
A Cáritas alerta que há mais pessoas a viver em situação de sem-abrigo e que a privação habitacional é um problema dramático que persiste em Portugal.
A conclusão é de um estudo divulgado esta terça-feira com base em vários indicadores estatísticos.
Defende que é "urgente um novo impulso na luta contra a pobreza e a exclusão em Portugal", face aos "ténues progressos" nos últimos anos, alertando para a inevitável inversão do ciclo económico face aos riscos geopolíticos.
Segundo a Cáritas, em 2023 havia 13 mil pessoas a viver em situação de sem-abrigo, mais do dobro em comparação com 2018.
"Estas situações-limite exigem intervenções multidisciplinares, que vão além da falta de habitação."
Mas o acesso à habitação continua a ser também uma grande preocupação.
Aumento dramático da privação habitacional
"O acesso a uma habitação adequada tem-se revelado cada vez mais desafiante. Esta é uma das razões que sustenta a permanência muito maior dos jovens em casa dos pais em Portugal, em comparação com os restantes países europeus", aponta a Cáritas.
Em 2023, quase 5% da população vivia em sobrecarga das despesas de habitação. Em simultâneo, aumentou para 12,9% a taxa de sobrelotação de habitação.
Também a taxa de privação severa das condições de habitação aumentou, para 6%, depois de ter estado nos 4,1% em 2019. Este indicador inclui situações de falta de casa de banho ou sanita com autoclismo, teto que deixa passar água ou humidade nas paredes.
A Cáritas alerta que são as crianças e as famílias com rendimentos mais baixos que "registam maior privação severa das condições de habitação" e lembra como, no caso das crianças, isso impede que haja igualdade de oportunidades e influencia "toda a sua vida futura".
O mesmo estudo alerta ainda para o aumento dos pedidos de ajuda dos imigrantes, muitos deles que permanecem fora das estatísticas oficiais.
Mais pedidos de ajuda de imigrantes
Para a Cáritas, há duas estatísticas que importa ter em conta no caso das pessoas imigrantes: o número de estrangeiros com estatuto legal de residente e o número de estrangeiros por conta de outrem inscritos na Segurança Social.
Refere, por um lado, que "os trabalhadores estrangeiros têm sido fundamentais para sustentar o aumento de emprego em Portugal nos últimos anos", mas salienta, por outro, que a rapidez com que isso tem acontecido "tem levantado desafios de integração a todas as estruturas da sociedade".
Segundo a Cáritas, os dados estatísticos disponíveis demonstram que "os imigrantes têm, em média, uma maior vulnerabilidade à pobreza e exclusão social" e que na zona Euro a taxa de privação severa dos nacionais de cada país situava-se em 5,3%, o que compara com 12,8% nos indivíduos com cidadania estrangeira.
"Em contraste, em Portugal, as estatísticas oficiais sugerem que a taxa de privação material e social severa era idêntica entre os nacionais e estrangeiros (4,9%)", mas defende uma leitura mais atenta deste "resultado surpreendente", já que a população estrangeira inquirida "não abarca a realidade completa dos imigrantes a viver em Portugal".
Com Lusa