"Não vou ser candidato à Presidência da República, não vou apresentar nenhuma candidatura à Presidência da República, não está no meu horizonte que isso aconteça" – foi assim, de forma taxativa, que Mário Centeno afastou esta quarta-feira à noite uma candidatura à sucessão de Marcelo Rebelo de Sousa. Em entrevista à RTP, o governador do Banco de Portugal disse que a decisão está "amadurecida" e foi comunicada a várias pessoas para que não fiquem à sua espera, sem dizer claramente, mas ficando implícito, que já a tinha transmitido ao líder do PS, Pedro Nuno Santos.

"É uma decisão pessoal, que é tomada dentro do meu circulo pessoal, da minha família", afirmou Centeno, até agora o nome do campo socialista mais bem colocado nas sondagens. A decisão, explicou, também foi tomada em função daquilo que quer fazer, nomeadamente cumprir até ao fim o mandato de governador do Banco de Portugal e fazer tudo o que está ao seu alcance para ser reconduzido.

"As funções que desempenho neste momento são muito importantes para mim", sinalizou o governador, lembrando que, além do mandato à frente do Banco de Portugal, tem "vários cargos a nível europeu". E quando questionado sobre se esta decisão será para manter mesmo depois de terminado o mandato e caso não seja reconduzido, respondeu: "A minha função é ser governador. É aí que estamos e é ai que quero que fiquemos".

Já na parte inicial da entrevista, o governador tinha manifestado vontade de ser reconduzido, tal como, aliás, tinha dito no verão, no podcast Bloco Central. "O meu foco é esse", garantiu Centeno, reconhecendo que a sua expectativa é "irrelevante" e colocando a decisão no seu desempenho: "Estou a desempenhar as minhas funções com esse objetivo e com esse fim".

"Nunca desempenhei as minhas funções para passar com 10", afirmou o governador, que tem tido alguns embates com o atual governo, seja pelas diferenças nas previsões, seja mais recentemente com a polémica por causa do ordenado de Hélder Rosalino, que Luís Montenegro queria nomear como secretário-geral do Governo, mas com o vencimento a continuar a ser pago pelo Banco de Portugal.

A entrevista começou, precisamente, por essa polémica, com Centeno a garantir que o Banco de Portugal não podia fazer o que o Governo queria. "Se houve precedentes, estão fora da lei", afirmou, considerando que "este não é sequer um caso" e garantindo que "não há nada no Banco de Portugal que não seja totalmente claro".

Ao longo da entrevista, Centeno tentou esbater a ideia de divergências com o Governo. "Estamos todos a remar para o mesmo lado" com diferentes funções, sendo a do Banco de Portugal de "aconselhamento": "O Banco de Portugal é um dos pilares da análise económica do país."

Defendendo que não se pode "governar com base em perceções" e que "as questões económicas e financeiras serão sempre uma parte constitutiva do nosso dia a dia", Centeno reconheceu que não é possível "ter conhecimento sólido em todas as matérias", mas entende que é expectável "que as lideranças dos países tenham consciência dos riscos, das soluções e do caminho a seguir".

Quanto a sondagens, que o têm dado como o melhor nome no campo socialista, entende que são sinal da "projeção na sociedade portuguesa" da sua intervenção como ministro e como governador. "Provavelmente isso reflete-se na avaliação. Fico satisfeito que haja uma avaliação com eco do que tem sido o desempenho das minhas funções, mas é só isso", afirmou, antes de anunciar a sua decisão amadurecida sobre as presidenciais de 2026.