
Quem pensaria que aquela bola de carne, a rodar no espeto, tão popular um pouco por toda a Europa, estaria no centro de uma disputa diplomática entre dois dos maiores países da Europa?
A Turquia, país de origem do döner kebab – döner tem origem na palavra turca "rodar", dönmek, pediu à UE que classifique o seu prato como uma especialidade tradicional garantida (ETG), que reconheça a fórmula tradicional de confeção daquela iguaria. Se isso acontecer, o prato só poderá ser chamado döner kebab se cumprir uma receita e um método de confeção específicos. Mas a Alemanha já fez saber que estava contra a decisão.
Na Turquia o döner kebab é feito originalmente de carne de carneiro, cortado às fatias muito finas, e serve-se num prato, com arroz e salada. Se a UE aprovar o pedido turco, só um kebab que é fatiado com pequenas tiras de carne com um máximo de 5 mm, de uma carne de carneiro ou vaca com mais de 16 meses de idade, e que foi marinado numa receita com gordura animal, iogurte, cebola, sal e especiarias, é que se poderá chamar döner.
As versões de galinha, e o formato servido numa sandwich, são inovações posteriores. A Turquia diz agora querer assegurar a sua herança culinária, mas a decisão poderá afetar um dos mais populares snacks noturnos da Europa. As primeiras representações conhecidas de döner kebab datam do século XVII, numas ilustrações turcas de um famoso poema épico persa, o Shahnama.
Foi com as primeiras vagas de imigrantes turcos na Alemanha, nos anos 60 e 70, que o prato começou a sofrer inovações. Na Alemanha, o döner kebab começou a ser servido sobretudo em pão pitta. Nos últimos anos, o döner kebab alemão leva ainda vários molhos, e tem salada e couve. Rapidamente tornou-se na comida favorita do país – se há algo que une os alemães, é o seu amor a um bom döner kebab. O prato é o preferido dos empregados de escritório para um snack rápido à hora do almoço, das crianças da escola, quando regressam a casa, ou dos noctívagos, depois de uma noitada numa qualquer discoteca.
Ora o tão amado döner kebab alemão teria de mudar caso a Turquia consiga o pretendido. O que preocupa a indústria de döner alemã, que representa cerca de €2,3 mil milhões por ano. Por isso, o Ministério alemão da Comida e da Agricultura (BMIL) foi uma das 11 agências que interpôs uma objeção quando a UE realizou a consulta pública, depois do pedido turco para a classificação da iguaria. Segundo as autoridades alemãs, "o döner kebab é parte da cultura alemã, e a diversidade dos métodos de preparação refletem a diversidade do país".
Só em Berlim há mais de 1.000 vendedores de döner kebab. Uma cadeia de restaurantes, "Kebap with Attitude", experimenta várias versões de döner kebab, incluindo um com manga, e mesmo uma variedade vegetariana.
A Comissão Europeia sugeriu agora que os Governos alemão e turco tentem encontrar um compromisso. Entretanto, continua a guerra sobre o kebab.
Afiyet Olsun!