O número de ciclones que atingem Moçambique "vem aumentando na última década", bem como a intensidade dos ventos, alerta-se no relatório do Estado do Clima em Moçambique 2024, do Instituto de Meteorologia de (Inam), consultado hoje pela Lusa.

O Inam refere no documento que, apesar do relatório fazer referência a 2024, realizou uma análise "por décadas de ciclones tropicais que atingiram Moçambique", nas épocas ciclónicas (novembro a abril) de 1981/1982 à atual, de 2024/2025.

"Importa realçar que a metade da quinta década (2021-2030), da série climática em análise, supera a segunda e quarta décadas, por quatro ciclones. Isto é, em apenas cinco anos a costa moçambicana já foi fustigada por dez ciclones tropicais", aponta-se no relatório anual.

Acrescenta-se que, alargando a análise ao período de 1954 a 2024, é observada "uma tendência positiva na formação de ciclones tropicais", bem com uma "tendência de aumento de ciclones que atingem Moçambique".

No estudo reconhece-se que houve uma "abrandamento na intensidade" dos ventos em 2023, tendência novamente invertida em 2024, nomeadamente com o ciclone tropical Chido, que atingiu o norte do país em dezembro passado, com ventos até 240 quilómetros por hora, sendo mesmo o "terceiro mais intenso a fustigar a costa moçambicana na atual década", após o Freddy (duas entradas em terra, em 2023).

"De recordar que os sistemas ciclónicos são uma grande ameaça devido à combinação de ventos fortes e chuvas intensas. Porém, sistemas de menor categoria estão associados a altas quantidades de chuvas", alerta-se.

Moçambique é considerado um dos mais severamente afetados pelas alterações climáticas globais, enfrentando ciclicamente cheias e ciclones tropicais durante a época chuvosa, mas também períodos prolongados de seca severa.

Só entre dezembro e março últimos, na atual época ciclónica, o país já foi atingido por três ciclones, incluindo o Chido, o mais grave, que, além da destruição de milhares de casas e infraestruturas, provocaram cerca de 175 mortos, no norte e centro do país.

No relatório do Inam destaca-se que "uma consequência das mudanças climáticas é a ocorrência cada vez mais frequente de eventos climáticos extremos", incluindo secas intensas e prolongadas, ou tempestades e ciclones tropicais, defendendo a aposta em sistemas de aviso prévio como "solução urgente e necessária".

"Estas anomalias evidenciam os desafios crescentes da previsão dos sistemas climáticos no país, exigindo uma análise científica robusta sobre este paradoxo e desenvolver ações coordenadas para mitigar os seus impactos", refere o diretor-geral do Inam, Adérito Aramuge, na mensagem que escreve no relatório.

Eventos extremos, como ciclones e tempestades, provocaram pelo menos 1.016 mortos em Moçambique entre 2019 e 2023, afetando cerca de 4,9 milhões de pessoas, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE).

Ciclones a atingir Moçambique estão a aumentar e ventos são mais intensos
Ciclones a atingir Moçambique estão a aumentar e ventos são mais intensos dnoticias.pt

Moçambique atinge temperaturas "sem precedentes" em pelo menos 75 anos

Moçambique registou em 2024 uma temperatura média "sem precedentes" nos últimos, pelo menos, 75 anos, 1,2 graus centígrados acima da análise anterior, com estações pelo país a registarem mais de 44 graus centígrados, segundo dados oficiais.

De acordo com o relatório anual do Estado do Clima de Moçambique - 2024, do Instituto Nacional de Meteorologia (Inam) e ao qual a Lusa teve hoje acesso, este aumento fica "muito próximo ao limiar" de 1,5 graus centígrados estabelecido pelo Acordo de Paris, para reduzir significativamente os riscos e impactos das mudanças climáticas.

"O Acordo de Paris inclui o compromisso de manter, no presente século, o aumento da temperatura média global bem abaixo dos dois graus celsius, em comparação com os tempos pré-industriais, e a necessidade de esforços adicionais para limitar o aumento da temperatura ainda mais a 1,5 graus", recorda o Inam.

O relatório, que calcula que a temperatura média do país ficou 1,2 graus acima da média do período anterior de 1981 -- 2010, também aponta que em 2024 a temperatura mais alta registada na rede de estações meteorológicas do Inam foi de 44,5 graus em Chingodzi, na província de Tete, centro do país, em 28 de outubro. Além disso, em Xai-Xai, província de Gaza, no sul, foi registada uma temperatura máxima de 42,4 graus e em Maputo de 43 graus.

"Quase toda a extensão das províncias da Zambézia e Sofala, e partes das províncias de Niassa, Nampula, Tete, Manica, Inhambane e Gaza registaram o mês de dezembro de 2024 mais seco de sempre (1981 a 2024)", lê-se igualmente no estudo.

No histórico do Inam, a estação de Chingodzi, na cidade de Tete, também registou o pico das temperaturas monitorizadas desde 1951, ao ter atingido em 18 de novembro de 2023 os 49,9 graus.

"Estas informações sobre temperatura média recorde, secas persistente e chuvas excessivas destacam um padrão severo de eventos climáticos extremos que evidenciam a ocorrência de mudanças climáticas", refere o diretor-geral do Inam, Adérito Aramuge, na mensagem que escreve no relatório.

O relatório de 2024 aponta que, no que diz respeito à seca, "foram quebrados recordes nacionais", no centro e sul, mas destaca igualmente o registo de "precipitação extrema um pouco por todo o país".

Moçambique é considerado um dos mais severamente afetados pelas alterações climáticas globais, enfrentando ciclicamente cheias e ciclones tropicais durante a época chuvosa, mas também períodos prolongados de seca severa.

Entre dezembro e março últimos, o país já foi atingido por três ciclones que, além da destruição de milhares de casas e infraestruturas, provocou cerca de 150 mortos, no norte e centro do país.