Um jovem foi esfaqueado esta terça-feira à hora de almoço junto à Escola Secundária de São João do Estoril, concelho de Cascais. Ao Expresso, a PSP confirma que o suspeito, do sexo masculino, agrediu a vítima com recurso a uma catana, provocando-lhe um corte profundo numa mão.
A meio da tarde, em comunicado, a PSP revelou mais detalhes, dando conta que se tratou de uma situação de agressões com esfaqueamento, entre dois jovens, ambos de 18 anos.
"Após alerta da situação, os polícias deslocaram-se para o local, tendo contactado com a vítima que tinha a mão cortada. De imediato foi transportada para o Hospital de Cascais face à gravidade dos ferimentos. O suspeito já não se encontrava no local, tendo encetado fuga. Com base na descrição fornecida por testemunhas, foi movida uma perseguição apeada. O suspeito, apercebendo-se da presença dos polícias, arremessou a arma branca (uma catana) para uma zona de arbustos, vindo a mesma a ser recuperada". E "foi prontamente intercetado, momento em que se verificou que tinha um dos dedos cortados, necessitando também de receber tratamento hospitalar. Nenhum dos intervenientes é aluno da escola", revelou a Polícia.
Segundo a PSP, ter-se-á tratado de um ajuste de contas de membros de grupos rivais juvenis que "resultaram de situações anteriores". Os dois intervenientes apresentaram versões diferentes às autoridades sobre o sucedido, havendo ainda informações por confirmar.
Em declarações à Lusa, o segundo comandante dos Bombeiros Voluntários do Estoril informou que, pelas 13h18, foi recebido o alerta “para agressões” junto à Escola Secundária de São João do Estoril e, quando a ambulância chegou ao local, deparou-se com um jovem de 18 anos, “que sofreu agressões provocadas por uma catana” numa das mãos.
Cerca de 15 minutos depois, os bombeiros foram alertados para uma nova ocorrência de agressão física de um jovem, também de 18 anos, intercetado pela PSP junto ao Forte de Santo António da Barra, na Estrada Nacional 6 (Avenida Marginal).
De acordo com o responsável dos bombeiros, o jovem foi identificado como o agressor junto à escola e apresentava “múltiplas escoriações” na face e nos membros superiores.
Os dois jovens, que farão parte de grupos rivais, foram transportados para o Hospital de Cascais, mas o agredido com a arma branca foi entretanto transferido para o Hospital de São Francisco Xavier, em Lisboa.
Crimes juvenis dispararam
O último relatório final da Comissão de Análise Integrada da Delinquência Juvenil e da Criminalidade Violenta, coordenado pelo Ministério da Administração Interna - e publicado em abril do ano passado - revelou não só uma subida dos crimes cometidos por menores de 16 anos como uma tendência dos grupos organizados em se aproveitarem da mão de obra infantil e juvenil.
Em 2023, o número de crianças com menos de 12 anos ligadas a grupos de rua e envolvidas em atividades criminosas mais do que duplicou, passando de 29 dos casos registados em 2022 para 64 em 2023, podendo este número ainda aumentar já que estão contabilizados os primeiros dez meses do ano passado. Este número é, aliás, superior aos anos anteriores que servem de comparação até 2019.
A PSP e a GNR também registaram em 2023, 1840 crimes cometidos por jovens entre os 12 e os 16 anos, mais 8,2 % do que no ano anterior.
Também os criminalidade grupal aumentou: em 2023, foram 6757 os casos detetados pelas forças de segurança (mais 14,8% que em 2022). E cerca de um quarto desses crimes de grupos envolveu crianças e jovens entre os 12 e 21 anos. Segundo a PSP, a maioria dos grupos criminosos (54%) tem entre 3 e 4 elementos, 36% tem entre 5 a 10 suspeitos e em 10% o número de suspeitos envolvidos ascende a mais de dez.
Em 2022, na área da PJ houve um crescimento de 33% dos crimes que envolvem especial violência (sem especificação da idade dos suspeitos). No ano seguinte continuou a verificar-se um aumento neste indicador embora de forma mais ligeira (+5%).
Em 2022 foram 19 444 os jovens entre os 16 e 29 anos arguidos em algum tipo de processo-crime e foram 13 672 os condenados em primeira instância. Estes jovens (16 aos 29 anos) representam 28% e 29% do total de arguidos e condenados.
Os crimes mais frequentes praticados por crianças e jovens são o homicídio voluntário consumado, ofensa à integridade física grave, ofensa à integridade física simples, ameaça e coação, roubo, violação e extorsão.
‘Firmas’ aliciam jovens para o crime
A análise da comissão não é meramente quantitativa. Os peritos percecionaram a “existência das designadas ‘firmas’ e que se constituem como fortes componentes de aliciamento dos jovens (quer prévio, quer aquando da reintegração, após saída de um Centro Educativo)”. Estas ‘firmas’ são os grupos organizados que se aproveitam das fragilidades pessoais e sociais dos mais jovens para os aliciar para o submundo do crime. As ‘firmas’ “dão estatuto” e “existem papéis diferenciados” dentro destas organizações.
Os jovens “estão atualmente mais duros”, “quando são ‘apanhados’ já é tarde” e “muitos estão entregues a si próprios”, pode ler-se no documento.
[artigo retificado às 15h48 com a alteração da idade dos jovens e às 16h13 com o comunicado da PSP]