O trabalho começa quando parece que o mundo acabou. No meio das cinzas e do que já foram vidas, em 146.649 hectares de área ardida desde o início do ano contam-se também infraestruturas básicas que se perderam e é preciso recuperar com urgência. É nisso que trabalham os "mais de 300 colaboradores mobilizados pela Altice, em coordenação com a Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC), as forças de segurança e as autoridades locais, destacados para implementar manobras de reposição de serviços" de telecomunicações afetados o mais rapidamente possível. Do lado da e-Redes, a quem cabe a gestão da rede elétrica, a capacidade de inspeção foi robustecida nos últimos anos e as inspeções levam não apenas helicópteros, mas também drones ao terreno, "sobrevoando mais de 20000 km anuais, com análise via fotografias satélite das áreas a intervencionar" e muita "inovação e automatização de processos com recursos a algoritmos de Inteligência Artificial" que inclusivamente mereceu distinção nos Portugal Digital Awards, Kaizen Awards, Prémio Nacional de Inovação e Digital With Purpose.

As zonas mais afetadas pelo fogo, que afetou sobretudo a região Norte e Centro e deixou neste ano oito mortos e 177 feridos, voltam rapidamente a ter movimento, entre as equipas das freguesias afetadas, sapadores florestais e Instituto de Conservação da Natureza e Florestas (ICNF), que entendem a urgência de recuperar os solos e estabilizar terreno para que não se perca ainda mais biodiversidade nem seja preciso lidar com novos episódios quando vierem as chuvas — há risco de aluimento de terras, de contaminação de cursos de água, de mais destruição. A reflorestação rápida é uma urgência. Mas a prioridade é repartida com as necessidades humanas de quem não perdeu a casa mas ficou isolado ou sem condições de habitabilidade.

"Após um incêndio é feito um levantamento dos danos e extensão da rede afetada para se poder delinear um plano de investimento necessário para a recuperação da mesma", explica ao SAPO fonte oficial da e-Redes. "Este levantamento é extensível à vegetação afetada pelo incêndio, dado que nomeadamente as árvores afetadas são propensas a apodrecer a curto prazo e criar situações de risco para a rede. Em caso de haver danos há que avaliar se a solução passa pela recuperação da infraestrutura existente ou se se torna oportuno desenvolver uma nova solução de rede que seja mais eficiente", descreve ainda a responsável pela gestão da rede elétrica do país.

"Os incêndios do último mês tiveram consequências devastadoras para o nosso país e para a vida das pessoas. Estes foram, e são, momentos que também geram enormes desafios às nossas equipas, que trabalham incansavelmente na procura da reposição de comunicações potencialmente afetadas, de forma a garantir o seu acesso a quem mais precisa", explica também a CEO da Altice, Ana Figueiredo. "Neste momento, o impacto nas nossas infraestruturas não é significativo, embora tenha existido uma afetação parcial de comunicações em algumas zonas de Portugal", concretiza ainda, reconhecendo que é urgente recuperar o que se perdeu e devolver às populações as condições para retomarem a sua vida o quanto antes.

"Além das equipas que estão na linha da frente, recorremos a meios alternativos para repor os serviços mais críticos, nomeadamente a disponibilização de duas Viaturas Operacionais de Intervenção Rápida para recuperação da rede móvel, a implementação de soluções por Feixe Hertziano, baldeamentos de fibra e a realização de atividades contínuas de otimização das antenas da rede móvel", detalha ainda Ana Figueiredo.

Na semana passada, o governo confirmou que a reconstrução e reabilitação das casas atingidas pelos fogos deste ano serão financiadas a 100%, até ao limite de 150 mil euros, sendo a ajuda de 85% nos casos em que o valor das obras exceda aquele limite, sempre no que respeita a habitação permanente, estando o levantamento dos danos a ser feito em 69 municípios e 291 freguesias e com o governo a prever ter por esta altura "90% dos levantamentos concluídos". Há ainda outros apoios previstos para quem teve perdas significativas, também a afetar negócios, como isenção de contribuições para a Segurança Social, ativação da ação social, um mecanismo diferenciado de lay-off simplificado para empresas e o adiamento do prazo no cumprimento de obrigações fiscais para pessoas singulares ou coletivas que não estejam em condições de as cumprir devido aos incêndios. Serão ainda abertas uma "linha de apoio à tesouraria", para empresas que "não têm nenhuma condição de faturar mas têm encargos para pagar no fim do mês", e uma outra para a reconstrução da capacidade produtiva, para recuperar fábricas, edifícios, máquinas e matérias-primas; e o governo prevê ainda apoios "até ao limite de seis mil euros" para ajudar os agricultores que tiveram perdas a recuperar armazéns, culturas, animais e maquinaria.

