Milhares de pessoas juntaram-se na Alameda Dom Afonso Henriques, ponto de partida do protesto em Lisboa, para exigir "casa para viver" e o cumprimento do direito à habitação, constitucionalmente consagrado, criticando a intervenção do atual Governo. A vereadora Filipa Roseta, do executivo de Carlos Moedas, queixou-se de ter sido mal recebida.
André Escoval, do movimento Porta a Porta, diz que esta manifestação pretende dizer ao Governo que é preciso medidas para baixar os preços da habitação, através de regulação e de "pôr em causa" os interesses dos proprietários e da banca.
"Isto vai ser uma grande ação de luta", afirmou André Escolal, acusando o Governo de estar "refém" dos interesses dos proprietários e da banca e esperando que haja disponibilidade para serem ouvidos pelo atual executivo.
A vereadora da Habitação na Câmara Municipal de Lisboa, e Filipa Roseta (PSD), marcou presença na manifestação, onde destacou o trabalho do atual executivo, afirmando que tem sido feito "muito mais do que fez na última década" para responder à crise habitacional na cidade, com cerca de 2.000 entregas de casas e 1.000 subsídios ao arrendamento.
A autarca, que defendeu a intervenção do atual Governo, destacou ainda o concurso de cooperativa 1. Habitação.
Perante a presença e as declarações de Filipa Roseta, o representante do movimento Porta a Porta acusou-a de "puro oportunismo político", indicando que "não é bem-vinda" nesta iniciativa de protesto pelo direito à habitação.
Depois de concentrados todos os manifestantes na Alameda Dom Afonso Henriques, a manifestação segue a pé até ao Arco da Rua Augusta, descendo pela Avenida Almirante Reis, terminando com a atuação do músico Filipe Sambado, do grupo BatukadeiraX e do artista Jhon Douglas, "porque a luta também se faz em festa".
No Porto, onde os despejos têm aumentado, centenas de pessoas de várias idades sairam à rua, muitos pela quarta vez, para reclamar por um direito garantido na Constituição. A verdade é que, dizem, ter um teto é cada vez mais dificil.
Na cidade dos estudantes foram sobretudo os mais jovens quem saiu, este sábado, à rua em protesto. Em Coimbra são eles, os estudantes e trabalhadores em início de carreira os que têm maiores dificuldades no que respeita à habitação.
O Largo da Portagem foi o ponto de partida para a terceira manifestação em dois anos. Os diferentes movimentos uniram-se para mais uma vez reivindicar o direito à habitação mas onde se misturaram outros apelos.
A marcha foi curta mas deu para se cruzar com dois dos fatores apontados para a subida das rendas e do custo das casas na cidade: estudantes e turistas.
A maioria dos participantes teria menos de 35 anos, mas houve também alguns pais e avós que mais do que protestar quiseram mostrar solidariedade.
No Algarve, dezenas de pessoas saíram à rua não numa mas em três cidades: Lagos, Portimão e Faro. Sem rendimentos para pagar uma casa, muitos vêem os anos passar sem conseguir sair de casa dos pais.
A plataforma Casa para Viver, que inclui várias organizações que lutam pelo direiro à habitação, lembra que mais de metade do alojamento familiar no Algarve serve de habitação não permanente: 40% do Alojamento Local do país está concentrado na região, uma das que a nível nacional tem menos habitação pública.
A manifestação é organizada pela plataforma Casa Para Viver, movimento Porta a Porta, Referendo pela Habitação, Projecto Ruído, Vida Justa e 1º Esquerdo, face ao agravamento da crise na habitação e por não acreditarem nas medidas propostas pelo novo Governo, da Aliança Democrática (AD), coligação PSD/CDS-PP/PPM, para resolver o problema.
"Pôr fim aos despejos, desocupações e demolições que não tenham alternativa de habitação digna e, que não preservem a unidade da família na sua área de residência", é outra das propostas, a que se junta a redução do valor das prestações bancárias, "pondo os lucros da banca a pagar".
O combate à especulação imobiliária é uma das prioridades, reforçando a necessidade de colocar a uso, "com preços sociais", os imóveis devolutos do Estado, dos grandes proprietários, fundos e empresas, assim como o aumento de habitação pública.
Pelo menos 22 cidades portuguesas aderiram à manifestação convocada pela plataforma Casa Para Viver, em defesa do direito à habitação, com protestos a acontecer em simultâneo do norte a sul de Portugal continental e nos arquipélagos dos Açores e da Madeira.
Para a plataforma - que junta mais de cem organizações e já mobilizou milhares de pessoas nas ruas de várias cidades em três manifestações (junho e setembro de 2023 e janeiro deste ano) -, o novo Governo, liderado pelo social-democrata Luís Montenegro, "está bastante comprometido com aquilo que é o negócio imobiliário".
"Os preços e as rendas das casas continuam a subir, a sobrelotação aumenta, assim como as barracas, as pessoas em situação de sem-abrigo e os despejos. A maior parte do nosso salário, senão todo (e muitas vezes este já não chega!), é gasta a pagar a casa. Desta forma, é inevitável que a pobreza aumente", referem os organizadores.
A última manifestação pelo direito à habitação, em 27 de janeiro, mobilizou 19 cidades.
[Notícia atualizada às 00:51 de dia 29/9]