![Analistas acreditam que conflitos na RDCongo podem desencadear emigração forçada para Angola](https://homepagept.web.sapo.io/assets/img/blank.png)
Angola e a RDCongo partilham uma vasta fronteira terrestre, marítima e fluvial, como recordaram os analistas Tiago Armando e David Sambongo, alertando ainda para implicações do ponto de vista sanitário com a possível mobilidade de cidadãos congoleses.
"Toda a guerra tem consequências e uma delas é a mobilidade das pessoas, os deslocados e ao mesmo tempo os refugiados, e como nós partilhamos esta extensa fronteira, a probabilidade que temos de lidar com fluxo de refugiados da RDCongo é maior", disse hoje à Lusa o analista Tiago Armando.
De acordo com este especialista em relações internacionais, com o agravar das tensões no leste da RDCongo, Angola poderá ser obrigada a cumprir as normas do direito internacional e acolher eventuais refugiados.
"Teremos de os acolher e, de certa forma, exigiria também custos com a criação de condições de receção, alojamento e assistência", frisou.
Para Tiago Armando, do ponto de vista social, poderá ainda haver consequências no capítulo sanitário para Angola, que por esta altura enfrenta um surto de cólera, dadas as várias epidemias que assolam igualmente a RDCongo.
"Então, obrigaria, do ponto de vista de políticas públicas ou de medidas sanitárias, redobrar os esforços da parte de Angola", indicou.
O analista destacou ainda os esforços do Governo angolano, sobretudo do Presidente angolano, João Lourenço, indicado pela União Africana como mediador do conflito que opõe a RDCongo e o Ruanda -- alegado financiador e apoiante do grupo rebelde M23, realçando que Angola defende "soluções pacíficas".
O politólogo David Sambongo recordou a extensa fronteira que Angola partilha com a RDCongo, referindo que esta deverá ser o escape de milhares de cidadãos congoleses com o agravar dos conflitos naquela região.
"E sempre que há conflito armado ou instabilidade na RDCongo a tendência é de os cidadãos congoleses virem para o nosso território [angolano] para pedirem refúgio ou mesmo invadirem do ponto de vista da emigração forçada por via desse conflito", disse à Lusa.
Sambongo considerou, por outro lado, que a possível presença de refugiados congoleses em Angola deve ainda sobrecarregar economicamente o país africano lusófono, que se mostra "incapaz" de responder às necessidades dos cidadãos nacionais.
Salientando que as condições das famílias angolanas estão "cada vez mais a deteriorar-se", o analista advertiu que o "conflito no leste da RDCongo pode desencadear numa onda de emigração para Angola muito forte e que pode sobrecarregar economicamente o (...) país", rematou.
A Comunidade da África Oriental (EAC, na sigla inglesa) e a Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) convocaram uma reunião conjunta para sábado para abordar o conflito prevalecente no leste da RDCongo.
O encontro ao mais alto nível vai decorrer num contexto de fortes tensões entre Kinshasa e Kigali, depois de o grupo armado M23 e os seus aliados das forças ruandesas terem tomado Goma, a principal cidade do leste da RDCongo, e continuado a avançar na região.
A cimeira, que decorrerá em Dar es Salaam, na Tanzânia, e é organizada pela EAC e pela SADC, juntará vários chefes de estado e de Governo, e, sobretudo, os Presidentes dos dois países envolvidos no conflito: Félix Tshisekedi (RDCongo) e Paul Kagame (Ruanda).
O conflito, que se arrasta há mais de três anos apesar de numerosas intervenções diplomáticas, regista nova ofensiva e mais violenta desde final de janeiro e chegou à província do Kivu do Sul, que está agora na mira do M23 e dos soldados ruandeses.
DAS (EL) // MLL
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