com qualidade. É constituído por três módulos retangulares, todos revestidos a madeira, a lembrar a decoração original do primeiro restaurante Evaristo do final dos anos 80.
“As pessoas estão encantadas com o conceito em que “menos é mais”, muito rústico, muito simples, que é a essência do Evaristo”.
Espírito de verão e de férias
A decisão de reconstruir o restaurante que se incendiou em 2023, segundo Evaristo “nada a tem a ver com o processo de concurso, é algo que já poderíamos ter feito, mas que não fizemos porque, em 2024, todos os apoios de praia iam de novo a concurso e não fazia sentido”. Como a questão da concessão demorou mais do que se esperava “por nossa iniciativa e da câmara municipal fizemos esta estrutura que tem a imagem do primeiro Evaristo de todos, impulsionados para devolver à sociedade aquilo que nos deu durante 40 anos”, sublinha.
“A praia não tinha qualquer tipo de apoio há dois anos e imensas pessoas, entre locais, estrangeiros e portugueses, referiam que passou a ser um deserto”, refere, acrescentando: “nós tínhamos alguma corresponsabilidade, daí esta iniciativa. Não se trata apenas de um negócio porque falamos de um espaço que reduziu a capacidade para 30% do que tinha, condicionado a trabalhar de acordo com a vontade São Pedro dado que não existe espaço interior”.
A assinatura do renovado restaurante é “Evaristo because we miss you”, “Evaristo porque sentimos saudades”. “É a mensagem que queremos passar ao cliente. Quem cá vinha percebe-a, e que se trata de muita capacidade de iniciativa, muito boa vontade, porque as limitações são muitas”.
Quanto à animação que sempre foi imagem de marca do Evaristo e que motivou a iniciativa da Casa do Castelo no Algarve, Evaristo lembra que “antes de haver os clubes de praia e outros conceitos semelhantes atuais, genuinamente, há 20 anos, a festa acontecia no Evaristo e agora acontece precisamente o mesmo, de repente isto vira uma animação, de forma espontânea e genuína, não é programada, não digo às pessoas venham agora porque temos o DJ”. Aliás, Luís Evaristo refere que um cliente acaba de trazer dois microfones e já lhe disse que “daqui a pouco bebe uma quantas sangrias e começa a cantar, é o espírito de verão e de férias”.
40 anos de histórias
Luís Evaristo tem a consciência de que “a localização do restaurante constitui 50% da capacidade de atração, é uma dádiva de Deus”. Há muitas histórias que se viveram no restaurante como sejam pedidos de namoro ou casamentos. Acredita que “as pessoas acabam por ter uma história motivada pelo sítio, naturalmente também complementada por uma boa experiência”. Conta que um casal que todos os anos celebrava o dia de casamento no Evaristo e como achavam que estava fechado tinham ido jantar a outro lado, mas resolveram ir até à praia para assinalar o momento e “foi um encanto, com lágrimas nos olhos, ao saberem que estávamos abertos”.
Lembra como lhe custou ver o restaurante onde esteve desde os 16 anos a arder, mesmo se na altura estava afastado do projeto, até porque mora a 100 metros. “Fosse novo ou antigo era indiferente, era uma parte de mim”. Hoje sente-se “um privilegiado e grato porque faço isto com paixão, é maravilhoso estar deste lado a assistir a estas coisas todos os dias e ir de coração cheio para casa porque fazemos um bocadinho parte da história daquela pessoa”.
“Não vendemos comida e bebida, vendemos sonhos, experiências” e por isso “à última hora, no mês de maio decidiram reabrir, a 28 de maio licenciámos e fizemos o projeto todo em seis semanas”. A equipa do Evaristo estava espalhada por vários sítios e “jamais iria desafiá-los porque sou amigo e colega de todos os outros empresários”. Duas pessoas estão com o Evaristo e para arranjar pessoas tiveram de “ser criativos, recorrer a gente jovem, com pouca experiência, mas muita atitude”.
Quer liderar pelo exemplo e no novo restaurante Evaristo (Praia do Evaristo, Sesmarias, Albufeira. Tel. 961596430), Luís Evaristo recebe os comensais, mas gosta de servir à mesa, “estar com a mão na massa para garantir que todos são bem recebidos e bem servidos”.