Lugar de memórias, liberdade e visão humanista, o imenso palacete amarelo erguido no século XVI sobre o Tâmega tornou-se desde o primeiro dia ícone de Amarante. A arte de bem receber, que sempre foi apanágio local, mesmo na época em que era residência privada, conhece agora novo capítulo com a reabertura do hotel de cinco estrelas. Durante dois anos, uma intervenção profunda alterou estrutura e ampliou a oferta de espaços e serviços que transportam a Casa da Calçada para os novos tempos e são várias as novidades para descobrir. Incólume ficou o legado dos antepassados, a história, a arquitetura, e a arte, bem como o talento de bem-receber, apanágio local.
Com a mesma panorâmica sobre a cidade e o rio, o hotel, ainda em soft opening, oferece agora 35 quartos, dos quais quatro são suítes (desde €240) decorados sobriamente e mantendo o cunho clássico que sempre os caracterizou.
Aventura dos sentidos à mesa
“Prepare-se para reavaliar tudo o que julgava saber sobre gastronomia e prazer à mesa”, avisa o comunicado que dá conta da reabertura. Desde sempre componente destacada do alojamento, a cozinha volta a ser uma forte aposta. O Largo do Paço, com presença constante no Guia Boa Cama Boa Mesa, diversas vezes premiado com Garfo de Prata e Ouro e com uma estrela Michelin, renasce pela mão do chef Francisco Quintas, o mais jovem português a conquistar uma estela do guia vermelho.
Verdadeira escola de alta cozinha, ao longo dos anos por aqui passaram chefs como Ricardo Costa, Vítor Matos ou Tiago Bonito. Agora sob os comandos de Francisco Quintas, a experiência é descrita como “uma aventura sensitiva que coloca em comunicação direta e constante todos os sentidos – a própria playlist que acompanha a refeição é escolha do chef – e conta com duas ementas, de 13 e 15 momentos”. Como qualquer boa peça de arte, continua o comunicado, promete “um happening concebido e encenado ao detalhe”.
Além do fine dining, a Casa da Calçada integra ainda o Canto Redondo, restaurante dedicado à cozinha tradicional e de conforto, onde o chef italo-argentino Emiliano Savio, que durante este período comandou o Real by Casa da Calçada, no Porto, reinterpreta a cozinha típica segundo as mais sofisticadas técnicas enraizadas em produtos locais, frescos e sazonais.
A estes dois soma-se o À Margem, espaço gastronómico com uma carta ligeira e de snacks em que se destaca “uma das mais fabulosas vistas sobre a parte histórica de Amarante, com o convento de S. Gonçalo como vizinho da frente” e que servirá também como sala de pequenos-almoços.
Novidade absoluta é o Ciao Tílias que se apresenta como uma proposta “descomprometida, com sotaque italiano”, dedicada aos “reconfortantes aromas da boa comida italiana e pizzas” desfrutando da localização que transforma o espaço numa “convidativa varanda sobre o rio Tâmega” tanto no interior como na esplanada. O convite é ainda extensível ao bar da Casa da Calçada, onde é possível desfrutar de cocktails clássicos e criações de autor.
Relaxar no ventre da terra
Tempo, “o derradeiro luxo e o maior privilégio” é o nome escolhido para o novo Spa, retiro hedonista instalado num socalco da terra, rasgado por vidro, sob a vinha. Desenhado sobre “predicados arquitetónicos impactantes” que resultam numa “absoluta sensibilidade minimalista”, oferece 500 m2 dedicados aos cuidados do corpo e da mente que fazem uso de materiais autóctones, como a pedra, para desfrutar de um cardápio extenso de terapias de beleza e bem-estar, apoiados por piscina interior aquecida, fonte de gelo, banho turco, sauna e ginásio.
Ícone de Amarante
Edifício histórico de traça barroca, assente em granito local, foi construído como uma das principais moradas do Conde de Redondo e desde cedo a sua história manteve uma estreita ligação ao curso político do país. Fidalga, culta, letrada, industriosa, revolucionária e benemérita, por esta casa passaram intelectuais, sonhos de modernidade, tertúlias e o desejo de fazer melhor. Entre estas quatro paredes defenderam-se territórios contra a França napoleónica, conspirou-se o início e a restauração da República e venerou-se o vinho.
Um dos impulsionadores desse espírito foi António do Lago Cerqueira, nascido no palacete em 1880. Representante deste dinamismo, foi o primeiro edil de Amarante, e responsável pelo culto da vinha e do vinho, que começou a produzir na propriedade, com base no seu espírito inovador e nos conhecimentos que trouxe dos exílios em França. As Caves da Calçada, fundadas em 1917 permanecem hoje icónico produtor de vinho espumante e tranquilo.
Mais tarde, resultado da visão de Manuel António da Mota – que adquire o edifício na década de 1960 - e da entrega da filha Paula Mota, em quem o empresário e os irmãos delegaram a tarefa de concretizar o sonho paterno, a lendária casa é transformada em hotel de cinco estrelas. O projeto torna-se realidade na década de 1990.
Encostado ao Tâmega, o palacete é parte integrante da inspiradora cidade de Amarante, onde nasceu o modernismo português, pelo traço de Amadeo de Souza-Cardoso e Acácio Lino, mas também através do brilhantismo de Teixeira de Pascoaes e a poesia de Agustina Bessa-Luís.
Em soft opening desde dia 15 de abril, após dois anos de obras e um investimento de cerca de €15 milhões, a Casa da Calçada (Largo do Paço, 6, Amarante. Tel. 255410830), é agora gerida pela Amazing Evolution.