O líder político do Hamas, Ismail Haniyeh, foi morto na madrugada de 31 de julho num ataque em Teerão atribuído a Israel. Rosto da diplomacia palestiniana, era no entanto considerado por muitos como um moderado em comparação com os membros da linha mais dura do grupo islâmico radical que governa a Faixa de Gaza desde 2006 e que é apoiado pelo Irão.
Ismail Haniyeh surgiu aos olhos do mundo quando se tornou primeiro-ministro da Autoridade Palestiniana na sequência da vitória surpreendente do seu movimento Hamas nas eleições de 2006.
Defensor da conciliação da luta armada e do combate político no seio do grupo, manteve sempre boas relações com os líderes dos vários movimentos palestinianos.
Formou um governo de unidade com a Fatah, de Yasser Arafat, na altura dirigida por Mahmud Abbas. As divergências entre as duas formações ditaram o fim da coligação, a expulsão da Fatah de Gaza e a tomada do poder no enclave pelo Hamas desde 2006.
Haniyeh, de 62 anos, vivia no exílio voluntário entre o Qatar, a Turquia e, soube-se agora, em Teerão onde tinha uma residência.
A Universidade Islâmica e o Hamas
Ismail Haniyeh nasceu em 1962 no seio de uma família de refugiados de Ashkelon (Asqalan em árabe), poucos quilómetros a norte de Gaza. Estudou na Universidade Islâmica de Gaza, onde se envolveu pela primeira vez com o Hamas, e licenciou-se em literatura árabe em 1987. Iniciou as suas atividades militantes no seio do ramo estudantil da Irmandade Muçulmana na Universidade Islâmica, tendo participado em associações de estudantes em 1983 e 1984.
Três anos depois, juntou-se à criação do Hamas, altura em que foi desencadeada a primeira Intifada, revolta palestiniana contra Israel que durou até 1993. Durante este período, Ismail Haniyeh foi várias vezes preso por Israel e expulso durante seis meses para o sul do Líbano.
Em 2007, depois de assumir o comando de um governo de unidade comprometeu-se a trabalhar para a criação de um Estado palestiniano "na Cisjordânia e na Faixa de Gaza, com Jerusalém como capital", indo no sentido contrário do discurso oficial do Hamas que não reconhece essas fronteiras.
Governo palestiniano de unidade e curta duração
Mas foi sob a liderança de Ismail Haniyeh que quase explodiu uma guerra civil. O governo de unidade com a Fatah de Mahmoud Abbas, durou pouco tempo, o Hamas expulsou a Fatah da Faixa de Gaza em 2007, dois anos após a retirada unilateral de Israel do território.
O movimento islâmico radical tomou o poder na Faixa de Gaza à custa de confrontos mortais que ainda hoje deixou feridas abertas entre os dois rivais.
Haniyeh foi eleito líder do gabinete político do Hamas em 2017 para suceder a Khaled Mashaal, exilado no Qatar.
Ataque de 7 de outubro e morte dos filhos
Imagens divulgadas pelos meios de comunicação do Hamas logo após o início do sangrento ataque a Israel, Haniyeh foi visto a conversar alegremente com outros líderes do Hamas no seu escritório em Doha, assistindo à reportagem da televisão árabe que mostra os ataques dos comandos do Hamas.
Três dos filhos de Haniyeh – Hazem, Amir e Mohammad – foram mortos a 10 de abril, quando um ataque aéreo israelita atingiu o carro que conduziam. Haniyeh perdeu também quatro dos netos, três raparigas e um rapaz, no ataque, segundo o Hamas.
Passados mais de de nove meses de guerra, há zonas de Gaza em ruínas, milhares de deslocados. Haniyeh insistiu repetidamente que o grupo só libertaria os reféns israelitas com um cessar-fogo definitivo.
Em maio, o procurador-chefe do Tribunal Penal Internacional solicitou mandados de detenção para três dirigentes do Hamas, incluindo Haniyeh, bem como para o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, por alegados crimes de guerra. Tantos os líderes israelitas como palestinianos rejeitaram as acusações.