Quase metade da Europa registou temperaturas anuais recorde em 2024 e em 60% do continente houve mais dias do que a média com pelo menos "stress térmico forte" devido ao calor, destaca um relatório divulgado esta terça-feira.

O relatório conjunto do Serviço de Monitorização das Alterações Climáticas do programa da União Europeia de observação da Terra Copernicus (C3S) e da Organização Meteorológica Mundial (OMM) adianta que o número de dias com 'stress' térmico forte, muito forte e extremo foi "o segundo mais alto já registado".

Isto significou, em média, "quase um mês de, pelo menos, 'stress' térmico forte e cerca de 12 noites tropicais", indica um comunicado do Copernicus sobre o relatório Estado do Clima Europeu 2024.

Fala-se de 'stress' térmico quando a capacidade de o corpo humano regular a sua temperatura é dificultada pelas condições ambientais, demasiado quentes ou frias.

Estudo destaca incêndios em Portugal

O Copernicus já tinha informado que em 2024, o ano mais quente de que há registo, se ultrapassou pela primeira vez os 1,5°C (graus celsius) de aquecimento global acima do nível pré-industrial, o limite desejável previsto no Acordo de Paris para combater as alterações climáticas.

A temperatura da superfície do mar (TSM) na região europeia foi igualmente a mais elevada já registada, 0,7 °C acima da média, 1,2 °C no caso do Mediterrâneo, e o mesmo ocorreu nos lagos europeus.

A propósito das condições climáticas extremas, o estudo refere os incêndios florestais em Portugal, que em setembro de 2024 queimaram cerca de 110.000 hectares (1.100 quilómetros quadrados) numa semana, o que representa cerca de um quarto do total anual da área ardida da Europa.

"Estima-se que 42.000 pessoas tenham sido afetadas por incêndios florestais na Europa", refere o comunicado.

Ao mesmo tempo está a diminuir a zona da Europa com temperaturas abaixo de zero e, no ano passado, a área com menos de 90 dias de geada foi a maior de que há registo, enquanto os glaciares da Escandinávia tiveram a maior taxa de perda de massa anual.

Foi a "maior perda de massa de qualquer região glaciar do mundo", refere a informação divulgada pelo programa Copernicus.

Mais chuva e inundações

No relatório realça-se também o facto de a Europa Ocidental ter tido um dos dez anos mais chuvosos desde 1950 e do continente em geral ter sofrido mais inundações em 2024 do que o que ocorreu desde 2013.

Quase um terço da rede fluvial registou grandes cheias que ultrapassaram pelo menos o leito de inundação, tendo as tempestades e inundações causado no mínimo 335 mortes e afetado cerca de 413.000 pessoas.

Em setembro, centenas de milhares de pessoas, na Alemanha, Polónia, Áustria, Hungria, República Checa, Eslováquia, Roménia e Itália, sofreram as consequências da tempestade Boris, que provocou inundações, cortes maciços de eletricidade, perturbações nas redes de transportes e levou a retiradas em massa de residentes em algumas zonas.

No final do mês seguinte, chuvas torrenciais causaram inundações devastadoras e mortes na província espanhola de Valência e nas regiões vizinhas.

Europa é o continente com "aquecimento mais rápido"

Foram calculados em 18,2 mil milhões de euros os prejuízos causados o ano passado na Europa por fenómenos meteorológicos extremos (13,4 mil milhões em 2023), 85% dos quais atribuídos a inundações.

A secretária-geral da OMM, Celeste Saulo, diz que o relatório destaca que a Europa é o continente com um "aquecimento mais rápido" e que sofre consequências significativas das alterações climáticas.

"Uma fração adicional de um grau de aumento de temperatura é importante porque aumenta os riscos para as nossas vidas, para as economias e para o planeta. A adaptação é essencial. Por isso, a OMM e os seus parceiros estão a intensificar os esforços para reforçar os sistemas de alerta precoce e os serviços climáticos para ajudar os decisores e a sociedade em geral a serem mais resilientes. Estamos a progredir, mas precisamos de ir mais longe e mais depressa e precisamos de ir em conjunto", acrescenta, citada no comunicado.