"Vocês não estão a viver um momento fácil", disse Rodrigo Teixeira, perante um auditório esgotado no Museu da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, num evento da Semana dos Óscares. "Espero que este filme vos ajude", acrescentou.

Teixeira fez a ligação entre o retrato de uma família dividida pela ditadura militar no Brasil dos anos 70 e o ambiente atual, frisando a ressonância emocional que "Ainda Estou Aqui" está a ter nos Estados Unidos. 

"Nós também somos americanos, do sul", lembrou o produtor, falando do impacto que o desaparecimento do ex-deputado Rubens Paiva teve na família.

"Quando alguém da família desaparece não é sobre política, é sobre tragédia", referiu Teixeira. "Esse é o erro da política, separa famílias. Temos de nos unir contra isso", defendeu.

O produtor mostrou-se feliz pelo reconhecimento de Fernanda Torres, nomeada para Melhor Atriz pela interpretação de "uma mulher poderosa" que permitiu à família sobreviver durante todos estes anos.

"Vocês estão a conhecê-la agora. Nós conhecemo-la desde sempre", afirmou. 

O evento no Museu da Academia colocou em destaque os produtores dos 10 nomeados a Melhor Filme, incluindo o favorito, "Anora". 

Alex Coco e Samantha Quan explicaram como conseguiram filmar uma história que envolve personagens muito ricas com um orçamento de seis milhões de dólares (5,78 milhões de euros). 

"Tínhamos de conseguir pagar grandes suítes de hotéis e roupas de designer. Pedimos favores, implorámos e pedimos emprestado", disse Quan, que é casada com Sean Baker, realizador de "Anora".

"Não comprometemos as coisas que queríamos filmar e fizemos questão que os atores e a equipa tivessem tempo suficiente para marinar nesta história", garantiu. 

A aposta no filme independente deu frutos, vencendo Melhor Filme nos Prémios da Associação de Críticos, da Associação de Produtores, do Sindicato dos Realizadores e Film Spirit Independent.

Mas "Conclave" também é falado como potencial vencedor do Óscar de Melhor Filme, sendo um dos mais cotados entre os membros da Academia.

Um dos produtores, Michael A. Jackman, falou do desafio de construir uma réplica do Vaticano e da Capela Sistina e da solução que foi encontrada. 

"Não conseguíamos encontrar um local porque as salas e corredores tinham de ser altos o suficiente", explicou. Acabaram por só ter espaço para um quarto, por isso foi preciso criar um sistema modular que mudava conforme as cenas.

Jackman também revelou que a maioria dos cardinais não eram atores mas sim "cidadãos seniores italianos".

A produtora Juliette Howell, que concebeu o projeto com Tessa Ross, disse que o momento mais intenso foi o discurso da Irmã Agnes (Isabella Rossellini) na cantina do Vaticano.

"Dava para ouvir um alfinete a cair", revelou. 

Também presente esteve a realizadora, argumentista, produtora e editora de "A Substância", Coralie Fargeat, que explicou porque é que decidiu manter o controlo criativo total sobre o filme protagonizado por Demi Moore. 

"Quanto mais controlo tenho, melhor o meu desempenho", afirmou a cineasta francesa. "Sabia que o filme ia ser desafiante", acrescentou. 

Fargeat tinha a ideia de cruzar feminismo e horror numa mescla de géneros que ia ser difícil de financiar. "O feminismo não vende", gracejou.

Mas depois de escrever durante um ano e meio e conseguir uma parceria com a Working Title, que fez a ponte entre a Europa e os Estados Unidos, Fargeat obteve os meios necessários para realizar a sua visão original. 

"A resposta a este filme tem sido uma alegria", admitiu. "Tivemos um processo de pós-produção muito difícil, não havia muita gente a gostar do filme nesse ponto", referiu

Os Óscares serão entregues em 02 de março, no Dolby Theatre em Hollywood, com transmissão em direto a cargo do canal ABC.

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