
Se o ser humano tem alguma certeza, é a morte. É uma certeza inquestionável, mas acaba por trazer tantas outras incertezas. A sociedade esconde a sua profundidade, todas as dúvidas que são colocadas na nossa mente e ao longo da vida evita o confronto com a mesma. E se a morte não for o fim? Tenho apenas 14 anos e com alguma profundidade, carrego a minha maior dúvida, na minha condição de ser humano vivo não me pergunto se há vida após a morte, pergunto-me o que acontece, não se acontece.
Não há dúvida de que a morte é um medo universal, é talvez o tema mais silenciado pela nossa sociedade porque queremos fugir dele, não queremos um fim. Arrepia-nos pensar de que pode não ser o fim, inquieta-nos ainda mais o facto de que este é um mistério que na nossa dimensão humana nunca será completamente compreendido ou explorado.
Recentemente vi uma entrevista na TVI, ao médico cirurgião (que também escreveu um livro), Manuel Sans Segarra. Achei impressionante a coragem de expressar a sua opinião que é formatada por todos os seus conhecimentos na área da Medicina, todo o estudo e prática da mesma, mas também pela investigação de diversos casos clínicos que os seus pacientes experienciaram.
Mesmo tendo plena consciência de que este tema é negado por alguns, ridicularizado por outros e silenciado por muitos mais, tenho o profundo dever de despertar pensamento e tornar real a esta causa, pois existe um “algo” que persiste após a morte.
Na referida entrevista, o médico deu a clara sua opinião: acredita que mesmo com a morte clínica, alguns pacientes tiveram experiências que relataram como reais e lúcidas, semelhantes às de “experiências de quase morte”. Explicou que “Estas experiências ocorreram em pessoas com diagnóstico de morte terminal”, ou seja paragem cardíaca seguida de morte cerebral. Estes, para nossa surpresa, mesmo assim relatam semelhantes experiências da vida pós-morte. Insiste também que existe uma “supraconsciência” que se mantém mesmo depois da morte física.
Para fundamentar a sua opinião, partilhou 2 exemplos marcantes, o que me chamou mais a atenção foi o relato de uma paciente, que era também sua colega de trabalho. Deu entrada no hospital que trabalhava juntamente com o Dr. Manuel Segarra com o diagnóstico de morte clínica, foi reanimada, operada (pois tinha uma grande hemorragia intra-abdominal) e felizmente recuperou. No pós-operatório foi-lhe colocada a dúvida se teve alguma experiência. Segundo o médico “As pessoas têm relutância em contar, porque sabem que não vamos acreditar nelas”.
A primeira coisa que a paciente descreveu foi uma sensação de saída do corpo e através de uma posição mais elevada, vê perfeitamente tudo o que se passa no quarto onde estava a ser tratada. Faz, de seguida, uma autoscopia (reconhece o seu corpo) e adquire características completamente diferentes. O mais chocante é que a paciente não só reconheceu o seu corpo, como a todos os profissionais de saúde e os procedimentos que estavam a aplicar, no momento em que ela está em morte clínica. Mesmo assim, explicou com exatidão tudo o que estava a acontecer, todos os pormenores nas várias dependências do serviço de urgências. O médico, no então, verificou os dados e confirmou que todos os acontecimentos referidos eram reais. A paciente relatou com exatidão o que estava a acontecer sem que houvesse qualquer explicação lógica ou física.
“Só depois desta experiência é que esta pessoa passou a acreditar que a alma ou algo semelhante a isso persiste, e que a consciência pode não desaparecer com a morte cerebral.” – Dr. Manuel Sans Segarra.
Nomeou este fenómeno como “Supraconsciência” e escreveu um livro designado por: A Supraconsciência Existe – Vida Depois da Vida. Publicado em 2024.
Mas afinal, o que é a supraconsciência?
“Tentei procurar uma explicação lógica e científica para este fenómeno das experiências de quase-morte. Compreendi, segundo os princípios do método científico, que o indivíduo não poderia ter consciência, o que chamamos consciência local ou neuronal, típica ou característica da atividade metabólica dos neurónios, porque eles não funcionam no seguimento da paragem cardíaca. Portanto significa que há outra consciência que persiste, apesar da morte clínica, e é o que defino por supraconsciência.” – Dr. Manuel Sans Segarra.
Superior ao desejo de querer provar algo absoluto, Segarra convida-nos a abrir a nossa mente. Para ele a ciência não é inimiga da espiritualidade ou da crença e o verdadeiro erro está em não querer ver para além dos limites do que é atualmente comprovado. Apesar da negação de muitos cientistas a esta causa, há investigações científicas que possibilitam o facto da consciência continuar para além do momento da morte clínica.
