"O arsenal nuclear do Paquistão deve ser colocado sob a supervisão da AIEA. Quero dizer isto muito claramente", declarou o ministro da Defesa indiano, Rajnath Singh, citado pela agência de notícias France-Presse (AFP).

Durante uma visita ao quartel-general das forças armadas em Srinagar, a principal cidade da Caxemira indiana, o ministro questionou se as armas nucleares estarão seguras "nas mãos de uma nação incontrolável e irresponsável".

O Paquistão não reagiu de imediato.

Os dois países com armas nucleares envolveram-se na semana passada no confronto militar mais mortífero desde a guerra de 1999.

Na noite de 06 para 07 de maio, a Índia disparou mísseis contra locais no Paquistão que, segundo Nova Deli, abrigavam membros do grupo 'jihadista' suspeito do atentado que matou 26 pessoas em 22 de abril na Caxemira indiana.

O Paquistão, que negou qualquer responsabilidade pelo ataque, retaliou imediatamente.

Durante quatro dias, os dois exércitos trocaram tiros de artilharia e ataques com mísseis e 'drones', alimentando sérios receios de um conflito em grande escala.

Para surpresa geral, o Presidente norte-americano, Donald Trump, anunciou um cessar-fogo imediato no sábado, que foi imediatamente confirmado por ambas as partes.

O grupo de antigas personalidades conhecido como os "Anciãos" defendeu hoje em Tóquio a não-proliferação nuclear.

O ex-secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, lançou o alerta para o sul da Ásia.

"Existe a possibilidade de o sistema de segurança internacional ser completamente destruído se a Índia ou o Paquistão utilizarem armas nucleares", advertiu.

O ex-presidente colombiano, Juan Manuel Santos, questionou onde esteve a ONU, liderada pelo português António Guterres, durante o conflito.

As tréguas têm sido respeitadas na fronteira entre os dois países, mas a retórica continua a ser muito agressiva.

"A Índia não vai tolerar a chantagem nuclear", afirmou o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, na segunda-feira à noite.

A Índia negou categoricamente notícias de um ataque a uma instalação nuclear paquistanesa situada a cerca de 200 quilómetros das várias cidades recentemente atingidas por mísseis indianos.

O porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros indiano, Randhir Jaiswal, assegurou na terça-feira que a operação militar da Índia "permaneceu convencional".

Durante toda a crise, o Paquistão repetiu que a opção nuclear nunca foi considerada.

"Seria inconcebível e estúpido porque colocaria em risco 1,6 mil milhões de pessoas", afirmou o porta-voz do exército, general Ahmed Chaudhry.

A Índia dispõe de armas atómicas desde a década de 1990, transportadas por mísseis terra-terra de alcance intermédio.

O Paquistão possui mísseis nucleares terra-terra e ar-terra de curto e médio alcance, e efetuou os primeiros testes em 1998.

O exército paquistanês disse que os ataques indianos mataram 40 civis e que perdeu 13 soldados.

Já Nova Deli deu conta da morte de 16 civis e cinco soldados em território indiano.

Apesar do desanuviamento no terreno, a Índia e o Paquistão são inflexíveis e afirmam que não vão baixar a guarda.

"Se outro ataque terrorista tiver como alvo a Índia, responderemos com firmeza", avisou Modi.

Numa conversa telefónica com Guterres na quarta-feira, o primeiro-ministro paquistanês, Shehbaz Sharif, afirmou estar "preocupado com as declarações provocatórias e inflamatórias da Índia".

A Índia e o Paquistão disputam a soberania de Caxemira desde a sangrenta divisão aquando da independência em 1947.

O destino do território dos Himalaias, povoado maioritariamente por muçulmanos, deu origem a várias guerras entre os dois países.

Desde 1989, o lado indiano tem sido palco de uma insurreição separatista que já causou dezenas de milhares de mortos.

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