"Uma parte desses combatentes, são esses que se encontram nas instalações da sede nacional e os outros não estando presentes são assim orientados, todos eles, para convocar esta conferência nacional, onde em conjunto poderão debruçar a vida interna e procurarmos a solução desta nossa organização", disse Saíde Fidel, porta-voz da reunião da comissão política da Renamo, realizada na quinta-feira, que decidiu pela realização desse encontro.

Em causa está a contestação à liderança de Ossufo Momade, que foi também candidato presidencial nas eleições gerais de 09 de outubro, ficando em terceiro lugar entre quatro candidatos. Nessa mesma votação, a Renamo ainda perdeu o histórico título de maior partido da oposição para o Podemos, passando de 60 para 28 assentos no parlamento moçambicano.

Mais de meia centena de antigos guerrilheiros da Renamo, agora terceira força parlamentar, estão acampados na sede do partido em Maputo, desde 15 de maio, para "forçar" a demissão de Momade, acusando-o de "má gestão", falta de pagamento de pensões e subsídios e falta do fundo de funcionamento da agremiação.

Depois de uma "profunda análise", a comissão política do partido quer que a Associação dos Combatentes da Luta pela Democracia (Acolde) da Renamo convoque a sua conferência nacional, considerando este o "caminho para o diálogo".

"O caminho para se resolver esse problema reside no diálogo. O diálogo está previsto na realização desta conferência", declarou o deputado Saíde Fidel.

Por sua vez, os antigos guerrilheiros do partido acampados na sede afirmaram hoje que a associação "nunca convocou uma conferência nacional", prometendo, entretanto, pronunciar-se "com detalhes" sobre o assunto posteriormente, após uma reunião do grupo.

"A associação existe, mas aquela associação é para projetos e não para assuntos decisivos da Renamo (...). Também estranhei quando ele disse para se convocar a conferência, desde quando? Quase há 10 anos que não se realiza uma conferência dos desmobilizados", disse à comunicação social João Machava, antigo guerrilheiro da Renamo e membro do partido desde 1989, em representação do grupo.

Os antigos guerrilheiros da Renamo ameaçaram ocupar também o gabinete de Ossufo Momade e a sua residência, caso o líder não se pronuncie, referindo que a cada dia que passa chegam mais desmobilizados à sede nacional do partido.

"Nós somos autónomos desde que nos instalamos aqui... ninguém manda em nós, nós em que mandamos (...) se ele não sai [da liderança], daqui não saímos (...). O silêncio dele nos motiva, não nos preocupa", declarou Machava.

A direção da Renamo apelou, no sábado, ao respeito pelos órgãos do partido, pedindo que as divergências, que estão a levar antigos guerrilheiros a tomar instalações em todo país, sejam resolvidas internamente.

"Apelar à ponderação e respeito aos órgãos do partido, independentemente das nossas divergências", disse, em conferência de imprensa, em Maputo, o porta-voz da Renamo, Marcial Macome, pedindo "respeito mutuo" interno para salvaguardar o interesse dos moçambicanos.

Um pouco por todo o país, nos últimos meses, os ex-guerrilheiros têm estado a encerrar as delegações provinciais da formação política em protesto contra a liderança de Momade.

Ossufo Momade, cuja liderança já tinha sido questionada, assumiu a presidência da Renamo em janeiro de 2019, após a morte do líder histórico e fundador do partido Afonso Dhlakama (1953--2018), e foi reeleito para o cargo em maio de 2024, num processo fortemente contestado internamente.

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