Um projecto-piloto para experiência de utilização de Inteligência Artificial (IA) por parte de alunos e professores vai ser implementado “numa ou duas escolas” da Madeira no próximo ano lectivo. A novidade foi avançada pelo secretário regional de Educação, esta manhã, na abertura das VIII Jornadas de Educação, promovidas pelo Sindicato Independente de Professores e Educadores (SIPE) e subordinadas ao tema ‘A Escola de Hoje: Inovar para Transformar’.

Perante uma plateia de professores, Jorge Carvalho referiu que “o aparecimento dos ‘smartphones’ e ‘tablets’ constitui uma revolução tecnológica que só é comparável provavelmente à revolução do aparecimento da imprensa de Gutenberg, no século XV”, pois veio “alterar de forma muito significativa as relações dentro da escola”. “Como cada um passou a ter o seu equipamento, a informação e o conhecimento deixaram de estar concentrados no professor, na escola e na sala de aula. Isso cria tensões e desconforto e alterou significativamente o papel do professor, deixando de ser o centro e o transmissor do conhecimento, tem aqui uma responsabilidade acrescida em termos da gestão da informação, do aprimorar do conhecimento e leva a criarem-se dinâmicas que são completamente diferentes daquelas que até hoje eram conhecidas”, descreveu.

Inteligência Artificial entra nas escolas da Madeira no próximo ano lectivo
Inteligência Artificial entra nas escolas da Madeira no próximo ano lectivo dnoticias.pt

O governante defendeu que perante a inovação há sempre dois caminhos: ou resistimos, tentamos travar a evolução como aconteceu no final do séc. XIX aquando da revolução industrial, com o movimento do ludismo, que entrava nas fábricas e destruía os equipamentos, porque entendia que o que era manufacturado era importante e os postos de trabalho ficavam em causa; ou então apropriamo-nos do conhecimento. “Não podemos ficar à margem da História. Não podemos ser os Velhos do Restelo deste século. A tecnologia e o digital têm potencialidades mas acima de tudo são uma realidade. Como realidade, todos nós devemos nos apropriar dessa realidade, porque fica mais fácil depois de ultrapassarmos os desafios”, completou.

À entrada das estas jornadas, a presidente do SIPE a nível nacional, Júlia Azevedo, reconheceu que a Inteligência Artificial está a reformular a sociedade e o mercado de trabalho e coloca desafios às escolas, que precisam de “professores atentos, preparados e actualizados”, o que só se consegue através da formação. “A escola tem uma missão ainda mais exigente: ajudar os alunos a desenvolverem o espírito crítico, que é a forma de pensar de forma autónoma, de questionar, argumentar com lógica, distinguir factos de opiniões e de reconhecer manipulações. É óbvio que o professor tem que dominar as novas tecnologias e as novas pedagogias que vão surgindo ao longo da sua vida profissional. Compreender como funcionam os algoritmos da IA, como as redes sociais moldam a percepção da realidade e como a IA pode alterar o processo de aprendizagem e até influenciar nas decisões. O professor deve permanecer em constante formação”, declarou Júlia Azevedo.

Já a directora do SIPE na Madeira, Sandra Nogueira, referiu que muitas vezes aliamos a inovação pedagógica às novas tecnologias e ao mundo digital. “Também é isso, mas não é só isso”, alertou a representante sindical, que considera “muito limitador associar inovação pedagógica às ferramentas”. “A inovação pedagógica trata-se também das metodologias, centrar a aprendizagem no aluno e não no conhecimento. Isto tem de ser adaptado a cada aluno e a cada turma e torna-se difícil quando temos uma turma com 25 alunos. Tentar fazer um ensino diferenciado é extremamente difícil. Felizmente nós temos excelentes profissionais que o conseguem fazer”, argumentou.

Por fim, Carlinda Leite, professora catedrática da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto, que se iniciou na carreira docente há mais de meio século, realçou que um dos grandes desafios dos professores na actualidade é “serem transformadores no sentido positivo”. “Cada vez mais as questões ecológicas, a educação para o desenvolvimento, as tecnologias digitais e a Inteligência Artificial têm de ser trabalhadas no quotidiano das escolas e da acção pedagógico-didáctica dos professores. É um desafio que é cada vez mais presente o dos professores terem consciência do que os rodeia, de quem são os alunos com quem estão a trabalhar e encontrar continuamente formas de melhorar e de fazer aprender os novos e velhos conhecimentos”, concluiu.