A recuperação de infraestruturas como a rede elétrica e de telecomunicações cabe a empresas como a Altice e a e-Redes, cujo trabalho não se esgota de todo na recuperação. "No âmbito do Sistema Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, a e-Redes tem o dever de constituir faixas de gestão de combustível junto às linhas elétricas de alta e média tensão, em locais estratégicos previamente definidos nos Planos Municipais de Defesa da Floresta Contra Incêndios, que permitem a proteção da rede elétrica quando um incêndio se desenvolve nas imediações da mesma estrutura", explica ao SAPO fonte oficial da empresa.

"O investimento realizado permite que a rede elétrica esteja protegida de danos irreversíveis, nomeadamente devido às altas temperaturas que se desenvolvem em situações de incêndio, garantindo que mesmo nestes cenários de catástrofe seja possível manter a capacidade de alimentação de serviços indispensáveis à resposta em crise, como hospitais, antenas de comunicação e bombagem de água." E esse investimento, sobretudo após Pedrógão Grande, aumentou consideravelmente, na proporção da necessidade de gerir as operações no terreno. "A e-Redes é a entidade privada que mais executa rede secundária de gestão de combustível, já ultrapassando os 15.000 hectares, e para isso tem desenvolvido soluções inovadoras que acompanham a sua atuação no terreno e que permitem uma maior e mais pormenorizada monitorização das redes elétricas e das suas infraestruturas", concretiza a mesma fonte.

Mas nem sempre a prevenção é suficiente. E nesses casos há que agir para recuperar perdas, conforme explica Ana Figueiredo. "Apesar de o impacto nas infraestruturas da Meo não ser significativo, registaram-se afetações parciais em algumas zonas do país, nomeadamente Castro Daire, Celorico de Basto, Braga, Baião, Porto, Nelas, Cinfães, Mangualde e Carregal do Sal, Viseu, Águeda, Albergaria e Sever do Vouga e Aveiro. Para superar os constrangimentos de comunicações, foram mobilizados mais de 300 colaboradores, técnicos e operacionais dedicados à implementação de manobras de reposição dos serviços afetados."

Desde o dia 16 de setembro, as equipas da Direção de Engenharia e Operações de Rede e da Geodesia acompanharam a evolução dos incêndios. "Perante o cenário de calamidade, no dia 17 foi ativada uma sala de crise para permanente monitorização e para assegurar uma gestão eficaz das necessidades e definição de prioridades. Além de estarem em contacto contínuo com as autoridades responsáveis, as equipas mantêm-se em articulação com o Oficial de Ligação da empresa, presente desde a primeira hora no Posto de Comando Diretor em Oliveira de Azeméis", descreve ainda a CEO da Altice. O apoio não se esgota na infraestrutura de comunicações, que a empresa assegura que não falha a quem mais precisa, nomeadamente nos momentos mais críticos. Passa também pela mobilização de colaboradores para coisas tão simples quanto necessárias e que fazem a diferença, como a entrega de alimentos às corporações de bombeiros.

O cenário não é muito diferente do que relata a e-Redes. "Em situações de potencial crise, ativamos logo aos primeiros sinais de alerta o POAC - Plano Operacional de Atuação em Crise, mobilizando equipas no terreno e nos 'Despachos', onde é feita a monitorização e gestão de toda a rede, 24 horas por dia. São realizadas inspeções no terreno às linhas onde se verificam disparos, antes destas serem religadas. E durante o estado de alerta, a e-Redes trabalha em permanente articulação e interação com as diferentes entidades de segurança e socorro para uma melhor e mais eficaz resposta às necessidades que se possam sentir e com o objetivo de garantir a alimentação de todos os clientes prioritários responsáveis pelos serviços de segurança ou saúde à comunidade e para os quais a interrupção do fornecimento de energia pode causar graves problemas."

De forma a mitigar os impactos dos incêndios na rede de distribuição, a gestora da rede elétrica tem vindo a "investir de forma muito significativa" na constituição da Rede Secundária de Faixa de Gestão de Combustível. "No período 2021-2024, desenvolvemos ações que, em média, representaram um investimento anual na ordem dos 20 milhões de euros, perspetivando-se que esta aposta poderá mesmo envolver um reforço a médio prazo decorrente do contínuo aumento das necessidades identificadas e dos custos unitários associados."