"Não nos enganemos: estamos perante um cenário em que o populismo de extrema-direita cresceu. Acreditam que falar mais alto resolverá os problemas que criaram e, ao abordar os problemas reais do povo, querem inverter o progresso real", disse Jarra este domingo, no primeiro discurso após ser eleita como candidata.

De acordo com a comissão eleitoral chilena, a comunista, que foi ministra do Trabalho até ao início de abril, recebeu 60% dos votos nas primárias de domingo, segundo resultados preliminares, quando estavam contados 93% dos boletins.

A ex-ministra do Interior Carolina Tohá ficou em segundo lugar, com 27% dos votos, à frente dos deputados Gonzalo Winter (8,9%), da Frente Ampla, partido do atual Presidente, Gabriel Boric, e Jaime Mulet (2,8%), de um pequeno partido ambientalista.

Esta é a primeira vez na história do país que uma ampla coligação política escolhe um membro do Partido Comunista como candidato presidencial.

Boric, de 39 anos, cujo mandato termina em março de 2026, não pode recandidatar-se, uma vez que a Constituição chilena proíbe o Presidente de concorrer a um segundo mandato consecutivo.

Numa mensagem publicada nas redes sociais, o chefe de Estado felicitou Jeannette Jara pelo "enorme apoio que recebeu" nas primárias e disse que a advogada de 51 anos "sabe travar batalhas difíceis".

Jara liderou duas reformas emblemáticas do Governo de Gabriel Boric: a redução do horário de trabalho para 40 horas semanais e a reforma da segurança social.

"Agora, vamos todos trabalhar juntos pela unidade, com carinho e abertura para convocar a maioria dos nossos compatriotas a continuar a construir um país mais justo, seguro e feliz", afirmou Boric.

O dia das primárias, marcado pelo frio invernal em grande parte do país, registou uma fraca participação: dos 15 milhões de eleitores, pouco mais de 1,3 milhões foram às urnas.

"O país conheceu os resultados das primárias. Para nós, os resultados são tristes, dececionantes, não são o que esperávamos. Telefonei a Jeannette Jara há poucos minutos e felicitei-a pelo resultado", afirmou Carolina Tohá, que lamentou a fraca participação eleitoral.

"É um resultado muito convincente e este é o momento de reafirmar o que já dissemos muitas vezes, que estamos comprometidos com um pacto que obviamente vamos cumprir, não só na forma, mas também na substância. Ela passa a ser a candidata do centro-esquerda e nós vamos trabalhar com lealdade para que esta candidatura ofereça ao país o melhor projeto possível para competir com a direita", acrescentou Tohá.

Também Gonzalo Winter prometeu que Jeannette Jara "terá o total apoio do partido Frente Ampla, dos seus autarcas, vereadores, dirigentes de base, dirigentes sociais".

Jara deverá enfrentar o ultraconservador José Antonio Kast e a deputada de direita Evelyn Matthei na eleição presidencial.

A primeira volta será realizada em 16 de novembro, com uma potencial segunda volta em 14 de dezembro.

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