O oceano cobre mais de dois terços da Terra, fornece metade do oxigénio que respiramos e alimenta milhões de pessoas em todo o mundo. Mas está sob ameaça crescente. A terceira Conferência das Nações Unidas sobre o Oceano quer alcançar um acordo global que proteja o oceano de forma sustentável.

Entre os principais perigos enfrentados pelos oceanos estão a poluição (incluindo os plásticos), a sobrepesca, a perda de biodiversidade e o aumento da temperatura da água, fatores agravados pela ação humana e pelas alterações climáticas.

A terceira Conferência da ONU sobre o Oceano (UNOC3) realiza-se entre 9 e 13 de junho, em Nice, França, numa organização conjunta entre a ONU e a Costa Rica. A ONU considera este encontro “um momento crucial” para acelerar medidas de proteção do sistema oceânico, cada vez mais ameaçado.

O objetivo da conferência é ambicioso: alcançar um acordo global para o oceano, comparável ao Acordo de Paris para o clima, adotado em 2015. A UNOC3 insere-se no esforço global para cumprir o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 14, que visa conservar e usar de forma sustentável os oceanos, os mares e os recursos marinhos.

Números que impressionam

  • O oceano cobre 71% da superfície do planeta, contém 97% da água existente e representa 99% do espaço habitável da Terra.
  • Segundo o Registo Mundial de Espécies Marinhas, estão documentadas cerca de 250 mil espécies, mas os cientistas acreditam que existam entre um a dois milhões de espécies ainda por descrever.
  • O oceano fornece recursos essenciais como alimentos, medicamentos e biocombustíveis.
  • É responsável por 50% do oxigénio que respiramos.
  • Atua como sumidouro de carbono, absorvendo 30% das emissões de dióxido de carbono e 90% do calor gerado por essas emissões.
  • Fornece 15% das proteínas animais consumidas a nível global; em muitos países menos desenvolvidos, é a principal fonte de proteínas para mais de metade da população.
  • Mais de 150 milhões de empregos dependem da economia azul: pesca, aquicultura, transporte marítimo, turismo costeiro, energia eólica offshore, biotecnologia marinha, entre outros.
  • 492 milhões de pessoas, quase metade mulheres, dependem da pesca artesanal como fonte de rendimento.
  • Habitats como os mangais são ecossistemas-chave no armazenamento de carbono.

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Ameaças crescentes ao oceano

Os cientistas alertam que o oceano atravessa uma crise sem precedentes. Está a ser afetado por vários fatores que colocam em risco os ecossistemas marinhos:

  • Aquecimento das águas: em abril de 2024, a temperatura da superfície do mar bateu recordes pelo 13.º mês consecutivo.
  • O aumento da temperatura ameaça os recifes de coral, fundamentais para a sobrevivência de cerca de 25% das espécies marinhas.
  • A acidificação, a eutrofização (excesso de nutrientes), a poluição e a destruição de habitats estão a provocar o declínio da biodiversidade.
  • A sobrepesca está a esgotar os recursos: a sustentabilidade das populações de peixe desceu de 90% em 1974 para 62,3% em 2021.
  • Todos os anos, entre cinco e 12 milhões de toneladas de plástico entram no oceano. Este número pode duplicar ou triplicar até 2040.
  • Estima-se que 60% dos ecossistemas marinhos estejam degradados ou a ser explorados de forma insustentável.
  • Mais de 50% das espécies marinhas poderão estar em risco de extinção até 2100, se não forem tomadas medidas urgentes.

Apelo à ação urgente na proteção dos mares

A UNOC3 é vista como uma oportunidade única para reforçar o compromisso político global com a proteção dos oceanos.

Tal como o Acordo de Paris marcou um antes e depois na ação climática, os organizadores esperam que desta conferência saia um plano concreto, com financiamento, monitorização e ações coordenadas entre países, com especial atenção aos países em desenvolvimento e às comunidades costeiras mais vulneráveis.