Na última semana de debates, e no penúltimo frente-a-frente de ambos, o secretário-geral do PS e o líder da CDU encontraram-se, na RTP1, num frente-a-frente que arrancou com um breve comentário de cada um à notícia do dia - a morte do Papa Francisco. E se quer Pedro Nuno Santos, quer Paulo Raimundo lamentaram a morte de “um homem bom e generoso” que “teve a coragem de pôr o dedo na ferida”, a partir daí seguiram diferentes caminhos, ainda que concordando nos problemas.

Questionado sobre se há caminho para entendimentos entre comunistas e socialistas, o socialista começou por apontar ao PCP o "erro histórico" de equiparar o PS e a AD, tendo sido imediatamente interrompido por Paulo Raimundo que acusou Pedro Nuno Santos de trazer uma “frase feita”.

“O PCP comete um erro histórico numa equiparação entre o PS e a AD, infelizmente reiteradamente faz uma equiparação errada. (…) Não ganhámos as eleições de 10 de março de 2024, respeitámos o resultado eleitoral e demos condições de governabilidade e estabilidade ao país, e não queríamos levar o país novamente a eleições em outubro. O PS mostrou estar à altura do país”

Perante a mesma pergunta, Paulo Raimundo não fechou a porta a um acordo mas apenas e só se o PS mudar o caminho que tem seguido, e escolher a valorização, por exemplo, das carreiras dos profissionais por turno, a resposta à crise da habitação e o reforço dos meios do SNS.

“Se é para continuar por caminhos diferentes, mas o mesmo rumo, connosco não contam. Aquilo a que temos de responder é à viabilidade de quem trabalho por turnos, de mais meios para o SNS, creches, etc., se é para este caminho contam connosco. Há sempre caminho, mas se é para continuar este rumo, o Pedro Nuno Santos sabe que connosco não conta, não vale a pena”

Voto útil, eis a (não) questão

A questão do voto útil voltou a estar em cima da mesa ou não seria um debate com o líder do PS. O socialista repetiu que o PS só pode vencer as eleições e derrotar a AD, se não houver ”uma grande dispersão de votos". Paulo Raimundo aproveitou e apelou ao voto na CDU.

“A única forma de garantir uma política correta é mais votos, dar mais força, mais deputados à CDU. A experiência demonstra que face aos cenários que se atravessam é preciso coragem e determinação para, por exemplo, enfrentar a direita, travar esta loucura do militarismo, e para de uma vez por todas haver uma políítica ao serviço da maioria”

Na resposta, e pegando na coragem, Pedro Nuno Santos defendeu que a coragem na política está "em ir ao limite daquilo que é possível", garantindo que é isso que fará o PS. Mas foi mais longe e acusando os comunistas de fazerem "propostas que ficam bem como promessa, mas depois não têm aplicabilidade".

"Ou há uma opção ao serviço da minoria, ou há uma opção ao serviço da maioria. E é isto que é preciso responder. E desse ponto de vista tenho que sublinhar que o programa do PS é assim um bocadinho poucochinho. E até diria que mesmo a conversa do choque salarial é assim um espirro salarial", insistiu Raimundo.

Unidos na Saúde e…

O tema da Saúde trouxe o Governo para o debate. “Esta é uma das áreas de maior falhanço de Montenegro. As suas políticas e promessas enganaram o povo português. Disse que era fácil e rápido, e tudo piorou”, atacou o socialista, vincando que “é preciso proteger o SNS” e deu um exemplo concreto.

“Oncologia pediátrica nenhum privado trata porque não é um negócio, um hospital público nunca diz que não a ninguém, Por isso defendemos a fixação de profissionais, é preciso rever as regras de progressão, dar condições de alojamento e também [é preciso] mudar a filosofia do SNS para em vez de tratamento, apostar na prevenção para garantirmos que as doenças crónicas se mantêm estabilizadas”

Apesar de concordar que “não é facil resolver [esta questão] de um dia para o outro”, Paulo Raimundo disse que ainda assim “podíamos ter chegado a uma situação diferente, não é aceitável que haja 19 urgências fechadas", destacando o facto de serem, sobretudo, "urgências pediátricas e de obstetrícia. Isto cria dificuldades e inseguranças”.

… na imigração regulada

Sem poder confirmar números, o líder do PS optou por falar daquilo que, disse, “é evidente: o Governo tem usado a política de imigração e os dados para fazer campanha, por isso não posso comentá-los”.

Já Paulo Raimundo vincou que “precisamos de imigrantes, a economia não funciona sem eles” e uma das medidas propostas pela CDU “é dotar a AIMA dos meios necessários para regularizar casos pendentes”. Acontece que, prosseguiu, “depois há outro problem, um certo tipo de imigração, de que ninguém fala, sobre os chamados vistos gold que compram o acesso ao nosso país por 500 mil euros. Nós não estamos dispostos a vender o país”.

O socialista concorda com a imigração regulada, “através dos canais regulares e legais”, mas quanto aos vistos gold para a habitação, lembrou que “já não existem”.

O apelo ao voto

Antes de Paulo Raimundo fechar o frente-a-frente, o moderador da RTP questionou Pedro Nuno Santos sobre se já foi chamado para ser ouvido pelo Ministério Público, mas recusou “alimentar mais esse tema”. Ainda assim, não perdeu a oportunidade de sublinhar que se trata de uma “denúncia com motivação política” e que já disponibilizou toda a documentação: “Tivesse o meu adversário [Luís Montenegro] feito o mesmo e não estaríamos aqui”.

E acrescentou o socialista que “é possível termos um governo para todos, que defende a habitação, e apoio aumentos saláriais, o que ”não podemos é fazer promessas e depoiss não termos empresas capazes de pagar", disse, sendo interrompido pelo adversário: “Não venha com o argumento do Rui Rocha para mim".

“O compromisso que assumimos é com a vida das pessoas. Quem é que põe a economia a funcionar? Quem é que põe o país a funcionar? São os trabalhadores mas parte fundamental da riqueza que criam está a ir para os lucros que se acumulam. A não ser que achemos normal um país como o nosso ter 19 grupos económicos que concentram por dia 32 milhões de lucro. Se acharmos que é normal então a política a seguir é a deste governo, na continuidade da maioria absoluta do PS, se não, temos que alterar a política e seguimos outro caminho. Salários, pensões, reformas, creches, lares, habitação, tudo isso só é possivel com uma CDU mais forte”