O ponto mais importante que há que realçar nesta noite eleitoral é que, apesar de todas as facilidades, praticamente dois terços dos portugueses que optaram por não ir às urnas escolher quem pode influenciar as regras que lhes vão ser impostas a partir de Estrasburgo. Mais de 6,5 milhões de portugueses não se maçaram a ir votar, mesmo podendo fazê-lo onde quer que estivessem, com toda a facilidade garantida pela desmaterialização dos cadernos eleitorais (louve-se o ex-MAI, José Luís Carneiro, que lançou o desafio, e o atual governo, que o concretizou), que funcionou praticamente sem espinhas logo na estreia.

Quanto aos resultados expressos pelos que se deram ao trabalho de ir votar, porque entendem que é na União Europeia que se decide a vida que aqui levam, a Iniciativa Liberal é a grande vencedora da noite. Por muito que os demais clamem vitórias de número, com Cotrim de Figueiredo à frente, os liberais conseguiram fazer caminho porque mostraram maturidade de pensamento e, à boleia do crescimento sustentado que vêm fazendo, foram capazes de sentar dois eurodeputados no palco principal, onde nunca antes tinham tido representação.

Quanto ao mais votado da noite, o PS, fica com o poucochinho colado ao nome. Conseguiu ficar à frente e eleger mais um eurodeputado do que a AD, mas perdeu um representante relativamente às últimas eleições europeias e a lista encabeçada pela ex-ministra feita popstar não foi sequer capaz de cumprir um ponto percentual de distância para aquele "miúdo inexperiente" que durante toda a campanha desprezou (32,09% contra 31,12%). Mais ainda quando a AD se senta atualmente em São Bento, com enormes dificuldades para governar, fazendo dos sete deputados conseguidos em boa medida uma conquista de Sebastião Bugalho. A AD cresceu em votos e em percentagem mas, tal como admitiu Luís Montenegro, não chegou à vitória e por isso também não pode cantar vitória.

De resto, há que aprender as lições. A primeira é que o comportamento irresponsável do Chega no Parlamento nacional lhe custou um resultado sequer aproximado daquele que atingiu há três meses — o Algarve é disso a maior prova — ficando-se pelos dois representantes.

A segunda, com a eleição no último sopro de uma eurodeputada pelo BE e um da CDU, é que a extrema-esquerda é como o papagaio dos Monty Python: vai-se mantendo amarrada ao poleiro mas já não canta há muito.

A terceira é que Portugal é ainda um país de brandos costumes, encontrando-se ao centro mesmo quando o resto da Europa polariza. Mas definitivamente virou à direita — 11 em 21 eurodeputados, três meses depois de garantir no Parlamento nacional 138 deputados em 230 —, esperando agora que ela possa dar as respostas responsáveis que décadas de socialismo e extrema-esquerda não foram capazes de garantir.

Abrindo o foco, estas europeias não foram, afinal, o filme que se projetava mas não são isentas de vítimas consideráveis. Dois países centrais perderam os seus governos em consequência da votação dos seus cidadãos (França e Bélgica) e outros tantos tremem com a ascensão da extrema-direita (Áustria e Alemanha), mesmo que esse grupo não tenha concretizado o crescimento voraz e generalizado que se antecipava. E isso é resultado dos absurdos que nos vêm sendo impostos, do wokismo que esmaga os europeus aos excessos que anulam e atropelam aqueles que vivem e trabalham neste espaço comum.

Se dúvidas houvesse, é uma Europa à direita que se desenha nesta noite.