O Colégio Nacional de Jornalistas (CNP), entidade responsável pela atribuição da carteira profissional, alertou esta terça-feira, que a Venezuela se converteu num lugar hostil para os jornalistas.

O CNP denunciou numa conferência de imprensa na capital venezuelana a detenção arbitrária de 13 jornalistas, que continuam detidos por exercerem uma "atividade de alto risco", uma vez que os profissionais da comunicação social podem converter-se em "objetivo político".

"Nos últimos anos, temos sido testemunhas de uma deterioração alarmante das condições dos jornalistas: detenções arbitrárias, encerramento de meios de comunicação social e perseguições sistemáticas transformaram a Venezuela num lugar hostil para o jornalismo", disse o secretário-geral do CNP.

Edgar Cárdenas explicou que há um padrão permanente de detenções arbitrárias, sem uma ordem judicial, que tem "levado à pior das censuras", que é quando o jornalista decide censurar-se, evitando informar, porque a sua segurança física e da sua família podem estar em risco.

"A repressão intensificou-se após as eleições presidenciais de 28 de julho de 2024. Mais de 400 meios de comunicação social foram encerrados entre 2007 e 2025", disse ainda, denunciando "a perseguição e o assédio permanente e a instauração de processos judiciais em que os jornalistas e trabalhadores da imprensa são falsamente acusados de crimes que não cometeram".

Sobre os 13 jornalistas detidos, Cárdenas explicou que o padrão tem sido idêntico, que não têm direito a nomear um advogado privado de confiança e que o devido processo lhes tem sido violado permanente.

"A regra é que qualquer jornalista falsamente acusado de um crime permaneça detido (...). Temos denunciado uma política de Estado que consiste em agredir jornalistas, apontando à criminalização do exercício do jornalismo e da legitimação da censura", disse.

Edgar Cárdenas denunciou ainda a criação de um quadro jurídico que permite que os jornalistas sejam processados por crimes como o incitamento ao ódio, o que põe em perigo o trabalho fundamental de informar.

"Um jornalista que desde uma esquina informe que existe um buraco numa rua isso pode ser interpretado, pelo poder, como incitamento ao ódio. Porque estas leis são demasiado amplas e, sobretudo, discricionárias. Vemos como o crime de incitamento ao ódio se tornou o crime de base para os jornalistas e outros profissionais da imprensa", acusou.

O secretário-geral do CNP referiu, em particular, o caso de Carlos Julio Rojas, detido a 15 de abril de 2024, e acusado pelo Governo venezuelano de terrorismo, conspiração e tentativa de homicídio.

"Sem provas, sem indícios, apontam-no como uma personagem de cinema, um super-homem capaz de destruir toda uma rede de segurança, o que nem eles próprios acreditam", disse.

A jornalista Nakary Mena e seu marido, Gianni González, foram detidos em 08 de abril de 2025. Mena foi "acusada de incitamento ao ódio e de divulgar notícias falsas sobre alegados roubos em Caracas, que não agradam aos funcionários do Governo", revelou igualmente Cárdenas.

Segundo o CNP estão também detidos os jornalistas Leandro Palmar, Julio César Balza, Biagio Pilieri, José Camero, Luis López, Ramón Centeno, Omar González, para além de vários trabalhadores da imprensa, incluindo o operador de câmara Belises Cubillán.

"Devem ser todos libertados imediatamente", exigiu Cárdenas, ao mesmo tempo que anunciou que o CNP vai solicitar uma audiência com o procurador-geral da República, Tarek William Saab, para defender os seus colegas.

O CNP registou 54 ataques à imprensa desde janeiro último, incluindo casos de intimidação, impedimento de cobertura, ameaças, assédio, encerramento de estações de rádio, roubo e confisco de equipamento, agressões físicas e verbais.