
Há décadas que as eleições autárquicas não se revelavam tão importantes para o país e para os partidos políticos como as do próximo mês de setembro.
É preciso regressar a 1989 para se vislumbrar um combate tão forte entre forças políticas. Nesse ano, o PS, sozinho ou coligado, ganhou as câmaras municipais de Lisboa e Porto e transformou o quadro da política local.
É exatamente para estes concelhos que importa olhar.
Na segunda metade da década de 1980, o PS era, no concelho de Lisboa, a terceira força política. Jorge Sampaio, líder dos socialistas, tirou da cartola uma proposta impensável – juntar a esquerda para ganhar as eleições.
O primeiro impacto não foi muito agradável para os militantes, mas Sampaio soube fazer duas coias: 1ª todo o seu caminho eleitoral foi a convencer o centro-direita de que ele era o candidato credível em oposição a Marcelo Rebelo de Sousa; 2ª A esquerda à esquerda do PS apresentou candidatos para a lista da câmara que tinham um perfil moderado, ligado à cidade e com reconhecimento.
Assim, a coligação das esquerdas venceu umas eleições que, olhando para os resultados de 1979, 1982 e 1985, teria poucas possibilidades de ganhar.
João Soares, o edil mais criativo de todos os que passaram pela câmara desde 1974, seguiu o mesmo caminho até 2001. Porém, esse ano foi terrível para o PS e a capital foi perdida. Não faltaram os excessos esquerdistas na campanha que se somaram ao esgotamento provocado pelos governos de Guterres.
Nas legislativas recentes, as esquerdas somadas (sem o PCP - 11.552 votos) conseguiram 116.745 votos. A AD somada à IL (29.188 votos), consegui 128.829 votos. O Chega teve 45.740 votos que não se passarão diretamente para os seus candidatos autárquicos.
Assim, Alexandra Leitão tem todas as condições de poder disputar a presidência do município se fizer três coisas muito importantes e que resultam do ensinamento de Sampaio: 1ª fazer um discurso que tenha como objetivo ganhar o centro; 2ª garantir que os partidos da coligação das esquerdas entendem que não integram um grupo de combate revolucionário; 3ª escolher candidatos à câmara que venham de todos os quadrantes sociais e profissionais, com vida para além da política e que questionem o mundo sem se sentarem em cima das certezas que limitam a ação com ponderação.
As linhas de combate em campanha só podem ser também três: 1ª fazer chegar a todos informação visual sobre os terrenos do município onde o PS vai fazer casas, o dobro das que Moedas anunciou; 2ª identificar através de mupis todos os locais onde vai ser instalada videovigilância para se garantir mais segurança no concelho; 3ª anunciar a taxa de entrada na cidade de 1€/dia para todos os que não residam em Lisboa e para empresas que não tenham sede em Lisboa, assumindo que os valores dessa taxa se destinam à construção de habitação e à duplicação dos transportes públicos.
Adivinho que a candidata do PS, que fez uma aprendizagem rapidíssima no último ano, já tem certezas sobre o que acima se disse.
Falemos agora do Porto. Pizarro não é o candidato do PS, é a emergência do povo do Porto, de todas as classes, de todos os lados, de todos os clubes. Pizarro é Puarto, é calão, é imaginação, é boa disposição, é tudo o que simboliza o brasão da cidade – nobre no combate, leal no trato, invicto no amor pelas gentes.
Pizarro quer ser presidente porque gosta de pessoas e gosta de fazer bem às pessoas. Faz isso como médico e fará isso como presidente.
O candidato do PS é, também, de uma grande parte da direita e do centro que o conhecem bem. Ele nunca deixou a cidade, ele sempre ali esteve, em cada canto, em cada momento. E é, ainda, de todas as esquerdas cujos votos não têm utilidade se forem depositados noutros símbolos. Pizarro é o mais transversal e, por isso, o mais provável presidente.
À sua direita o mercado divide-se. A AD não consegue, com o seu candidato que diz ter a câmara como “cadeira de sonho”, mobilizar quem quer que seja. Os apoiantes de Rui Moreira dividem-se, os apoiantes do PSD dividem-se. Tudo isto porque, apesar de Pedro Duarte ter nascido e vivido no Porto, ele já não é do Porto. A AD, somada à IL teve nas legislativas 59.708 votos, não se sabendo como vão ser distribuídos pelas três candidaturas já conhecidas. O PS e os partidos à sua esquerda tiveram 54.037 votos, sem que haja qualquer empecilho que possa implicar no resultado. Tudo está muito claro.
No Porto, quem é portuense e sente a cidade suporta e mobiliza Pizarro na sua campanha imparável e vencedora.