O fornecimento contínuo de energia eléctrica aos hospitais em cenários de crise foi uma das principais preocupações expressas no segundo painel da iniciativa 'Conversas com a Sociedade', promovida pela Ordem dos Engenheiros — Região Madeira.

Através de uma nota de imprensa, refere que "o debate centrou-se na resiliência das infraestruturas essenciais da Região Autónoma face a apagões e fenómenos extremos, como cheias ou incêndios, com base nas lições dos desastres de 2010 e 2016".

Luís Rodrigues, representante do SESARAM, foi perentório ao afirmar que “as unidades de cuidados intensivos e os blocos operatórios não podem falhar. A energia tem de ser garantida a 100%”. O hospital Dr. Nelio Mendonça dispõe actualmente de grupos geradores com autonomia entre 10 a 12 horas, mas o reabastecimento de combustível durante um apagão prolongado é uma preocupação constante.

“Se falharem as comunicações, não conseguimos garantir o abastecimento. Essa é a nossa maior fragilidade”, reconheceu.

A resposta a esse risco está, em parte, prevista nos planos nacionais. Pedro Condenso, da GALP, destacou que “em situações de emergência, activamos a Rede de Postos de Abastecimento Prioritário (REPA), que garante combustível a hospitais, forças de segurança, prisões e outras infraestruturas críticas”. No entanto, alertou para a necessidade de comunicar essas restrições de forma clara à população:

É fundamental evitar o pânico e assegurar que as pessoas compreendem que a REPA serve os serviços prioritários". Pedro Condenso

Nelson Melim, da ANACOM, fez um balanço das melhorias introduzidas nas comunicações desde o temporal de 20 de fevereiro de 2010.

“Foi um grande ensinamento. Havia cabos suspensos sob pontes, extremamente vulneráveis. Hoje temos anéis de redundância e infraestruturas subterrâneas que nos dão outra resiliência”, afirmou.

No entanto, reconheceu que persistem desafios, nomeadamente “em zonas florestais onde os cabos de energia continuam expostos”.

Do lado da Protecção Civil, o Vice-Presidente, Paul Afonseca, realçou que, embora o apagão nacional de abril passado não tenha afetado a Madeira, “o Centro de Coordenação Operacional de Emergência foi ativado como exercício de teste”, explicou o engenheiro do Serviço Regional.

“Só com treinos regulares podemos identificar falhas e melhorar a resposta real”, acrescentou.

Na componente digital, Nuno Perri, presidente da delegação da Madeira da Associação de Auditores do curso de Defesa Nacional, alertou para a crescente interdependência entre eletricidade, telecomunicações e sistemas digitais.

“A digitalização aumenta a superfície de ataque. Se falha a energia ou a rede, falha tudo o resto. E a cultura de risco, infelizmente, ainda é muitas vezes negligenciada”, afirmou.

Esta sessão reforçou a urgência de investir na redundância e protecção de infraestruturas críticas. Como concluiu Luís Rodrigues do SESARAM, “os doentes acamados em casa, com suporte eléctrico, também são clientes prioritários. Temos de garantir-lhes segurança — mesmo no pior cenário.”

A iniciativa 'Conversas com a Sociedade' decorre entre 2025 e 2028, promovendo debates sobre temas de elevado interesse público, com uma abordagem técnica e aberta à participação cívica.