O presidente do PSD dirigiu-se hoje aos eleitores do Chega nas últimas eleições, dizendo-lhes que é igual esse partido ter um ou 50 deputados, enquanto André Ventura procurou colar sociais-democratas e PS ao sistema de tachos.

Luís Montenegro e André Ventura travaram hoje, na SIC, um debate intenso, moderado pela jornalista Clara de Sousa, que durou quase 40 minutos, mais dez do que estava previsto.

Ao contrário do que esperavam alguns observadores políticos, não se falou sobre a empresa familiar de Luís Montenegro, a Spinumviva, nem sobre a rejeição da moção de confiança apresentada pelo Governo que conduziu à realização de eleições legislativas antecipadas.

O debate foi antes dominado pelas questões salariais de vários setores profissionais, pela situação da saúde, pelas diferentes projeções inerentes aos cenários macroeconómicos da AD e do Chega, e por questões como a eliminação de portagens, o combate à corrupção ou a regulação da imigração.

O primeiro-ministro e líder da AD -- coligação PSD/CDS falou para os cidadãos que nas últimas eleições legislativas, em 2024, votaram no Chega, procurando passar-lhes a mensagem de que se tratou de um voto inútil.

"O André Ventura tem que dizer ao país porque é que tanto faz ter um deputado como 50 na sua bancada, porque o seu trabalho é sempre o mesmo, a sua opinião é sempre a mesma. A sua utilidade é a mesma quer tenha uma representação de um deputado ou de 50", declarou Luís Montenegro num dos ataques que fez a André Ventura.

Depois, Luís Montenegro falou para "as pessoas que votaram no Chega e que hoje podem encontrar um caminho de esperança votando na AD".

"É votando na AD que vão ver resolvidos muitos daqueles foram os fundamentos para terem votado no Chega há um ano atrás", sustentou.

André Ventura respondeu logo a seguir, começando por dizer que o Governo PSD/CDS "permitiu o mesmo que o PS tinha permitido", havendo cidadãos, como, por exemplo, o governador do Banco de Portugal, Mário Centeno, que tem um vencimento "de 19.500 euros por mês".

"Diz que um ou 50 deputados do Chega é a mesma coisa. Bom, o que os portugueses começam a achar é que votar no PSD ou votar no PS é a mesma coisa, porque quando chegam ao fim do dia têm as mesmas soluções, a mesma falta de saúde, a mesma falta de justiça. Pior, ainda, têm mais tachos a distribuir pelo país todo", reagiu André Ventura.

Nesta parte do debate, Luís Montenegro observou que André Ventura levara para aquele debate televisivo uma gravata cor-de-rosa - e a partir daí procurou fazer uma associação entre o Chega e o PS em termos de cumplicidade política ao longo do último ano parlamentar.

"André Ventura fez o favor de votar iniciativas do PS à procura da instabilidade. Votou com o PS o fim das portagens e a impossibilidade de se criar a Unidade de Estrangeiros e Fronteiras na PSP para a regulação da imigração. O André Ventura fê-lo a troco de nada, fez um favor ao PS", criticou.

A seguir, reforçou o apelo aos cidadãos que votaram no partido de André Ventura nas últimas eleições.

"É por isso que os eleitores que há um ano atrás confiaram no André Ventura, insatisfeitos que estavam legitimamente com a situação que se vivia então no país, hoje depararam-se com esta circunstância", referiu.

Já André Ventura negou que o seu partido se alie ou com o PS ou com a Iniciativa Liberal, assumiu que votou ao lado dos socialistas o fim das portagens nas autoestradas e disse que as portagens apenas servem para alimentar "uma classe política parasitária".

Outro ponto de aberta divergência entre os líderes da AD e do Chega foi em torno do cenário macroeconómico, com Luís Montenegro a avaliar em 40 mil milhões de euros o impacto orçamental do programa de André Ventura caso fosse aplicado.

André Ventura rejeitou a crítica, advogando que o seu programa está mais próximo das previsões do Conselho de Finanças Públicas, e devolveu que o programa da AD é que se caracteriza pelo irrealismo, designadamente quando prevê um crescimento das exportações de 4,4% na atual conjuntura económica mundial de incerteza.

"Onde está então o adulto na sala?", perguntou o presidente do Chega.