
Uma década depois de chegar à presidência do Governo Regional da Madeira, Miguel Albuquerque somou no domingo mais uma vitória e, apesar de ter voltado a falhar a maioria absoluta, reforçou a votação e conquistou mais quatro deputados.
Além disso, naquela que é a 15.ª vitória consecutiva do partido na Madeira desde 1976, a tarefa de chegar à maioria absoluta e alcançar a desejada "estabilidade" poderá estar facilitada, na medida em que o CDS-PP, que já governou com o PSD e que nesta legislatura tinha um acordo de incidência parlamentar com os sociais-democratas, ficou com um deputado.
A infância, a adolescência e os primeiros passos na política
Miguel Albuquerque tem 63 anos, nasceu em 04 de maio de 1961, e foi durante alguns anos considerado o 'delfim' de Alberto João Jardim, o histórico dirigente social-democrata com quem acabaria por entrar em 'rota de colisão' antes de o suceder na liderança do PSD/Madeira e do Governo do arquipélago.
Educado pelos avós maternos, a "infância bastante feliz" foi passada numa quinta, com o irmão Francisco, que mais tarde se tornaria enólogo. Do avô materno, o tenente Machado, um resistente antifascista que chegou a estar preso em São Tomé e em Cabo Verde durante o Estado Novo, recebeu a "grande influência" que o levou a seguir pelo caminho da política.
Mas, além da influência política, dos avós recebeu outros ensinamentos como a importância da "escola da vida", razão pela qual no verão os irmãos Albuquerque iam trabalhar.
Ainda hoje grande apreciador de música, nomeadamente de jazz, aos 16 anos Miguel Albuquerque começou também a tocar piano em hotéis durante as férias. Mais tarde, surgiu a banda "Velhos Hotéis", com um grupo de amigos.
A licenciatura em Direito foi tirada em Lisboa, regressando no final à Madeira, onde exerceu advocacia entre 1986 e 1992, com escritório aberto no Funchal, especializando-se nas áreas de Direito Criminal e de Família.
Paralelamente, Miguel Albuquerque dava os primeiros passos na política, numa estreia ainda não no PSD, mas no Movimento de Apoio a Mário Soares nas presidenciais de 1986.
Dois anos mais tarde, foi eleito deputado regional, já nas listas do PSD, mantendo-se como parlamentar social-democrata também na legislatura seguinte. Em 1990, chegou igualmente à liderança da JSD/Madeira, cargo que ocupou durante dois anos, seguindo-se a eleição como secretário-geral adjunto do PSD/Madeira (1992-1995).
Em 1993 abandonou a advocacia para concorrer como número dois na lista do PSD/Madeira à Câmara Municipal do Funchal encabeçada por Vergílio Pereira, que substituiu no ano seguinte, depois de o autarca se ter demitido em "rota de colisão" com o então presidente do Governo Regional devido a divergências sobre as transferências para o município.
Depois de vencer com maioria as autárquicas de 1998, 2001, 2005 e 2009, abandonou a presidência da Câmara do Funchal em 1993, devido à lei de limitação de mandatos. Nessa altura regressou à advocacia, dedicando-se à área do Direito Empresarial.
Enquanto esteve à frente do maior município madeirense foi igualmente presidente da Associação dos Municípios da Madeira (1994-2002), vice-presidente do PSD/Madeira e responsável pelo conselho de jurisdição da estrutura regional do partido, cargo a que renunciou, em abril de 2011, por discordar com a linha política seguida.
Albuquerque foi o primeiro a questionar a liderança de 40 anos de Alberto João Jardim
Foi, aliás, no final do mandato na presidência da Câmara do Funchal que o clima de crispação com o então presidente do Governo Regional e do PSD/Madeira se acentuou, com Miguel Albuquerque a ser o primeiro a questionar a liderança de 40 anos de Alberto João Jardim, numas eleições diretas disputadas em 2012, das quais saiu derrotado por 142 votos.
Em dezembro de 2014 voltou a concorrer à liderança do PSD/Madeira, apresentando-se como um dos seis candidatos à sucessão de Jardim. À segunda volta venceu Manuel António Correia, com 64% dos votos, tomando posse como presidente dos sociais-democratas madeirenses em 10 de janeiro de 2015.
Naquilo que considerou ter sido "um processo natural", chegou à presidência do Governo da Madeira em 20 de abril de 2015, depois de vencer as regionais de 29 de março, na única vez que conseguiu alcançar uma maioria absoluta.
Os recordes regionais de natação, o cuidado com o corpo e as "experiências gastronómicas que têm sido um sucesso"
À política foi juntando ao longo dos anos outras paixões, como por peças em porcelana ou, a mais conhecida de todas, pelas rosas. Chegou a ter um dos maiores roseirais da Europa, na zona norte da ilha da Madeira, com uma coleção com cerca de 17 mil roseiras de mais de 1.700 espécies.
O gosto pela horticultura levou mesmo a que fosse considerado "chefe dos jardineiros da Quinta da Vigia", a residência oficial do presidente do Governo Regional.
Pai de seis filhos e avô de duas netas, Miguel Albuquerque é considerado pelos amigos como "um bom garfo", mas continua a cultivar o gosto pelo desporto que vem dos tempos em que batia recordes regionais de natação e treinava nas piscinas dos hotéis, por falta de infraestruturas desportivas.
Hoje, os mergulhos no mar continuam a fazer parte do seu dia-a-dia, mas no final do ano voltou igualmente a participar na corrida de São Silvestre do Funchal.
A parte muscular também não é descurada com exercícios de ginásio, pois, como escreveu recentemente nas redes sociais, "manter o foco e cuidar do equilíbrio é essencial, tanto no treino quanto no dia-a-dia".
Mas, nas redes sociais os seguidores de Miguel Albuquerque podem também ver fotos da família, da cadela Sissi - que todos os dias o recebe com "carinho e energia" na Quinta Vigia - ou confirmar as "experiências gastronómicas" do presidente do Governo Regional, que começaram com uma brincadeira no Dia dos Namorados, mas que se têm revelado "um grande sucesso".
"Gosto de tocar piano, gosto de arte, de ler e de viajar. Mas também cozinho", escreveu na legenda do vídeo que publicou em 14 de fevereiro a preparar um "Spaghetti alla putanesca".
Dias depois surgiram os "Ovos à Albuquerque", "uma receita de ovos à francesa" que tem feito "algum sucesso e é muito simples" e, mais recentemente, uma quiche de atum e espinafres, "um prato muito saboroso e muito económico".
"Começo a encontrar tranquilidade nas experiências gastronómicas", escreveu na legenda do vídeo que partilhou no início da semana, ainda longe de saber os resultados das eleições de domingo, que apesar de não lhe terem assegurado uma maioria absoluta, deverão trazer mais tranquilidade do que o atual executivo minoritário.
Com Lusa