As alterações climáticas são uma realidade incontestável, com impactos profundos, tanto no meio ambiente como na economia global. O ano passado foi considerado o mais quente já registado, com uma média de 1,55°C acima dos níveis pré-industriais. Caso esta tendência de aumento da temperatura se mantenha, enfrentaremos consequências ainda mais graves para a natureza e para a humanidade, prejudicando também seriamente o progresso económico e social.

De acordo com um estudo recente da BCG, em parceria com o clima TRACES Lab da Universidade de Cambridge e a Cambridge Judge Business School, se considerarmos as medidas anunciadas o mundo está a caminhar para um aumento da temperatura média de 3°C até 2100 – um cenário que poderá provocar uma queda entre 15% e 34% do PIB global. Estes dados reforçam a urgência de agir para reduzirmos a probabilidade e as consequências deste cenário.

As alterações climáticas já estão a ter impactos negativos em todo o mundo. No entanto, ainda é possível mitigar os potenciais riscos económicos a longo prazo, nomeadamente através de uma forte aposta em investimentos em ações climáticas – tanto na mitigação das emissões de carbono como na adaptação às alterações climáticas. Ainda para mais estes investimentos representam uma oportunidade de transformação económica e podem gerar retornos significativos. Para limitar o aumento da temperatura a menos de 2°C, a comunidade global deverá investir 1% a 2% do PIB mundial até 2100, contribuindo para uma melhor adaptação das sociedades e para a prosperidade económica.

Investir em projetos com impacto climático positivo não é apenas uma responsabilidade comum, mas também uma oportunidade estratégica para reforçar a resiliência económica, enfrentar os riscos climáticos e acelerar a inovação tecnológica sustentável. A adoção de soluções limpas, como energias renováveis e modelos de negócio mais circulares, não só mitiga os eventuais custos da inação climática, mas também gerar novas oportunidades de crescimento económico e social.

Embora represente uma oportunidade económica viável, a transição para um futuro sustentável também levanta desafios. Assim, destacam-se, cinco barreiras que dificultam a implementação de projetos eficazes para enfrentar as alterações climáticas. A primeira traduz-se na falta de compreensão política da importância do investimento em ações climáticas do ponto de vista económico. A segunda diz respeito aos custos iniciais que o investimento neste tipo de ações acarreta, frequentemente vistos como elevados, sobretudo porque este investimento só deverá gerar retornos visíveis após 2050. A terceira barreira prende-se com a distribuição desigual dos custos e benefícios das ações climáticas entre os países. A quarta é a necessidade de uma transição justa e um desenvolvimento económico equitativo, de modo a evitar que alguns países ou setores sejam ainda mais afetados social e economicamente pela transição climática. Finalmente, a quinta barreira passa pela falta de conhecimento sobre os danos económicos reais que decorrem das alterações climáticas.

Superar estas barreiras exige um esforço de adaptação em múltiplas frentes, envolvendo líderes políticos e empresariais. É com esse espírito que acredito ser urgente reativar e reformular o debate sobre os impactos sociais e económicos das alterações climáticas, promover maior transparência sobre o custo da inação perante a atual crise climática, fortalecer as políticas nacionais e internacionais de mitigação e adaptação, revitalizar a cooperação internacional e aprofundar o conhecimento económico das alterações climáticas. Só com uma ação conjunta e planeada, poderemos garantir um futuro sustentável para as futuras gerações.

Portugal, com os seus recursos naturais vantajosos – como a energia solar e a eólica, as paisagens agrícolas e recursos florestais, ou o mar –, tem uma posição estratégica e deve assumir a dianteira na transição climática. O investimento nestes recursos e em projetos com impacto climático positivo não deve ser encarado como um obstáculo à competitividade empresarial, mas antes como uma via para nos tornarmos num centro da economia verde, de inovação e investigação, com retornos ambientais e económicos relevantes gerados a longo prazo, sustentados pela adoção de novas tecnologias.

É nesse sentido que o investimento na ação climática deve ser visto como uma oportunidade para promover a resiliência, a produtividade e o progresso económico e social. As soluções para enfrentar as alterações climáticas estão ao nosso alcance, e as empresas e governos que acelerem estes investimentos e os incorporem na base das suas estratégias de governação e de negócio estarão mais bem posicionados para o futuro.

Managing Director e Partner da BCG em Lisboa