Putin e alguns representantes da elite russa estão a ficar cada vez mais preocupados com a situação económica da Rússia, quase três anos depois do início da guerra na Ucrânia. A informação é avançada pela Reuters, que conversou com cinco fontes próximas daquele círculo de Moscovo.
As exportações de petróleo, gás e minerais já não são tábua de salvação suficiente. A escassez de mão-de-obra e as elevadas taxas de juro introduzidas para combater a inflação, acelerada num contexto de despesas militares sem precedentes, estão a asfixiar as perspetivas económicas. Por esse motivo, um setor da elite russa defende agora que uma solução negociada para a guerra é desejável, adiantaram à referida agência duas fontes próximas do Kremlin.
Donald Trump reconheceu esta semana que poderá aumentar as sanções e as tarifas aplicadas sobre a Rússia, a não ser que o Presidente russo aceite negociar. O homólogo norte-americano disse também que a Federação Russa está a caminho de enfrentar “grandes problemas” na economia. Poucos dias antes da tomada de posse de Trump, os EUA, com o Presidente cessante Joe Biden, impuseram o mais amplo pacote de sanções até ao momento, visando as receitas de petróleo e gás. Segundo o conselheiro de segurança nacional Jake Sullivan, as novas sanções dariam vantagem a Trump em quaisquer negociações, ao aplicarem pressão económica sobre a Rússia.
Oleg Vyugin, ex-vice-presidente do Banco Central da Rússia, assumiu, em entrevista, que Moscovo está "economicamente interessada em negociar um fim diplomático para o conflito", dado o risco de distorções económicas crescentes. As cinco fontes que a Reuters consultou também destacam as fortes preocupações de Putin em relação à economia.
A frustração do Presidente russo ficou patente numa reunião do Kremlin com líderes empresariais na noite de 16 de dezembro, onde repreendeu altos responsáveis económicos, segundo duas das fontes ouvidas, com conhecimento das conversas sobre economia no Kremlin e no governo. Putin estava "visivelmente descontente" depois de ouvir que o investimento privado estava a ser cortado devido ao custo do crédito. Mais tarde, em declarações às televisões, admitiu que tinha discutido recentemente com os líderes empresariais os riscos de uma diminuição da actividade de crédito para o crescimento a longo prazo.
Alguns dos empresários mais poderosos da Rússia, entre os quais o CEO da Rosneft, Igor Sechin, o diretor executivo da Rostec, Sergei Chemezov, o magnata do alumínio Oleg Deripaska e Alexei Mordashov, o maior acionista da empresa siderúrgica Severstal, criticaram publicamente as elevadas taxas de juro.
Questionado sobre a investigação levada a cabo pela Reuters, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, reconheceu "fatores problemáticos" na economia, mas disse que esta estava a desenvolver-se a um ritmo elevado, sendo capaz de satisfazer "todos os requisitos militares" e todas as necessidades sociais e de bem-estar. “Existem problemas, mas infelizmente os problemas não largam quase todos os países do mundo”, declarou. “A situação é avaliada como estável, e existe uma margem de segurança."
Após a contração em 2022, o PIB da Rússia cresceu mais rapidamente do que o da União Europeia e dos Estados Unidos nos anos de 2023 e 2024. Em 2025, no entanto, a situação é outra. O banco central e o Fundo Monetário Internacional (FMI) prevêem um crescimento inferior a 1,5 % (o Governo russo projeta uma perspetiva ligeiramente mais otimista). Apesar de o banco central ter aumentado a taxa de juro de referência para 21% em outubro, a inflação atingiu os dois dígitos.