
Uma conhecida instituição projetada pela comunidade portuguesa na Venezuela para apoiar e albergar idosos está sem fundos, mesmo estando já a operar a menos de metade da sua capacidade, alertou em declarações à Lusa o seu presidente.
"Já estamos em abril e posso dizer que não temos os recursos para terminar o mês. Mas estamos confiantes que os vamos ter, graças ao apoio de muitos conterrâneos e de empresários dedicados que põem uma mão no coração e metem a outra na algibeira e nos ajudam", disse este domingo o lusodescendente Carlos Fernando Carvalho à Lusa, presidente do Lar Padre Joaquim Ferreira (LAR) para a terceira idade.
Esta conhecida instituição, projetada pela comunidade portuguesa e impulsionada pela Sociedade de Beneficência de Damas Portuguesas de Caracas, com o apoio de vários organismos, entre eles a Academia do Bacalhau de Caracas, tem capacidade para acolher uma centena de anciãos, mas opera a 40% da sua capacidade.
As dificuldades com o fluxo de caixa diário estão a causar constrangimentos ao funcionamento, o que levou a Academia do Bacalhau, os Parceiros da Nau sem rumo e as Netas do Lar, a realizarem este domingo uma tertúlia de solidariedade para angariar fundos para o Lar, na qual participaram 200 pessoas.
"É difícil manter esta instituição, mas realizamos atividades para produzir o fluxo de caixa diário para poder sustentar os 'avozinhos'" (como são designados, carinhosamente, os residentes), disse Carlos Fernando Carvalho, recordando que a mãe e a sogra estiveram entre as pessoas que ajudaram a fundar o LAR.
"Poderíamos ter mais avós aqui, mas temos a responsabilidade de os manter bem e isso tem um custo", referiu, detalhando que alguns deles contam com "um padrinho" que os ajuda, mas que todos precisam diariamente de alimentos, roupa, medicamentos, exames médicos, tratamentos especializados e até de atividades de entretenimento.
"Temos 40 avozinhos aqui [residentes] e todos trabalhamos em equipa para atendê-los. Estou muito agradecido aos grupos da comunidade como a Academia do Bacalhau, aos Parceiros, os Heróis do Mar, Los Panas [Os Amigos] e as Netas do Lar por tudo o que fazem para angariar fundos, pelas ajudas", disse, referindo ainda que há alguma ajuda também do Governo de Portugal e de outros projetos, mas "são doações módicas", sempre "bem recebidas".
Carlos de Freitas Alves, presidente de Os Parceiros da Nau Sem Rumo, explicou à Lusa que há anos que organizam eventos e arraiais para angariar fundos para ajudar portugueses e venezuelanos carenciados ou doentes.
"Viemos ao lar fazer uma tertúlia, recuperar uma antiga tradição que já não fazíamos há uns cino anos", disse realçando a alegria dos anciãos do LAR ao conviver com compatriotas e ao ouvir música portuguesa, o Grupo de Música Parceiros Banda Show e a Banda Filarmónica Portuguesa da Venezuela.
Explicou que cada vez se justifica mais a solidariedade porque cada dia há mais carenciados no pais, também entre a comunidade lusófona e lusodescendente.
"Na Venezuela não vive gente rica. Os ricos já foram embora. Aqui ficamos os trabalhadores e empreendedores, pessoas que verdadeiramente trabalham por este país e pelo nosso Portugal", disse.
Por outro lado, Antonino Ponte, da Academia do Bacalhau de Caracas, sublinhou estar orgulhoso de poder ajudar o LAR que, insistiu, "é uma grande casa, construída de alma e coração pela imigração portuguesa para atender os mais necessitados da comunidade".
"A pandemia da covid-19 prejudicou muito. Antes fazíamos cá periodicamente estas tertúlias, mas agora estamos aqui outra vez a alegrar quem necessita de um conforto, de alegria, ver o espírito dos contemporâneos comprometidos", disse.