Estudo AWARE 2014/2019
O estudo AWARE (Awareness During Resuscitation) foi encaminhado pelo médico e investigador Sam Parnia que contou com a colaboração de hospitais e universidades internacionais. Ao longo de 5 anos, estudou mais de 2.000 casos de paragem cardíaca com o intuito de investigar se a consciência humana continua a existir, mesmo após a morte clínica. Cerca de 10% dos sobreviventes relataram experiências de quase morte e 2% relataram consciência lúcida e recordações de momentos ocorridos durante o período em que clinicamente estavam mortos.
O caso mais impressionante em todos os relatos dos sobreviventes pertencentes a estes 12% é semelhante ao de Manel Segarra. Um paciente relatou com precisão tudo o que aconteceu ao longo dos 3 minutos em que lhe parou o coração. A sua descrição vai desde gestos, a sons, procedimentos médicos.
Existem muitas mais outras investigações como:
Estudo EEG pós paragem cardíaca (2013/2023),
Estudo do Dr. Pim van Lommel (2001),
Estudo da Dra. Penny Sartori (2008),
Estudo do Dr. Bruce Greyson (1980/presente) … etc.
Todas elas são científicas e concluem que embora não existam provas científicas absolutas que comprovem a existência da consciência pós-morte, todos os dados apontam para a sua possibilidade e muitos relatos põem em causa a certeza (de alguns cientistas) de que não existe a vida pós-morte. Existem também teorias relacionadas com a física/química quântica. A física quântica estuda o comportamento das partículas subatómicas que não seguem as leis “normais” da física clássica e revela que algumas das partículas estão em vários lugares ao mesmo tempo, reagem à observação, e que se influenciam mesmo à distância.
Alguns cientistas acreditam que a consciência humana pode estar ligada a processos quânticos. Foram criadas teorias na tentativa deste entendimento em comum, as 3 principais são:
- Teoria da Consciência Quântica(Roger Penrose e Stuart Hameroff): Acreditam que a nossa consciência não é apenas um produto do cérebro físico, mas que reside em microtúbulos quânticos dentro dos neurónios. Se for verdade, comprova que a consciência não termina com a morte do cérebro.
- Consciência Não-Local: Alguns investigadores colocam a possibilidade mente estar conectada a um campo de informação fora do corpo, como se o cérebro fosse apenas um “recetor”. Significa que mesmo com a morte do corpo, a consciência (ou parte dela) poderia continuar a existir.
- Multiverso e Realidades Paralelas(interpretação de muitos mundos): A física quântica admite a possibilidade de existirem vários universos paralelos (abre hipóteses do que pode ocorrer pós-morte).
A meu ver, estamos numa etapa da história da humanidade onde a ciência e a espiritualidade iniciam a sua caminhada lado a lado para irem em busca de respostas maiores. Ambas reconhecem que a morte pode não ser o fim, e que existe algo profundamente misterioso e provavelmente contínuo que vai muito para além do fim do corpo físico. Não dizem o mesmo, mas olham na mesma direção.
A entrevista ao Dr. Manuel Sans Segarra deu-me uma resposta, mas também uma nova perspetiva. Admiro muito a sua coragem de expor ao mundo, mesmo sendo médico e tendo a obrigação de não duvidar da ciência, a sua opinião. Através deste texto não procuro de forma alguma impor uma verdade, mas sim uma hipótese de olhar de forma diferente e com maior abertura para esta grande dúvida. Não peço para acreditarem no que eu acredito, mas sim que reflitam a urgência de dar-mos um espaço maior de pensamento a esta questão.
Talvez nunca cheguemos a receber respostas claras e objetivas, há perguntas que não precisam de certezas, apenas de coragem para serem sentidas. O mais importante é não ignorarmos este mistério, não o minimizarmos com indiferença, mas sim que o abracemos. Talvez não seja o não saber o que nos traga tanto receio, mas o nosso desejo ansioso de nos agarrar a uma certeza. Devemos não nos prender a respostas fáceis e definitivas, e sim a buscar alguma paz, confortar, não assustar, afastar. Mesmo sem garantias, escolho acreditar que a nossa almanunca morrerá, é demasiado forte para de uma batida de coração para a seguinte, simplesmente desaparecer. Somos mais que corpo, matéria, fins, barreiras. A morte não é o fim.
NOTA FINAL:
Dedicado à e escrito pela minha querida sobrinha, autora original deste belo texto, que com apenas 14 anos demonstrou uma sensibilidade e profundidade admiráveis ao refletir sobre um dos maiores mistérios da existência humana: a morte.