Durante décadas, fizeram parte da paisagem lisboeta com o seu vestuário colorido, os pés descalços, a “ginga” característica e os pregões para vender o peixe. Mais tarde, foram transformadas numa espécie de símbolo da capital, representadas em ilustrações, figuras de quadro da Revista e citadas em letras de fado. Mas a saga das varinas e dos varinos na capital tem raízes nas terras do distrito de Aveiro, onde o assoreamento da ria, por volta dos séculos XVII e XVIII, ditou a migração para outras paragens.
Aos poucos foi-se constituindo uma colónia na capital, fixando-se nos bairros mais pobres, como Madragoa e Alfama, que eram também dos que tinham melhor acesso à faina do rio. Alguns viviam de forma permanente nas humildes barcaças. A comunidade varina mantinha ligações familiares próximas e era comum casarem-se entre si, numa endogamia fechada. A vida gravitava em torno da pesca e da venda do peixe, com o Mercado da Ribeira como polo central.
Ao longo dos anos, as autoridades tentaram domar estas criaturas cuja existência era dividida entre as ruas e as águas, de tal forma que alguns apelidavam-nas de “anfíbias”. Proibiu-se que andassem descalças nas ruas ou que amanhassem o peixe na via pública, mas são célebras as zaragatas e o “chinfrim” causado cada vez que a polícia tentava levar uma varina para a esquadra.
As alterações económicas na capital (e no mundo) determinaram que o peixe deixasse de ser vendido porta a porta, e a figura das varinas foi remetida para as memórias míticas da capital, homenageada todos os anos, por alturas dos santos populares, na marcha da Madragoa.
Neste episódio de Histórias de Lisboa, Miguel Franco de Andrade e a historiadora da Câmara Municipal de Lisboa, Sofia Tempero, conversam sibre as Varinas – um Símbolo de Lisboa.
Histórias de Lisboa é um podcast semanal do jornalista da SIC Miguel Franco de Andrade com sonoplastia de Salomé Rita e genérico de Nuno Rosa e Maria Antónia Mendes.
A capa é de Tiago Pereira Santos em azulejo da cozinha do Museu da Cidade - Palácio Pimenta.
Ouça aqui as ‘Histórias de Lisboa’: