
Focado em assumir o papel de líder da oposição, para o qual aguarda a confirmação dos votos dos emigrantes, André Ventura diz que é "menos provável" que se candidate às eleições presidenciais. Não exclui, por isso, apoiar um candidato "independente e acima dos aparelhos partidários", num movimento que deixa a porta entreaberta para um possível apoio à candidatura de Henrique Gouveia e Melo. O líder do Chega declara que é, pelo menos, certo que não apoiará Luís Marques Mendes, que "representa o pior que o sistema tem".
Em entrevista esta terça-feira, no Jornal da Noite da SIC e na Edição da Noite da SIC Notícias, voltou a defender a necessidade de uma revisão constitucional, insistindo nas alterações que têm vindo a ser bandeiras do partido: menos deputados na Assembleia da República, o fim dos limites das penas de prisão e retirar as referências ao socialismo da Constituição.
"Faz sentido estarmos a caminhar para o socialismo na Constituição? Eu quero uma Constituição que permita que todos nos sintamos representado. Ao mesmo tempo queremos penas mais duras para os crimes, queremos que a corrupção entre numa nova fase de combate",
Assumindo-se como um "democrata de coração", André Ventura garantiu que as alterações que pretende fazer na Constituição não têm como objetivo "atentar contra as liberdades das pessoas".
"Governo sombra permitirá que a imprensa e país escrutinem"
O Chega pode afirma-se, esta quarta-feira, como a segunda força política no Parlamento. Os votos da emigração começaram esta terça-feira a ser contados e, até agora, confirmam o que já se previa: é provável que o partido de Ventura supere o Partido Socialista no número de deputados. E é por esse momento que Ventura aguarda para dar mais detalhes sobre o Governo sombra que está a preparar.
"Quando amanhã pudermos anunciar que somos líderes da oposição, então acho que o Governo sombra faz sentido para mostrar que estamos a trabalhar para ser alternativa de Governo. Acho importante que o líder da oposição construa um Governo sombra de qualidade e não de cartão partidário", referiu, acrescentando que, "nos próximos tempos", anunciará os nomes, para que possam ser escrutinados.
André Ventura prepara-se para assumir com "tranquilidade" as responsabilidades que terá como líder da oposição, nomeadamente, ser um dos principais interlocutores do Governo no que diz respeito a matérias que necessitam de consensos, como questões de Defesa, segurança nacional, informações da República e Negócios Estrangeiros. No entanto, promete influenciar o Executivo de Luís Montenegro em algumas delas como, por exemplo, a necessidade de normalizar as relações da Europa com os Estados Unidos.
"Não somos muletas, nunca fomos. A oposição será construtiva", sublinhou.
Com o crescimento nestas eleições legislativas, o Chega pode assumir novos papéis em órgãos do Estado: pode, por exemplo, ter mais um lugar no Conselho de Estado, ou escolher novos juízes do Tribunal Constitucional. Ventura garantiu que, para já, ainda não contactou ninguém no sentido de ocupar esses lugares.
Sobre as eleições autárquicas, que se realizam já no fim do verão, o líder do Chega admitiu que corre o risco de perder "talento" na Assembleia da República, uma vez que alguns deputados são candidatos a Câmaras Municipais. Referiu, no entanto, que é importante para o partido "governar na proximidade".