
"Esta atuação da Polícia da República de Moçambique [PRM] em Gorongosa já está a pôr em causa todo o processo do diálogo político nacional inclusivo. Porque quando nós assinamos este compromisso político era para normalizar a situação, dizer que vamos sentar todos aqui como moçambicanos e discutir o país", acusou Simango, em conferência de imprensa.
O partido acusa a PRM de ter travado, com recurso ao lançamento de gás lacrimogéneo, uma ação política do MDM, no domingo, que pretendia assinalar os 60 anos da vila da Gorongosa, província de Sofala, centro do país, afirmando que foram feridos 50 apoiantes do partido, um dos quatro com assento na Assembleia da República.
"Que fique bem claro, para todas as moçambicanas e moçambicanos, que a atuação da PRM tem manipulação política. E há violação do número cinco da sexta cláusula do compromisso político assinado no dia 05 de março, que é sobre a liberdade de realização das atividades político-partidárias. Um partido político nacional, registado, reconhecido pelas leis moçambicanas, não precisa de pedir uma autorização para fazer a sua manifestação política", enfatizou Simango.
Pelo menos duas pessoas ficaram gravemente feridas domingo numa intervenção da polícia moçambicana para dispersar a marcha do MDM na Gorongosa, confirmaram na segunda-feira as autoridades.
"Foram de forma reiterada avisados (...) Houve sequência de desobediência qualificada, daí que a polícia se viu obrigada a intervir, portanto, comunicando à Unidade de Intervenção Rápida. Fomos ao local, esgotadas todas as possibilidades de dialogar, recorremos ao uso de gás lacrimogéneo como instrumento de dispersão e houve alguns feridos e dois graves que foram levados ao hospital local", disse na segunda-feira Dércio Chacate, porta-voz do comando provincial da PRM em Sofala.
Este incidente surge um mês depois da promulgação (14 de abril), pelo chefe de Estado moçambicano, Daniel Chapo, da lei relativa ao Compromisso Político para um Diálogo Nacional Inclusivo, aprovada dias antes no parlamento.
Em causa está a lei feita com base no acordo entre o Presidente moçambicano e os principais partidos políticos, assinado em 05 de março, para ultrapassar o período de violência e agitação social que se seguiu às eleições gerais de 09 de outubro, que provocaram cerca de 400 mortos, saques, destruição de empresas e instituições públicas.
O líder do MDM garantiu que o partido está a avançar com queixas-crime contra os agentes da PRM responsáveis pela intervenção de domingo, assumindo que os membros do partido estavam apenas a realizar "uma marcha de saudação à celebração" do aniversário da Gorongosa.
"Nós não podemos estar a dialogar ao nível das lideranças, tendo os nossos membros a serem intimidados, perseguidos e ameaçados", afirmou Simango, exigindo a responsabilização criminal neste processo.
"Se isso não acontecer, já estamos a minar o processo do diálogo político nacional inclusivo", concluiu Simango.
Já o porta-voz da PRM em Sofala explicou que a corporação recebeu uma denúncia popular sobre a realização de passeatas na via pública, pelo MDM, de pessoas que se deslocaram da Beira, capital da província, para impedir as celebrações oficiais, e que além disso não comunicaram a ação às autoridades locais e administrativas, levando à intervenção policial.
"Cabia-nos, obviamente, repor a ordem pública e não deixar que indivíduos de forma premeditada pudessem causar desordem naquele distrito", referiu o porta-voz da polícia em Sofala.
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