Pelo menos 20 civis foram mortos e enterrados em valas comuns após serem detidos por militares no centro do Mali, afirmaram fontes locais e a Federação Internacional dos Direitos Humanos (FIDH), noticia hoje a AFP.

Na segunda-feira, "22 pessoas foram detidas pelas Forças Armadas do Mali em Diafarabé, onde se realizava o mercado semanal. O exército obrigou-as a atravessar o rio Níger para os levar até perto do cemitério da aldeia de Mamba, mesmo em frente, e matá-los", afirmou hoje um eleito local à agência francesa de notícias, a France-Presse (AFP).

"Eles cavaram uma vala comum e degolaram-nos a todos para os colocar lá. Apenas uma pessoa escapou a este destino. Foi ela que informou a aldeia de que tinham matado toda a gente", indicou outra fonte local à AFP.

A FIDH "condena as execuções sumárias de pelo menos 20 civis pelas Forças Armadas do Mali", escreveu a Organização Não Governamental (ONG) num comunicado publicado na sexta-feira, no qual refere que dos cerca de trinta homens detidos na localidade, alguns foram libertados.

"Outros 25 foram levados a bordo de pirogas. Os seus corpos decapitados e enterrados em duas valas comuns foram descobertos pelos seus familiares no dia 15 de maio", continua a FIDH.

Segundo vários testemunhos, os homens detidos eram membros da comunidade peul, regularmente alvo de generalizações que a associam aos jihadistas que têm aterrorizado o país nos últimos anos.

O exército afirmou levar "muito a sério" estas acusações e prometeu uma "investigação da polícia para infirmar ou confirmar as alegações", segundo um comunicado do Estado-Maior das Forças Armadas publicado na sexta-feira.

Cerca de cem pessoas manifestaram-se nas ruas de Diafarabé na terça e na quarta-feira para exigir saber o paradeiro dos cerca de trinta homens raptados pelos militares.

O exército maliano e o seu principal aliado, o grupo paramilitar russo Wagner, encarregados nomeadamente de perseguir os jihadistas cuja violência aterroriza o país, são regularmente acusados de cometer abusos contra civis.

Há três semanas, foram encontrados corpos nas proximidades de um campo militar maliano no oeste do país, poucos dias após a detenção pelo exército e paramilitares do grupo russo Wagner de dezenas de civis, na sua maioria pertencentes à comunidade peul.

Em fevereiro, cerca de 20 civis foram mortos no norte do Mali quando os seus veículos foram alvejados pelo exército e por mercenários, segundo fontes locais.

Depois de tomarem o poder em golpes de Estado em 2020 e 2021 no Mali, os militares romperam a aliança com a antiga potência colonial francesa e voltaram-se para a Rússia.

Desde 2012, o Mali é assolado por grupos jihadistas afiliados à Al-Qaeda e ao Estado Islâmico (EI) e pela violência de grupos comunitários e criminosos.