
O cardeal Giovanni Battista Re pediu esta quarta-feira aos cardeais eleitores do Conclave Cardinalício que escolham o Papa de que “a Igreja e a humanidade precisam” num “momento tão difícil e complexo”.
“Estamos aqui para invocar a ajuda do Espírito Santo, para implorar a sua luz e a sua força, a fim de que seja eleito o Papa que a Igreja e a humanidade precisam neste momento tão difícil e complexo da história”, afirmou o decano dos cardeais na basílica de São Pedro, na homilia da missa ‘pro eligendo Romano Pontifice’, a última eucaristia pública antes de os eleitores recolherem à Capela Sistina e à casa de Santa Marta, onde passarão a residir.
Ao final do dia, os cardeais eleitores, entre os quais não se inclui Re (91 anos), reunidos na Capela Sistina, farão a primeira votação e caso nenhum candidato obtenha dois terços, irá sair fumo negro da chaminé.
Para o decano dos cardeais, entre as tarefas do futuro líder católico, “conta-se a de fazer crescer a comunhão de todos os cristãos com Cristo, comunhão dos bispos com o Papa e comunhão dos bispos entre si”.
Num momento em que a Igreja está dividida numa clivagem entre progressistas e conservadores, Re considera que “é forte o apelo à manutenção da unidade da Igreja, segundo o caminho indicado por Cristo aos apóstolos”.
Contudo, essa unidade “não significa uniformidade, mas comunhão sólida e profunda na diversidade, desde que se permaneça plenamente fiel” à doutrina.
Re salientou que os “cardeais eleitores se preparam para um ato de máxima responsabilidade humana e eclesial e para uma escolha de excecional importância”, um “ato humano pelo qual se deve deixar de lado qualquer consideração pessoal, tendo na mente e no coração apenas o Deus de Jesus Cristo e o bem da Igreja e da humanidade”.
Para o decano, “o amor que Jesus revela não conhece limites e deve caracterizar os pensamentos e as ações de todos os seus discípulos, que devem sempre demonstrar amor autêntico no seu comportamento e empenhar-se na construção de uma nova civilização”.
“A eleição do novo Papa não é uma simples sucessão de pessoas”, avisou o cardeal, que pediu aos fiéis para rezarem para que seja escolhido alguém que siga a tradição dos “últimos cem anos”, que deu à Igreja “uma série de pontífices verdadeiramente santos e notáveis”.
“Oremos para que Deus conceda à Igreja o Papa que melhor saiba despertar as consciências de todos e as energias morais e espirituais na sociedade atual, caracterizada por um grande progresso tecnológico, mas que tende a esquecer Deus”, pediu ainda o decano, salientando que o “mundo de hoje espera muito da Igreja para a salvaguarda daqueles valores fundamentais, humanos e espirituais”.
Esta quarta-feira tem início o Conclave, que junta 133 eleitores de 70 países e, para conseguir uma vitória, o nome escolhido terá de obter 89 votos do colégio eleitoral.
Serão feitas, a partir de quinta-feira, quatro votações diárias, duas de manhã e duas de tarde. Ao final de cada conjunto de votações, os boletins serão queimados e serão adicionados químicos para garantir que o fumo seja negro, no caso de uma votação não conclusiva, ou branco, no caso de uma votação que eleja o 267.º líder da Igreja Católica.
As mudanças iniciadas por Francisco apontam que exista uma maioria de cardeais menos conservadores, mas há muitos analistas que apontam ao jesuíta argentino a falta de alterações concretas na prática da Igreja.
Os mais conservadores acusam Francisco de ter aberto a Igreja em demasia ao diálogo, colocando em causa os alicerces da instituição.
Ao longo do pontificado, o jesuíta argentino tentou promover a discussão interna, a partir das bases, sobre que mudanças executar na Igreja.
Temas polémicos como padres casados, o acesso das mulheres ao diaconado permanente, o regressos dos divorciados, o tratamento a dar aos gays e a relação da Igreja com outras religiões são parte dessa discussão interna, que partiu de movimentos de leigos, denominada Processo Sinodal.
A acompanhar o Conclave vai estar o mundo mediático, com 2.500 jornalistas acreditados para estes dias no Vaticano, como é evidente os vários diretos televisivos na zona em redor da Praça de São Pedro.
Depois da eleição e do fumo branco, o novo Papa irá escolher o seu nome e será apresentado aos fiéis presentes na Praça de São Pedro.
Nessa ocasião, o Conclave termina e os cardeais deixam a Casa de Santa Marta. Só dias depois, como é tradição na Igreja Católica, é que o novo Papa irá presidir à sua missa de início de Pontificado.